Movimento dos Focolares

Paz: não mais escravos, mas irmãos

Jan 1, 2015

A mensagem do Papa Francisco por ocasião da Jornada Mundial da Paz é mais que nunca, atual. Globalizar a fraternidade: um testemunho do Mali.

Francesco_immigranti_a“Atualmente, após uma evolução positiva da consciência da humanidade, a escravidão, crime contra a humanidade, foi formalmente abolida no mundo. O direito de cada pessoa de não ser mantida em estado de escravidão ou servidão foi reconhecido pelo direito internacional como norma irrevogável. E, ainda que a comunidade internacional tenha firmado numerosos acordos com o objetivo de colocar fim à escravidão em todas as suas formas e ter encaminhado diversas estratégias para combater este fenômeno, ainda hoje milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravidão”, escreve o Papa na sua mensagem por ocasião da Jornada Mundial da Paz, que se celebra no dia 1° de janeiro, dia dedicado à família.

E, ao mesmo tempo em que faz esta afirmação, ele pensa a “muitos trabalhadores e trabalhadoras, também menores, escravizados nos diversos setores”. E pensa também “às condições de vida de muitos migrantes que, na própria dramática trajetória, passam fome, são privados da liberdade, extorquidos dos próprios bens ou abusados fisicamente e sexualmente. Penso a muitos deles que, quando chegam à destinação depois de uma viagem difícil e dominada pelo medo e pela insegurança, são detidos em condições desumanas”.

Mohamed, proveniente do Mali, experimentou a experiência do naufrágio no mar e uma vida de pobreza e sofrimentos. Atualmente ele sente o desejo de demonstrar a gratidão a algumas pessoas. A narrativa é de Flavia Cerino, advogada, publicada na revista Città Nuova. “Com quinze anos de idade, Mohamed decidiu partir: uma longa viagem pelo deserto, na Líbia esteve na prisão, foi explorado e, depois, chegou à Itália. O Mare Nostrum o salvou do naufrágio, mas, assim que desembarcou foi imediatamente algemado: os companheiros de viagem o denunciaram como colaborador daqueles que organizam dos êxodos em massa, mas, realmente, ele não era culpado. De fato, ele havia distribuído alimento e bebida no barco, mas, se ele não tivesse feito isso os verdadeiros organizadores, teriam ameaçado atirá-lo ao mar.

Como Mohamed é ainda adolescente, não foi levado à prisão comum. Na espera do julgamento que deveria confirmar a prisão ele permaneceu em uma sala estreita e escura no prédio do fórum de uma cidade grande, mas, muitas pessoas cuidaram dele: os policiais foram gentis e as assistentes sociais interessam-se pela vida dele, pela saúde e pela família. Há meses ninguém o considerava com tanta atenção; frequentemente ele recebia somente ordens, sem nenhuma consideração. E, ainda mais, um dos policiais fala francês e Mohamed teve a possibilidade de explicar bem tudo o que ocorreu no barco”. O julgamento que deveria emitir a sentença terminou bem: ele não foi condenado à prisão, mas, a viver em uma comunidade.

“Ele não goza de liberdade, mas, sem dúvidas, é melhor que a prisão. O lugar é bonito, em uma pequena cidade ensolarada, ainda mais ao sul do país. Mohamed faz com que as pessoas o apreciem e o amem: é disponível para atividades domésticas, rápido no aprendizado da língua italiana, gosta de futebol e, também, do silêncio e de momentos de solidão. Depois de muitos meses chegou o momento de outro julgamento, o que significa voltar ao passado, reviver momentos difíceis e que devem ser esquecidos. Não obstante o tempo, todas as lembranças estão presentes, também os bons momentos. E, quando terminou a audiência ele fez um pedido: ir ao último andar, naqueles cômodos pequenos, somente para dizer “obrigado” àquele policial que fala francês e àquelas senhoras muito gentis: não os esquecerá nunca. Infelizmente nenhum daqueles que conhecera estava de turno. Mas, aquele “obrigado” será dito por meio dos colegas, coisa muito rara”.

“Sabemos que Deus perguntará a cada um de nós: ‘O que você fez ao seu irmão?’, conclui o Papa Francisco . “A globalização da indiferença, que hoje pesa na vida de muitas irmãs e irmãos, pede a todos nós de tornarmo-nos artífices de uma globalização da solidariedade e da fraternidade, para que se possa doá-los, outra vez, a esperança e fazer com que eles retomem, com coragem, o caminho em meio aos problemas do nosso tempo e as perspectivas novas que o mesmo traz consigo e que Deus coloca nas nossas mãos”.

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