A mensagem do Papa Francisco, neste Ano Jubilar da Misericórdia, mais do que nunca solicita viver pelo imenso dom da paz. Um apelo forte, que sacode as consciências e convida à conversão. Paz e Misericórdia: dois elementos imprescindíveis para a convivência humana, e com o mundo criado. Duas palavras das quais hoje tomamos maior consciência pelos efeitos da sua ausência. Na mensagem papal, um trecho que falava de Jesus me fez retornar à minha terra. É tocante para mim – árabe, católica, de origem palestina – rever o comportamento de Jesus seguindo o lema “vence a indiferença e conquista a paz”. Tendo passado por esses lugares, posso afirmar que Ele viveu como Pessoa entre pessoas e narrou parábolas divinas extraindo-as da vida cotidiana. Infelizmente, ainda hoje a minha é uma terra onde a paz não é conhecida na sua integralidade, e ainda assim nela nasceram as três grandes religiões monoteístas. No Estado de Israel habitam oito milhões de pessoas, e quatro milhões nos Territórios Palestinos. Nas duas localidades os cristãos são apenas 2% da população, pertencentes a várias Igrejas: católica, ortodoxa, armênia, siro-ortodoxa, copta, luterana e outras. Uma terra pequena, mas vasta pelas suas dimensões multirreligiosas, multiculturais e multiconfessionais. Uma terra que viu tantas invasões e conquistas, e muitos conflitos que continuam ainda hoje. A possibilidade de viver pacificamente é um caminho que ainda deve ser percorrido, muito embora não faltem, aqui e ali, tentativas de encontrar uma solução política justa e duradoura. Medos e desconfianças recíprocas levantaram muros de divisão entre uma parte e outra da população, mas os mais difíceis de serem abatidos são a hostilidade e as suspeitas dentro do coração. Tocam-me profundamente as palavras do Papa: “A nível individual e comunitário, a indiferença para com o próximo – filha da indiferença para com Deus – assume as feições da inércia e da apatia, que alimentam a persistência de situações de injustiça e grave desequilíbrio social, as quais podem, por sua vez, levar a conflitos ou de qualquer modo gerar um clima de descontentamento que ameaça desembocar, mais cedo ou mais tarde, em violências e insegurança”. Nos anos que morei em Jerusalém empenhei-me, com muitos outros, a difundir o espírito de diálogo verdadeiro e sincero entre o mundo árabe e o judaico, por meio da amizade e do afeto que somente os relacionamentos humanos podem criar. Na verdade, falar de paz apenas em senso político não é tão eficaz se antes não se constrói a relação entre as pessoas. Daqui nasceram momentos de encontro entre jovens, famílias, estudiosos das duas partes, que produziram gestos concretos de reaproximação, solidariedade e respeito recíproco. “Vence a indiferença e conquista a paz”. Uma mensagem que faz florescer na alma uma nova esperança. O Papa nos adverte dizendo: “Algumas pessoas preferem não indagar, não se informar e vivem o seu bem-estar e o seu conforto, surdas ao grito de angústia da humanidade sofredora. Quase sem nos dar conta, tornámo-nos incapazes de sentir compaixão pelos outros, pelos seus dramas; não nos interessa ocupar-nos deles, como se aquilo que lhes sucede fosse responsabilidade alheia, que não nos compete”. A mensagem do Papa Francisco seja para nós um estímulo para uma mudança real. Que 2016 veja-nos todos firmemente e confiantemente comprometidos, em diferentes níveis, a realizar a justiça e agir pela paz. Sim, esta última é dádiva de Deus, mas é confiada a todos os homens e mulheres do mundo. Cabe a cada um de nós realizar esta meta.
Ouvir atentamente, falar conscientemente
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