«Desde que comecei a estudar enfermagem – conta Verônica, italiana de Gênova – eu tinha um sonho: colocar a minha vida profissional a serviço dos outros. Em 2013, assim que me formei, parti para a Costa do Marfim. No início foi difícil, porque eu não falava francês. Mesmo assim, descobri que os gestos concretos construíam pontes muito mais do que tantas palavras. Eu e outras garotas organizamos uma pequena atividade, para vender alguns objetos. Depois do trabalho nos encontrávamos para fazer colares e pulseiras, e recolher o que havia de supérfluo nas nossas casas. O que ganhávamos era colocado num fundo comum, para ser utilizado em caso de problemas financeiros, ou para sustentar os estudos de alguém… um dia, uma das meninas contou-nos que seu pai não tinha recebido o salário e sua família não tinha o que comer. Todas de acordo, destinamos parte daquele fundo para ajudar aquela família. Eu estava vendo o Evangelho ser vivido. Não foi sempre fácil, às vezes sentia falta da família, dos amigos, dos meus hábitos… mas o céu foi sempre o meu melhor amigo. Quando sentia-me sozinha, ou tinha algum sofrimento que não conseguia superar, levantava os olhos e, fitando-o, perdia-me na grandeza da criação. Quanta harmonia, quanto amor em tudo o que havia ao meu redor… e aquele Amor era também por mim! D
urante a minha permanência em Man conheci um menino que tinha uma má-formação cardíaca desde o nascimento. Toda vez que chegava, Daniel iluminava o ambulatório com um lindo sorriso. Não obstante os tratamentos invasivos a que devia ser submetido, o amor e a alegria que emanava eram contagiantes e envolventes. Apesar dos inúmeros esforços era necessário fazer algo a mais. Ele precisava de tratamentos mais adequados. Depois de um ano na África a minha experiência terminou. Voltando para casa eu estava feliz, e levava dentro de mim o sorriso de Daniel na hora da minha despedida. Interiormente eu advertia que não podia deixa-lo sozinho. Foi então que, com outras amigas, entramos em ação, para entender se havia possibilidades de que fosse operado na Itália. O entusiasmo foi contagioso e conseguimos reunir fundos que permitissem a Daniel vir à Itália, acompanhado pelo pai, para a operação. Foram dois meses intensos, nos quais as nossas culturas foram descobertas e enriquecidas. Através dos olhos de Daniel eu redescobri o mar e a alegria de viver o momento presente. A cirurgia teve sucesso. O pai lhe havia prometido uma bicicleta se tudo corresse bem, mas se deu conta que era um presente caro demais para os seus recursos. O amor da comunidade não se fez esperar, e na mesma tarde em que o pai me falou dessa sua dificuldade, uma amiga trouxe um envelope e, inacreditavelmente, ele continha exatamente o valor da bicicleta que Daniel tanto queria. Eu havia partido com a convicção de que poderia dar muito… muitas vezes temos a impressão de poder mudar o mundo. Mas percebi que, para fazê-lo, precisava começar por mim mesma, e pelo modo de estar com os outros. Somente construindo, momento por momento, pontes de fraternidade, é possível mudar o mundo». No dia 9 de julho passado, na “Cidade dos Meninos” (Gênova) foi entregue a Veronica Podestà o “Prêmio Bondade Padre Nando Negri 2016”, pelo seu empenho no campo social, especialmente para com as crianças da Costa do Marfim.
Curar as feridas que encontramos nos outros
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