Movimento dos Focolares

Novembro 2013

Out 28, 2013

“Sede bondosos e compassivos, uns para com os outros, perdoando-vos mutuamente, como Deus vos perdoou em Cristo.” (Ef 4,32)

É entrar no coração daqueles que encontramos para entender sua mentalidade, sua cultura, suas tradições e, de certo modo, fazê-las nossas; para entender realmente aquilo de que eles precisam e saber colher os valores que Deus espalhou no coração de cada pessoa. Numa palavra: viver por quem está ao nosso lado.

“Sede compassivos…”: a compaixão. Acolher o outro tal como ele é, não como gostaríamos que fosse: com um temperamento diferente, com as mesmas ideias políticas nossas, com as nossas convicções religiosas e sem os tais defeitos ou modos de fazer que tanto nos incomodam. Não. É preciso dilatar o coração e torná-lo capaz de acolher a todos na sua diversidade, nos seus limites e misérias.

“… perdoando-vos mutuamente…”: o perdão. Ver o outro sempre novo. Mesmo nas convivências mais agradáveis e serenas, na família, na escola, no trabalho, nunca faltam momentos de atrito, de divergências, de conflitos. Às vezes se deixa de falar um com o outro, ou a evitar-se, isso quando não se estabelece no coração um verdadeiro ódio contra os que têm um ponto de vista diferente do nosso. A conquista mais forte e exigente é procurar ver cada dia o irmão e a irmã como se fossem novos, novíssimos, esquecendo completamente as ofensas recebidas e cobrindo tudo com o amor, com uma anistia total do nosso coração, imitando dessa forma Deus, que perdoa e esquece.

E enfim, alcançamos a paz verdadeira e a unidade quando vivemos a bondade, a compaixão e o perdão não apenas como pessoas isoladamente, mas em conjunto, na reciprocidade.

E assim como acontece numa fogueira, onde as brasas são sufocadas pela cinza se não forem remexidas de vez em quando, da mesma forma as nossas relações com todos os outros são sufocadas pela cinza da indiferença, da apatia, do egoísmo, se não houver o esforço de reavivá-las de tempo em tempo, o esforço de reavivar o amor mútuo.

Sede bondosos e compassivos, uns para com os outros, perdoando-vos mutuamente, como Deus vos perdoou em Cristo.

Essas atitudes precisam ser traduzidas em fatos, em ações concretas.

O próprio Jesus demonstrou o que é o amor quando curou os doentes, quando saciou a fome das multidões, quando ressuscitou os mortos, quando lavou os pés dos discípulos. Fatos, fatos: amar é isso.

Lembro-me de uma mãe de família africana: viu a própria filha Rosângela perder um dos olhos, como vítima da agressividade de um garoto que a feriu com um pedaço de pau, e ainda continuava caçoando dela. Nem o pai nem a mãe do menino tinham pedido desculpas pelo acontecido. O silêncio, a falta de relacionamento com essa família a deixavam amargurada. “Fique tranquila”, dizia Rosângela, que já tinha perdoado, “ainda tive sorte: pelo menos posso ver com o outro olho!”

“Um dia, de manhã,” conta a mãe de Rosângela, “a mãe daquele garoto mandou me chamar porque estava passando mal. A minha primeira reação foi: ‘Olha só! Ela tem tantos outros vizinhos, e agora vem pedir ajuda a mim, depois de tudo o que o filho dela fez conosco!’

Mas na hora me lembrei que o amor não tem barreiras. Corri até a sua casa. Ela abriu a porta e desmaiou nos meus braços. Levei-a para o hospital e fiquei lá até que os médicos a atendessem. Depois de uma semana, quando ela teve alta, veio até em casa para me agradecer. Eu a acolhi de todo o coração. Consegui perdoá-la. Agora o relacionamento se recompôs. Ou melhor, começou totalmente novo”.

Podemos preencher também o nosso dia com serviços concretos, humildes e inteligentes, expressões do nosso amor. Veremos crescer ao nosso redor a fraternidade e a paz.

Chiara Lubich


  Este comentário à Palavra de Vida foi publicado originalmente em agosto de 2006.

___

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

10 anos depois da Laudato Si’, o “Projeto Amazónia”

10 anos depois da Laudato Si’, o “Projeto Amazónia”

O dia 24 de maio marca os 10 anos da publicação da Encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco. Um momento de celebração, de verificação do que foi feito e de a retomar e dar a conhecer a quem ainda desconhece o seu conteúdo. Conscientes de que “não haverá uma nova relação com a natureza sem um ser humano novo. Não ha ecologia sem una adequada antropologia” (LS, 118) apresentamos o “Projeto Amazónia”, contado por dois jovens brasileiros durante o Genfest 2024 realizado em Aparecida, Brasil.

Bruxelas: 75 anos da Declaração Schuman

Bruxelas: 75 anos da Declaração Schuman

Para acompanhar a Europa na realização de sua vocação – após 75 anos da Declaração Schuman – na sede do Parlamento Europeu em Bruxelas, em um painel de especialistas, expoentes de vários Movimentos cristãos e jovens ativistas deram voz à visão da unidade europeia como instrumento de paz. Foi um encontro promovido por Juntos pela Europa e parlamentares europeus.

O Concílio de Niceia: uma página histórica e atual da vida da Igreja

O Concílio de Niceia: uma página histórica e atual da vida da Igreja

No dia 20 de maio de 1700 anos atrás – data indicada pela maioria dos historiadores –, tinha início o primeiro Concílio ecumênico da Igreja. Era o ano de 325, em Niceia, a atual Iznik, na Turquia, hoje uma pequena cidade situada 140 km ao sul de Istambul, cercada pelas ruínas de uma fortaleza que ainda fala daqueles tempos.