O infinitamente pequeno e o infinitamente grande que se atraem para explicar o universo; a aplicação de descobertas como o Bóson de Higgs no campo médico, tecnológico, social. Foram os temas do discurso da cientista Fabiola Gianotti, próxima diretora do Cern de Genebra, dia 15 de fevereiro passado em Loppiano (Florença, Itália), diante de 800 pessoas entre as quais cientistas, cultores do mundo científico, artistas, amigos, famílias e cerca de 200 estudantes de ensino médio.
Parece, enfim, que a ciência tenha voltado a estar na moda neste ano de 2015, quando as pessoas vivem ainda confusas pela crise econômica e, ao mesmo tempo, buscam «espaços de infinito que permitam enfocar quem somos, qual é a nossa dignidade e missão na vida», como comentou um dos presentes. Certamente mérito de cientistas como Gianotti, mas também de acontecimentos como o prêmio “Renata Borlone, mulher em diálogo”. Um evento de alto valor educativo, no qual fé e cultura se interceptam, criando uma ocasião de crescimento social e pessoal.
Muitas mensagens de congratulação chegaram à Dra. Gianotti, entre elas a de Maria Voce: «A Associação Cultural Renata Borlone e o Instituto Universitário Sophia (IUS) uniram-se ao aplauso geral, salientando de modo especial os valores nos quais a Sra. inspira a sua vida de mulher e de cientista». A presidente dos Focolares salientou «a consonância de ideais e de intentos entre estas duas figuras» (Gianotti e Borlone), ainda que na diversidade de contextos.
«Fala-se do Bóson de Higgs como do lugar que dá consistência a todas as outras partículas – afirmou Lida Cicarelli, postuladora da causa de beatificação de Renata Borlone -. Também Renata, enamorada, além de que pela ciência, por tudo o que diz respeito à humanidade, tinha encontrado o lugar, o campo que deu espessura a toda a sua vida e significado aos seus dias: Deus. E assim como, em breve, a cientista retirará para nós o véu sobre o mundo da ciência – continuou – ela encontrou em Deus aquele que revelou-lhe “o irmão” que lhe pedia amor, acolhida, compreensão, partilha das alegrias e dos sofrimentos, com um coração de carne. Viveu neste espaço divino, e quem passava por ela reencontrava a dignidade de descobrir-se filho de Deus».
A terceira edição do prêmio é destinada aos cultores da pesquisa científica e mira à promoção do diálogo com todos aqueles que, no campo acadêmico, comprometem-se por uma cultura que respeite a dignidade da pessoa humana. A motivação da escolha de Fabiola Gianotti foi lida pelo professor Sergio Rondinara, do IUS: «Pelas suas altas qualidades profissionais, pelo ardor demonstrado na pesquisa científica e pelas capacidades humanas mostradas na frutuosa coordenação do elevado número de cientistas e pesquisadores do experimento ATLAS, no Cern». O prêmio é uma obra do artista chinês Hung e representa um acelerador de partículas em miniatura.
O discurso da Dra. Gianotti foi uma intensa e apaixonada exposição que capturou toda a plateia, acompanhando os presentes num tour virtual dentro do universo do infinitamente pequeno, o das partículas elementares, especialmente do Bóson de Higgs, descoberto no final de 2012 graças ao trabalho de 3.000 cientistas, de 38 países, e à tecnologia do acelerador de partículas LHC (Large Hadron Collider), de 27 km de cumprimento, estendido cem metros abaixo da superfície entre a Suíça e a França.
«Alguém de vocês pode se perguntar: “mas quem se interessa pelas massas das partículas?” – afirmou a cientista. Na verdade esta pergunta está muito próxima da nossa vida, porque se as partículas não tivessem a massa que têm, nós não estaríamos aqui. Se o elétron não tivesse massa, o átomo não se reuniria e, portanto, não haveria a química, não existiria a matéria como nós a conhecemos. Nós estamos aqui, portanto, também graças a este mecanismo de Higgs».
Com relação às aplicações dos aceleradores de partículas, explicou que são utilizados amplamente no campo médico para a cura dos tumores. A doutora concluiu que a pesquisa no Cern enfrenta questões fundamentais sobre partículas elementares e sobre a estrutura e a evolução do universo, importantes por quanto recaem sobre a vida cotidiana. «Mas o conhecimento fundamental – completou – é importante por si só, porque é um dos direitos-deveres irrenunciáveis do homem, além das aplicações concretas; um pouco como a arte, que está entre as expressões mais elevadas do homem enquanto ser pensante. Negar, portanto, a importância absoluta dessas atividades humanas, significa tolher a natureza da própria natureza humana».
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