Um evento que aconteceu a exatos 50 anos da primeira audiência concedida pelo Papa Paulo VI a Chiara Lubich (31 de outubro de 1964) e no dia seguinte à beatificação do pontífice. Uma ocasião para ilustrar, com uma contribuição paradigmática, o pensamento de Paulo VI sobre os movimentos eclesiais e sobre o significado destes em relação à visão de Igreja proposta pelo Concílio Vaticano II. Foi o concentrado dos Dias de Estudo (Castelgandolfo, Roma, 7-8 de novembro), abertos pela presidente do Movimento dos Focolares, Maria Voce, e pelo professor Pe. Angelo Maffeis, presidente do Instituto Paulo VI, e que contaram com intervenções de estudiosos especialistas de diversas disciplinas. Este grande Papa teve um papel importante na história do Movimento dos Focolares: «Somos seus devedores por vários motivos – afirmou a presidente Maria Voce – antes de tudo pelo seu luminoso magistério que assinalou de modo claro e forte a formação de todos os que se aproximaram do nosso Movimento». Mas também porque, «no exercício do seu ministério, Papa Paulo VI foi determinante em reconhecer, promover e explicitar os caminhos juridicamente praticáveis para exprimir a fisionomia específica desta Obra nova na Igreja», continuou.
As palestras dos professores André Riccardi e Alberto Monticone ofereceram um panorama histórico geral sobre o nascimento dos movimentos eclesiais, a novidade que representaram no século XX e sobre o amadurecimento da visão e do papel do laicato. Em seguida passou-se a uma verificação analítica com base em documentos inéditos das duas figuras em questão. Lucia Abignente (Centro Chiara Lubich), partindo do primeiro encontro de Chiara Lubich com D. Montini, em 1953, através de Giulia Folonari, passando por momentos delicados da história até chegar a 1964, por meio de diários e páginas inéditas, mostrou o que foi para Chiara aquela primeira audiência, num período em que achava-se em perigo justamente a laicidade do nascente Movimento dos Focolares. Para os próprios membros dos Focolares, portanto, é importante dar-se conta de quem foi Paulo VI. Chiara Lubich refere-se a ele como «pai da Obra». O Prof. Paulo Siniscalco teve a missão de analisar a importância que Paulo VI dava ao Movimento dos Focolares na ação de manter vivo o espírito cristão nos países do leste europeu, e como o Pontífice encorajou as iniciativas concretas nesse sentido.
Outro tema de importância central foi o diálogo ecumênico, examinado pela Dra. Joan Back. Basta recordar a história que liga Paulo VI, Chiara Lubich e o Patriarca Atenágoras. A jurista Adriana Cosseddu salientou as dificuldades para que surgissem, dentro do Código de Direito Canônico (de 1917) formas completamente novas como são os movimentos eclesiais. Parecia que uma obra com diversas vocações não fosse possível porque… no direito canônico não estava previsto! «O Papa quis cuidar disso, ele pessoalmente, e assim chegou-se à aprovação», afirmou Chiara numa entrevista à revista Città Nuova, em 1978.
O prof. Alberto Lo Presti, diretor do Centro Igino Giordani, descortinou uma perspectiva original da concepção da doutrina social da Igreja em Giordani – considerado cofundador do Movimento dos Focolares – em relação ao magistério social de Paulo VI. Tendo como pano de fundo a Encíclica Ecclesiam Suam, programática do pontificado de Paulo VI, e a experiência mística vivida por Chiara Lubich nos anos 1949-50, o prof. Piero Coda, reitor do Instituto Universitário Sophia, coroou os trabalhos com uma reflexão teológica que evidenciou a profunda sintonia e sinergia entre o ministério petrino do Papa Montini e o carisma da unidade de Chiara Lubich. «Para mim foi especialmente enriquecedor poder ver o Movimento dos Focolares e a sua fundadora através dos olhos de Paulo VI – escreveu Fabio Ciardi, um dos participantes do encontro -. Este “grande”, que possuía uma visão extremamente ampla da Igreja e da sociedade do seu tempo, teve também um olhar particular sobre esta obra de Deus, compartilhando alegrias, dúvidas, apreciações e perplexidades, entusiasmo e esperanças… Colocando-se na sua perspectiva percebem-se novos aspectos desse carisma e do caminho que abre na Igreja». Na conclusão, o prof. José-Román Flecha Andres quis comparar a experiência mística de Chiara à dos místicos espanhóis do século XVI, em especial Teresa D’Ávila, e recordando como estes intuíram a necessidade de doar a toda a Igreja a vida interior, assim se exprimiu: «Aqui vimos como, graças ao Espírito de Deus, ao Espírito Santo, isto se realizou na vida de Chiara, desse Movimento».
Ouvir atentamente, falar conscientemente
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