Movimento dos Focolares

Um ônibus para a Bulgária. Histórias cotidianas de acolhida.

Jun 11, 2011

Um fato da vida de Isabella Barbetta, que deixou-nos há pouco tempo. Protagonistas, junto com ela, o seu marido, Fausto, e um casal de origem búlgara, num momento no qual a tão desejada acolhida a um “estrangeiro”, muitas vezes ainda ressoa como um tabu.

Isabella Barbetta

«Há alguns meses um senhor está na frente do supermercado, ajuda a levar o carrinho das compras em troca de uma gorjeta. Começo a cumprimentá-lo, mas continua fechado, tento me aproximar, mas ele não fala italiano. Todas as manhãs nos cumprimentamos e aos poucos o gelo desaparece. Está procurando trabalho, mas ninguém lhe dá atenção, seja porque não sabe o italiano, seja pelo seu aspecto de mendigo. Depois do verão aparece a sua esposa, Valentina, que sabe o italiano porque antes trabalhava como doméstica. Com ela o relacionamento é mais fácil. Fico contente de parar para falar com ela, todo dia. Está procurando trabalho, mas é uma época difícil na Itália. Dormem na entrada do supermercado, em cima de papelão. Fausto consegue encontrar um lugar para passarem a noite, numa casa de religiosas. A partir de então Miguel e Valentina estão presentes nas minhas orações diárias. Uma manhã ela não consegue falar nem engolir, entendo que é algo sério. Compro remédios e depois peço a Fausto para ir vê-la. A levamos ao hospital e aplicam um soro. Durante a noite vou buscá-la e a levo à casa das irmãs, com o marido, Miguel, que tinha ficado na sala de espera. Ainda não conseguem trabalho. Começa o inverno e ao invés de voltar para a Bulgária, como deveriam fazer, voltam a dormir no relento. Faço doces com bastante chocolate, para serem mais substanciosos, e levo para eles. O Natal se aproxima. Uma noite a temperatura chega a dois graus negativos. Fausto e eu passamos diante do supermercado. Valentina e Miguel estão sentados no papelão, enrijecidos pelo frio. O meu coração se aperta. Procuramos convencê-los a irem passar a noite num lugar quente, provisoriamente, mas o marido não quer. Tenho vontade de chorar e digo que se não se encontra uma solução passarei a noite lá. Fausto pergunta por que não voltaram para a Bulgária, como tinham a intenção de fazer, a resposta é simples: “não temos dinheiro para a passagem”. Fausto e eu nos olhamos: se o problema é dinheiro nós resolvemos, e daremos menos presentes no Natal. Perguntamos quando sai o ônibus, é no dia seguinte pela manhã, da estação Tiburtina. Vamos para casa e, enquanto Fausto pega o dinheiro, preparo uma sacola com pão, queijo, presunto, fruta, doces, água, etc., para a viagem que durará dois dias. À uma e meia da manhã chegamos à estação Tiburtina, com Valentina e Miguel. Trocamos os endereços, contentes porque para eles será um lindo Natal, passado em família. Mas no dia seguinte Valentina telefona, diz que o ônibus estava cheio e foram obrigados a voltar para Ariccia, mas compraram as passagens para a próxima sexta-feira. Valentina me diz: “Itália não, Bulgária não, só você gosta de nós”. As irmãs ficam satisfeitas de recebê-los, porque perceberam a educação e cortesia que possuem. Na sexta-feira, às 6 horas, Fausto os pega e os leva a Roma. Dessa vez também preparo um lanche completo para a viagem, além de um casaco quente, para substituir a jaqueta suja e estragada de Valentina. Não pude dar trabalho aos meus amigos, mas tenho certeza de ter dado a eles um pouco de amor». NdR: Esta história foi contada por Isabella em janeiro de 2008. A propomos hoje, considerando a sua extraordinária atualidade.

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