«“Foste tu que nos fizeste entender que o matrimônio significa abertura, realização do projeto que Deus tem para nós. Faremos todos os nossos esforços para que a família e o mundo se tornem como devem ser”. Maria da Conceição, para todos nós simplesmente São, escreveu estas palavras a Chiara Lubich, assim que começamos a nossa aventura. Nós nos casamos em Braga, em 1981 – conta Zé Maia – e da nossa união nasceram seis filhos. Depois, chegaram os netos, que já são nove. A própria Chiara Lubich, tempos antes, lhe tinha indicado uma frase do Evangelho como programa de vida: “É necessário que ele cresça, e eu diminua” (Jo 3, 30). Quantas vezes ela a repetiu para mim!» Zé e São, ambos portugueses, em 2002 se mudaram com os filhos para a cidadezinha dos Focolares “Arco Íris”, a 50 quilômetros de Lisboa, para dar uma contribuição concreta à sua construção. Em novembro de 2016, São estava participando, no Centro Mariápolis de Castelgandolfo (Roma), do simpósio “Juntos pela Europa”. «Antes de partir – continua Zé – mi confidenciou: “Fico contente por participar dele, creio que será este o caminho que deveremos fazer”. Foi o seu último ato de amor, na alegria de dar a própria vida pelos outros. No dia 11, de repente, por um infarto, Deus a chamou para si.
E agora? Estou fazendo a experiência de viver ela, que está em mim, naquela “uma só carne”, entre céu e terra. Não posso perder o frescor das suas últimas palavras, aquele desafio a “ir em frente juntos e com coragem”. Recomeço cada dia, com o estímulo e a ajuda da vida do focolare. Em casa, na família, estamos descobrindo um “novo nós” e experimentamos que o que construímos com o amor permanece. E continua, porque a eternidade é o perfeito amor. Vivo na busca contínua de como me tornar, ao mesmo tempo, pai e mãe. Vivo como se São estivesse aqui comigo, recebendo os outros em casa, ou fazendo as compras. Junto com ela, colho flores, preparo um bom almoço para os filhos ou aquelas coisas boas de que os netos gostam. Junto com ela, digo uma palavra que corrige, constrói ou incentiva. É um diálogo contínuo, entre terra e céu. Fiz uma nova descoberta, Jesus Eucaristia. Lá é o momento do “nosso” encontro. Os momentos de dor existem, mas nos fazem dilatar o coração na direção do próximo. A solidão existe, é uma sombra verdadeira. É preciso virar as costas para ela e olhar a luz. No final de cada dia descubro a gratidão, quando levanto o olhar para conseguir ver o invisível, mesmo se o medo aparece como um ladrão, secretamente, para nos roubar a paz. De vez em quando a alma deseja voar para longe, ir para outro lugar. Mas depois, deixo que aquele raio de luz me fale, me cumprimente e me acompanhe». «Às vezes escrevo duas linhas para os filhos, para lhes contar o que estou vivendo com a mãe deles: “Cada dia, no caleidoscópio da alma, ela se mostra com novas belezas, com todas as nuances do céu azul. E então a contemplo no seu mistério”. A vida continua, feita de momentos de família e de vida de comunhão com todos. Sim, é verdade, sinto a falta dela, da sua companhia, da sua cumplicidade, da sua partilha. Nunca estamos prontos para vermos partir o próprio companheiro, para ficarmos sozinhos, sem a sua palavra ou o seu olhar, sob todos os aspectos, afetivo, psicológico, relacional. Mas também concretamente, com os filhos, a família, o trabalho. Em 1967, Chiara Lubich dirigiu às famílias esta reflexão: quando um dos dois “parte” para o céu, “acontece que o matrimônio, que tinha feito de duas criaturas uma coisa só, não só fisicamente, mas espiritualmente, pelo sacramento do matrimônio, se rompe, por vontade de Deus. É alguma coisa de divino – se assim se pode dizer – como uma pequena Trinidade que se despedaça”. Então se vive uma verdadeira purificação, que se enfrenta colocando-se a amar quem está ao nosso redor. Neste ano, descobri o que significa Deus-Amor, o Amor: mais do que as coisas de Deus, Deus mesmo. Só o amor permanece. Encontramos uma breve oração escrita por São: “Ajuda-nos a nos tornarmos a família que tu pensaste. Dá-me a graça de superar as dificuldades com sabedoria, criatividade, inteligência e bondade. Ajuda-nos a vermos tudo com a tua luz”». Gustavo Clariá
Pequenos atos, grande impacto
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