Movimento dos Focolares

Um convidado excepcional

Jun 3, 2018

A crise social e humanitária que vive a Venezuela está levando centenas de milhares de pessoas a fugirem para os países vizinhos, em busca de casa, remédios, trabalho. De Lima, no Peru, o testemunho de acolhida da comunidade dos Focolares.

«O fluxo de migrantes na fronteira cresce de hora em hora. A crise econômica, que está colocando o país de joelhos, aproxima, no sofrimento, quem fica e quem decide fugir». Pelas palavras de Silvano Roggero, venezuelano filho de italianos, percebe-se o drama vivido por todo o povo. Há três anos ele se encontra no focolare de Lima, no Peru. «Os países vizinhos, com a generosidade típica destas terras, não obstante as enormes dificuldades provocadas pela entrada imprevista e inesperada de centenas de milhares de pessoas, buscam oferecer acolhida. Sou testemunha direta de um dos tantos dramas que vive hoje a “humanidade da periferia”. Justamente ontem escreveu-me a diretora de uma escola da península de Paraguaná, no norte da Venezuela. Há uma movimentação fora do comum na secretaria, vários pais chegam par retirar os filhos. Foram obrigados a partir!». Um êxodo de proporções bíblicas, causado por uma crise econômica e social gravíssima que está desfigurando a fisionomia da Venezuela. A inflação está nas estrelas e desaparecem dramaticamente os alimentos, remédios, matérias primas». Desde o mês de dezembro passado, Ofelia e Armando, da comunidade dos Focolares de Valencia (a terceira cidade da Venezuela) estão em Lima. Antes dirigiam uma creche. O sonho deles é abrir um local aonde possam oferecer a primeira acolhida aos refugiados, que chegam em caravanas, depois de uma viagem de até sete dias. Fala-se de cerca de 300 mil venezuelanos que chegaram ao Peru no último ano e meio. «Com Ofelia – conta Silvano – organizamos um jantar de acolhida no focolare, para um pequeno grupo de venezuelanos. Alguns já conheciam o Movimento, mas havia quem não sabia nada sobre o nosso grupo. Os hóspedes chegaram de várias partes da cidade, distantes até uma ou duas horas. Ainda não se orientam muito bem nesta metrópole de quase 10 milhões de habitantes». Parece uma gota no mar, mas o desejo é acolhê-los como se fosse Jesus em pessoa que chegasse à porta. «Como se pode imaginar, diante daquelas situações difíceis não tínhamos soluções “previstas”. Não sabíamos nem por onde começar, mas, isso sim, podíamos oferecer-lhes uma boa refeição e escutá-los! Um deles tinha sido roubado: os assaltantes tinham tirado de sua mochila o celular e tudo o que tinha para sobreviver. Outro não sabia que documentos devia apresentar para obter o visto de permanência. Ofelia, que já tem prática porque enfrentou todo o processo, colocou à disposição a sua experiência. Outro ainda, contou que havia encontrado um trabalho, a mais de duas horas de distância, por trinta reais por dia (mas tem quem está disposto a trabalhar até por apenas 12 reais!). Havia também quem possui um excelente currículo e por isso não é contratado, por medo que queira ocupar o lugar do chefe de turno. Mas o que mais nos comoveu foi compartilhar as histórias, ver as fotos e ouvi-los falar da própria família». «Para todos, a primeira necessidade é encontrar um trabalho, não importa dormir no chão, até sem um colchão, ou comer pouco. O sonho maior é o de mandar, de vez em quando, alguns reais para casa. Nós combinamos permanecer conectados entre nós. Ao focolare havia chegado, de uma partilha na comunidade que nós chamamos “fagotto”, uma pequena soma e dois casacos pesados. Foi providencial porque está para começar a estação mais fria. Distribuímos tudo. Quatro horas depois, quando estávamos nos levantando da mesa, chegou um novo SOS, desta vez de uma pessoa que mora nas Ilhas Canárias. “Onze jovens saíram a pé da Venezuela, em direção a Lima. Estão desesperados, sem dinheiro nem telefone celular, só tem a roupa do corpo. Entre eles está o primo de uma amiga. Vocês podem ajudá-los? Principalmente para evitar que caiam nas mãos de malfeitores que queiram aproveitar de sua fragilidade. Calculamos que chegarão em cerca de 30 dias”. Mais pessoas que baterão à porta. Mas todas têm o mesmo nome, Jesus. Um convidado excepcional.  Esperamos por Ele». Chiara Favotti

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