«Eu conheci Chiara Lubich no fim da Segunda Guerra. Fui a Trento visitar aquelas jovens que eram conhecidas porque ‘viviam o Evangelho como os primeiros cristãos’. As palavras de Chiara me colocaram em crise: eu nasci em uma família cristã e participava da Ação Católica, mas eu me dei conta de que a minha religiosidade tinha bem pouco de cristianismo porque, praticamente, eu não vivia o Evangelho. O nosso grupo ia a Trento frequentemente e também Chiara ia à nossa pequena cidade, Rovereto, para nos encontrar. Ela falava do Evangelho e suscitava em nós um grande amor por Jesus. Formou-se logo uma comunidade da qual faziam parte o diretor da companhia telefônica, a professora de matemática, o sapateiro, o relojoeiro, um senhor e uma senhora pais de família e muitos, muitos jovens. Éramos muitos e nos queríamos muito bem. Todas as vezes que a nossa comunidade se reunia procurávamos assumir um novo compromisso de viver o Evangelho, de transformar a nossa vida e nos ocupar das pessoas necessitadas ao nosso redor.

Violetta Sartori
Um dia, uma amiga nos apresentou um jovem que fora ferido durante a guerra: uma bomba explodira muito próximo dele e ficara cego. Todas as vezes que participava dos nossos encontros ele dizia: “É uma inundação de luz!”. A todas as pessoas que encontrávamos,
procurávamos comunicar a nossa descoberta: “Deus nos ama imensamente”. E muitos sentiram o chamado a seguir a Deus. O Ideal da unidade espalhou-se e a comunidade tornava-se sempre mais visível. Tinha quem nos aceitava e quem nos criticava: diziam que éramos pessoas exageradas. Lembro-me de um encontro realizado em um teatro, com muitas pessoas presentes, no qual Chiara falou. Alguns aceitaram o que ela disse, outros a criticaram.
Igino Giordani escreveu um artigo para um jornal de Trento com o titulo: “Os bombeiros”. Os bombeiros são aqueles que apagam o fogo, certamente, mas naquele contexto ele afirmou que ‘os bombeiros’, assim que notavam uma pequena chama acesa no coração das pessoas, corriam logo com um caminhão pipa para apagá-la. Eles são como um exército de pessoas que marcam passo, ou seja, estão sempre em movimento, mas não seguem adiante em nada. Chiara, porém, explicava que nós não conhecemos o desígnio de Deus sobre cada criatura, não podemos julgar pelas aparências, mas devemos sempre amar, amar, amar e ser sempre disponíveis. Lembro-me de outra coisa que Chiara dizia. Que nós,
frequentemente, nos sentimos nada, somos pobres cristãos. Mas Jesus deu a sua vida, morreu por todos e cada um de nós. Ela dizia: “É como se alguém viesse até nós com um presente muito precioso e nós o deixássemos de lado, juntando poeira, sem nunca valorizá-lo, e continuássemos a nos sentir pobres”. Ela nos impulsionava, enfim, a fixar-nos na misericórdia e no amor de Deus que é exclusivo para cada um de nós. E assim, aos poucos, Chiara suscitava no nosso coração o amor a Jesus e nós comunicávamos este amor a muitas pessoas». (Testemunho narrado durante o encontro dos representantes das comunidades locais dos Focolares no mundo, realizado em Castelgandolfo, 29/5-1°/6/2014)
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