Movimento dos Focolares

Maria Voce: “Espaço, não revanche”

Jan 12, 2018

Entrevistada pelo famoso semanal católico italiano “Famiglia Cristiana”, Maria Voce, presidente dos Focolares, responde sobre os temas do papel da mulher e dos desafios atuais da Igreja.

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© Osservatore Romano

“As mulheres, o futuro da Igreja?” é o título do artigo-entrevista de Alberto Chiara, em página dupla, ilustrado por amplas fotos, na edição especial de fim de ano da revista publicada pela San Paolo. Mas no decorrer da entrevista o tema se alarga, passando do papel da mulher na Igreja aos desafios abertos pelo pontificado de Francisco para ir ao encontro dos pobres e dos marginalizados, até o empenho de diálogo com as novas gerações, ao qual em outubro será dedicado um Sínodo dos bispos, precedido por uma série de eventos pré-sinodais de grande relevo. As mulheres salvarão a Igreja? «Ela já foi salva por Jesus Cristo» responde sinteticamente Maria Voce. «Vale aquilo que fazem, juntos, os homens e as mulheres das várias comunidades». O jornalista pressiona, recordando as recentes nomeações do Papa Francisco, em dois Dicastérios chave – aquele para os leigos e aquele para a família e a vida – de duas mulheres, ambas casadas e com filhos, Linda Ghisoni e Gabriella Gambino (docente universitária e Juíza instrutora do Tribunal para as causas de nulidade de matrimônio no Lácio, a primeira; professora de Bioética e Filosofia do Direito na Universidade romana de Tor Vergata e de Ciências do Matrimônio e da Família no Pontifício Instituto Teológico João Paulo II, a segunda). «Tenho a impressão de que no Papa Francisco haja a intenção de afirmar uma relação autêntica, verdadeira, de complementariedade entre a mulher e o homem» rebate Maria Voce. «Naturalmente esta relação sempre existiu. No início “Deus criou o homem, homem e mulher”. Criou dois seres diferenciados os quais, juntos, constituem a humanidade». Depois de tanto machismo, é tempo de revanche para as mulheres? «O Papa Francisco quer que a mulher tenha, como o homem, a possibilidade de se manifestar dentro da Igreja, assumindo inclusive papéis de responsabilidade crescente, mas sem esmagar o homem, quando muito evidenciando os próprios dotes, aquela particular capacidade geradora e de maternidade. Portanto, nenhuma revanche, mesmo se as mulheres até aqui não tiveram espaço adequado. Na Igreja como na sociedade». Sobre o estado de saúde da Igreja nesta época, Maria Voce comenta: «Estou muito feliz por viver nesta época, com esta Igreja». «Não poderíamos ter momento melhor». E acrescenta: o traço característico que mais me convence é «a serenidade de fundo que marca a relação entre o Pontífice e o povo de Deus. Francisco é um Papa sempre generoso em acolher, pronto a abrir, atento a compreender as dificuldades da humanidade». Não esconde as dificuldades do momento, inclusive internas da Igreja, mas «cada tempo tem as suas dificuldades. Os nossos dias não fogem à regra. Muitas vezes penso no quanto deve sofrer o papa Bergoglio por não se sentir compreendido, bombardeado com julgamentos severos por palavras reportadas fora de contexto…». Devendo escolher primeiro uma, depois duas palavras que definam o atual pontífice, a presidente dos Focolares indica “caridade” e “verdade”, mas especifica: «Uma não exclui a outra. Bergoglio sabe que algumas coisas que ele diz ou que ele faz podem causar incômodo, podem não ser entendidas completamente por todos. Mas continua, movido por amor, para melhorar, corrigindo certas situações». Sobre os setores de predileção do atual Pontífice, Emmaus observa: «A atenção insistente do Papa para com os pobres, os doentes, os marginalizados, a sua capacidade de se inclinar sobre quem erra, não lhe faz esquecer outras categorias». Diante de uma Igreja cada vez mais aberta ao diálogo em paridade com todos, Maria Voce exprime um sonho: «Que o Papa promova um dia de oração em comum e convide os chefes das outras Igrejas, ortodoxos, anglicanos, luteranos, metodistas, batistas… para rezarem juntos uma vez por ano, durante a Semana de oração pela unidade dos cristãos ou em outro momento. Creio que se os fiéis vissem os seus chefes rezarem juntos habitualmente, descobririam possível a unidade na diversidade». A conclusão da entrevista é dedicada, com uma frase de efeito, aos jovens, aos quais a Igreja pretende se dedicar este ano com atenção especial: «Nós, adultos, deveríamos ouvi-los».

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