Movimento dos Focolares

Nova Zelândia: quando as culturas se encontram

Fev 14, 2019

Esther é uma Maori e Tom tem origens irlandesas e escocesas. Uma história, a deles, que derruba o princípio da incomunicabilidade entre culturas muito diferentes.

Esther é Maori e Tom tem origens irlandesas e escocesas. Uma história, a deles, que derruba o princípio da incomunicabilidade entre culturas muito diferentes. Filho de mãe irlandesa e de pai escocês, Tom tem 26 anos quando chega na Nova Zelândia, um arquipélago onde o povo Maori foi o primeiro a aportar, seguido de numerosas migrações, a ponto de torná-lo um país multicultural. Chegou ali com um dos voos low-cost que os governos britânico e neozelandês ofereciam a jovens dispostos a se deter por pelo menos dois anos nas terras de além-mar. Esther, ao invés, é Maori. É a mais velha de 13 irmãos. Os dois se conheceram na discoteca e foi amor à primeira vista. “Nunca notei que vínhamos de duas culturas diferentes”, começa Tom, “E eu realmente nem liguei por ele ser branco”, replica ela. “Quando eu a vi simplesmente me apaixonei”, conclui ele. As complicações chegaram depois, quando anunciaram às respectivas famílias que queriam se casar. A mãe dele lhe lembra que não poderá levá-la à Inglaterra porque não é branca e também a avó de Esther não estava de jeito nenhum convencida de Tom. Já tinha escolhido um homem para ela, como tinha feito antes para a sua filha, a mãe de Esther: as tradições na comunidade Maori são fortes e difíceis de transgredir. Todavia, depois do choque inicial, os pais de Tom aprendem a querer bem à nora Maori e também ele é acolhido pela numerosa família de Esther. De comum acordo, os filhos são batizados e educados na Igreja Católica da qual Esther faz parte e na qual Tom sente o desejo de se inserir. O primeiro contato com os Focolares acontece em 1982 através do padre Durning, o catequista de Tom, um sacerdote escocês, missionário junto à comunidade Maori. Convidados a passar um fim-de semana com as focolarinas, Esther e Tom partem com os filhos e não pouca apreensão. “Eu me esforçava em ler a Bíblia – lembra Tom –, mas não extraía benefício disto. Fiquei impressionado, antes de tudo, por uma frase que uma delas disse: “Procure reconhecer a presença de Jesus em quem passa ao seu lado”. Eu lhe respondi que se ela tivesse conhecido o meu local de trabalho, as ferrovias, concordaria comigo que não era possível. Era um ambiente difícil, mas ela insistiu. Experimentei e a minha fé retomou força e encontrei o que procurava: a possibilidade de fazê-la se tornar vida”. Na primeira Mariápolis[1] deles, Esther e Tom se acham ouvindo pessoas que compartilham experiências e ocorrências pessoais “lidas” à luz do Evangelho e ficam impressionados com isto. “A nossa, porém, não era uma história simples de ser contada – explica ainda Esther –, porque Tom tinha começado a beber, um hábito adquirido no trabalho”. “Uma noite, enquanto eu estava para pegar uma cerveja – continua Tom – Esther me perguntou o que eu estava para fazer. Entendi que não podia continuar a viver assim; tinha uma mulher e quatro filhos. O alcoolismo estava destruindo a nossa família, assim decidi parar”. Mas a vida de uma família como a deles nunca era monótona e acontecia que, superado um desafio, se apresentava logo outro. Acontece assim que, em seguida a um acidente, Tom é obrigado a deixar o trabalho e, portanto, decidem trocar os papéis: “Esther ia trabalhar e eu ficava em casa cuidando das crianças”, conta Tom. “Tive que aprender a fazer muitas coisas e também a difícil ‘arte’ de amar a casa própria. Para os amigos a nossa era uma escolha totalmente contracorrente e não podemos dizer que tenha sempre corrido tudo liso, mas embora entre altos e baixos, sempre nos encontramos unidos. Inclusive quando temos pontos de vista diferentes, ou quando me emperro numa ideia, me lembro que Chiara Lubich nos ensinou a ser sempre os primeiros a amar, a pedir desculpa e a não perder a coragem de amar”. “Faz 46 anos que a espiritualidade da unidade se tornou o nosso estilo de vida quotidiano” – conclui Esther. “Entendi que Deus nos tinha dado uma vida bela, mostrado uma meta alta e doado a fidelidade para alcançá-la; cabe a nós, agora, ir em frente”.

Gustavo E. Clariá

  [1] O histórico encontro marcado dos Focolares: um encontro de vários dias para todos, crianças, jovens, famílias, para conhecer e fazer experiência da espiritualidade da unidade.

___

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

Buscar a paz: um caminho nas mãos de cada um

Buscar a paz: um caminho nas mãos de cada um

Eliminar qualquer desejo de dominar. Em um mundo constantemente dilacerado por conflitos, seguindo o apelo do Papa Leão XIV para construir uma paz “desarmada e desarmante”, partilhamos uma reflexão muito apropriada de Chiara Lubich, extraída de uma Palavra de Vida de 1981.

Em direção a uma pedagogia da paz

Em direção a uma pedagogia da paz

Como nos tornarmos agentes de paz na realidade em que vivemos todos os dias? Anibelka Gómez, da República Dominicana, nos conta, por meio de sua experiência, como é possível formar redes humanas capazes de semear beleza para o bem de comunidades inteiras por meio da educação.