Movimento dos Focolares

Novembro de 2009

Out 31, 2009

“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus.” (Mt 19,24)

Essa frase o impressiona?
Acho que você tem razão de ficar perplexo e de pensar no que é oportuno fazer. Jesus nunca falou só por falar. É necessário, pois, levar a sério essas palavras, sem querer reduzi-las.
Mas vamos tentar entender o verdadeiro significado delas, observando o próprio Jesus, o seu modo de se comportar com os ricos. Ele frequentou também pessoas abastadas. E disse a Zaqueu, que tinha dado apenas metade de seus bens: “Hoje a salvação entrou nesta casa” (Lc 19,9).
Além disso, os Atos dos Apóstolos testemunham que, na Igreja Primitiva, a comunhão dos bens era livre e, assim, não se exigia dos cristãos a renúncia material de tudo aquilo que possuíam.
Jesus não tinha, portanto, a intenção de fundar apenas uma comunidade de pessoas chamadas a segui-lo e que deixam todos os seus bens.
No entanto, Ele diz:

“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus”.

Afinal, o que é que Jesus condena? Certamente não os bens desta terra em si, mas o rico apegado a eles.
E por quê?
É evidente: porque tudo pertence a Deus, enquanto que o rico se comporta como se as riquezas fossem dele.
O fato é que as riquezas ocupam facilmente o lugar de Deus no coração humano, ofuscam a vista e favorecem todo tipo de vício. Paulo, o Apóstolo, escrevia: “Pois os que querem enriquecer caem em muitas tentações e laços, em desejos insensatos e nocivos, que mergulham as pessoas na ruína e perdição. Na verdade, a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por se terem entregue a ele, alguns se desviaram da fé e se afligem com inúmeros sofrimentos” (1Tm 6,9-10).

O próprio Platão já havia afirmado: “É impossível que um homem extraordinariamente bom seja ao mesmo tempo extraordinariamente rico”.
Qual deve ser, então, a atitude de quem tem posses? É preciso que ele tenha o coração livre, totalmente aberto para Deus. Que ele se sinta administrador dos próprios bens e saiba que sobre eles, como disse João Paulo II, pesa uma “hipoteca social”.
Os bens desta terra não são um mal em si mesmos, por isso convém não desprezá-los, mas usá-los bem.
Não é a mão e sim o coração que deve estar longe deles. Trata-se de saber utilizá-los para o bem dos outros.
Ser rico só tem sentido em função dos outros.

“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus.”

Mas talvez você diga: eu, de fato, não sou rico; portanto, essas palavras não se referem a mim.
Cuidado! A pergunta que os discípulos, consternados, fizeram a Cristo logo após a sua afirmação foi: “Quem, pois, poderá salvar-se?” (Mt 19,25). Isso indica claramente que aquelas palavras eram, de certo modo, dirigidas a todos.
Mesmo alguém que deixou tudo para seguir a Cristo pode ter o coração apegado a mil e uma coisas. Até um pobre que esbraveja porque alguém se atreve a tocar em sua sacola pode ser um rico diante de Deus.

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em julho de 1979

 

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