Movimento dos Focolares

Uma santidade “socializante”

Jan 26, 2015

Por ocasião da abertura do processo de beatificação de Chiara Lubich, no dia 27 de janeiro, publicamos dois textos inéditos de Igino Giordani, escritos em 1974. Ele conheceu Chiara e o seu carisma no mês de setembro de 1948 e, desde então, solidificou-se na sua vida a concepção de uma santidade totalmente nova, como testemunham os seus textos.

IginoGiordaniChiaraLubich“O que me pareceu, nas hagiografias, o resultado de fatigante ascese – reservado a raros candidatos – tornava-se herança comum, e compreendia-se como Jesus poderia ter convidado todos os seus seguidores a tornarem-se perfeitos à semelhança do Pai: perfeitos como Deus!

Tudo antigo e tudo novo!

Era um novo procedimento, um novo espírito. A chave do mistério fora encontrada, ou seja, dava-se lugar ao amor, muitas vezes entrincheirado, e este se prorrompia e, à semelhança de chamas, espalhando-se, aumentava até tornar-se incêndio.

Aquela ascensão a Deus, considerada inatingível, foi facilitada e aberta a todos, tendo sido reencontrado o caminho de casa para todos, com o sentido da fraternidade. Aquela ascese que parecia terrificante (cilícios, correntes, noite escura, renúncia), tornou-se fácil porque é vivida em companhia, com a ajuda dos irmãos, com o amor a Cristo.

Renascia uma santidade coletivizada, socializante (para usar dois vocábulos que mais tarde seriam popularizados pelo Concílio Vaticano II); extraída do individualismo que criara o hábito de cada um santificar-se por si, cultivando meticulosamente, com análises sem fim, a própria alma, ao invés de perdê-la. A piedade, a vida interior, que saía do espaço restrito de casas religiosas, de certo exclusivismo de classes privilegiadas – isoladas, algumas vezes a ponto de estar fora, se não contra a sociedade, que, em si, é grande parte da Igreja viva – se dilatava nas praças, nas fábricas e nos escritórios, nas casas e nos arredores das cidades, bem como nos conventos e nos círculos da Ação católica, uma vez que, em todos os lugares, encontrando pessoas, encontravam-se candidatos à perfeição.

Em poucas palavras, a ascese tornara-se uma aventura universal do amor divino e o amor gera luz.”

“A vida é uma ocasião única a ser desfrutada. A ser desfrutada na terra para prolongá-la na eternidade. Para fazer da terra uma antecipação do céu, inserindo-a na vida de Deus aqui, bem como na eternidade. Não deformá-la com a tortura das ambições e avarezas, não torná-la horrenda com rancores e hostilidades, mas, divinizá-la – ampliá-la no seio do Eterno – com o Amor. E onde existe o amor, Deus está presente. E cada momento é aproveitado por amor, ou seja, doar Deus, e isto significa atrair Deus para si e para os outros.

E nesta vivência está a liberdade dos filhos de Deus, pela qual o espírito não é imobilizado por julgamentos. Divisões, oposições são obstáculos ao espírito de Deus.

Quem vive desta forma não pensa em santificar-se, pensa em santificar. De si mesmo se esquece, se desinteressa. Santifica-se santificando, ama-se amando, serve-se servindo.

Por essa atitude o próprio ato de santificar-se contém uma orientação social: este contínuo doar e doar-se faz da elevação das almas, um efeito comunitário.

“Deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” [Mt 5,48], comandou Jesus e nós nos tornamos perfeitos na vontade do Pai, unindo-nos, para unirmo-nos a Ele, por meio de Cristo.”

 

Fonte: Centro Igino Giordani

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