Movimento dos Focolares

Sistema prisional na Itália, desenvolver a relação

Nov 20, 2013

O problema da superlotação prisional no primeiro workshop para operadores do sistema carcerário organizado por Humanidade Nova dos Focolares. Experiências para responder à crítica situação italiana.

«Posso contar um pequeno episódio, entre muitos. Os rapazes estão no corredor sem fazer nada. Um dos nossos vê um novo que chegou. Tem o olhar assustado e está petrificado. O nosso aproxima-se e pergunta: “O que aconteceu?” O outro fica mudo e ele entende muito bem: foi o mesmo que lhe aconteceu. Diz-lhe: “Vem à minha cela que eu te dou um bom café!”. Enquanto prepara-o, continua: “Olha! Nós, aqui, estamos muito bem. Hoje tem sol e já encontraste um amigo. O que é que queres mais da vida?” No dia das visitas, casualmente, os dois estão na mesma sala. O filho e a mulher daquele novo levantam-se e vão agradecer pelo bem que fez ao familiar deles».

É o relato de P.B. que trabalha como voluntário na prisão de Pádua e testemunha a dignidade evidenciada em várias histórias, que nascem de pequenos gestos quotidianos. Foi apresentado no âmbito do primeiro workshop para os operadores do sistema carcerário na Itália organizado pelo Movimento Humanidade Nova (Focolares) juntamente com a rede internacional Comunhão e Direito (CeD). O encontro realizou-se nos dias 9 e 10 de novembro, em Castelgandolfo (Roma).

Participaram cinquenta pessoas, entre voluntários, professores, um assistente social, uma excarceraria, um magistrado das execuções criminais e um ex-presidente de Tribunal, aposentado. Também esteve presente um sacerdote anglicano com a esposa, que, juntamente com os outros, quis aprofundar o tema. Foram protagonistas deste primeiro seminário: um workshop tão atual como nunca diante da situação existente na Itália, que o Presidente da República Giorgio Napolitano recentemente denunciou.

Alguns dados apresentados: 45.647 vagas nos cárceres para uma população de 65.831 detentos, mais de 20.000 pessoas em excesso, que se encontram a pagar a própria pena em situações humanamente insuportáveis devido à falta de espaços e das mais elementares condições de higiene, para não falar nas violências e dos abusos existentes neste ambiente. De que modo responder a esta questão?

«Diante destas situações procuramos penetrar no sofrimento e, muitas vezes, na impotência humana» conta Francesco Giubilato, assistente social – «Assim, apontamos para o essencial: a pessoa e a relação. A pessoa com os seus sofrimentos, as suas necessidades e expectativas dos detentos, da guarda prisional, dos operadores do sistema, até às suas famílias e a comunidade. A relação, aquela verdadeira, aquela que diminui a solidão e as mágoas e, às vezes, até cura. Uma relação atenta às necessidades e criativa nas soluções, respeitando as normas».

O programa do workshop colocou em relevo várias iniciativas existentes na Itália para responder à problemática. Como G. D. que viveu um ano de serviço civil com a Associação “La fraternità”  dentro do Cárcere de Montorso, em Verona, e que agora continua a dar a própria disponibilidade dentro da Associação no Centro de Apoio para as famílias dos presos e para as necessidades dos ex-presidiários. Ou como Alfonso Di Nicola, que trabalha nas penitenciárias romanas. Estas experiências evidenciaram a criticidade da situação, ligadas também à dificuldade de relação entre os sujeitos envolvidos, e ao mesmo tempo demonstrou que a interação, se é vivida na dimensão da fraternidade, pode mudar radicalmente as pessoas e o ambiente.

Gianni Caso, Presidente Adjunto Honorário emérito da Corte de Cassação, abriu um outro horizonte, focalizando a questão da informação. A informação verdadeira, honesta, que desenvolve a consciência dos cidadãos, até ao ponto de promover ou modificar a lei e a sua aplicação numa dimensão de justiça, igualdade e respeito da dignidade humana.

___

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

Evangelho vivido: fazer coisas novas

Evangelho vivido: fazer coisas novas

O modo como Deus opera na nossa vida nos indica o caminho para poder mudar a perspectiva. É a oportunidade que temos para renovar o nosso olhar sobre as coisas. Qual é o nosso dever? Confiar em Deus para poder ver maravilhas.