Movimento dos Focolares

Xeique Khaled Bentounès: sonho com uma academia de paz

Mar 4, 2016

O xeique de origem argelina, guia espiritual de milhares de pessoas, visitou o Centro Internacional dos Focolares.

20160304-02Khaled Bentounès, argelino, 66, guia espiritual do Sufismo Alâwiyya, é um homem de paz. Tendo vivido na França desde a década de 1960, suscitou numerosas iniciativas originais e de grande relevo: da fundação dos Escoteiros muçulmanos da França à Associação Terra da Europa, dos debates internacionais, na Unesco, por um Islã de paz, ao lançamento – por intermédio da Associação Internacional Sufi Alauita, por ele fundada – de uma campanha de mobilização internacional a fim de que a ONU institua o dia mundial do “Viver juntos”. Dia 26 de fevereiro passado, esteve em visita ao Centro Internacional dos Focolares e conversou com a presidente, Maria Voce, e o copresidente, Jesús Morán. Durante a visita foi possível dirigir-lhe algumas perguntas. A primeira, partindo dos numerosos projetos dos últimos anos, dizia respeito aos dias de hoje. «Para responder rapidamente a essa pergunta – sobre suas atividades atuais – afirma Bentounès, trabalho para converter-me ainda mais, converter-me à visão de um mundo mais fraterno, mais em harmonia, um mundo mais justo. Trabalho por este “circuito” de fraternidade, que eu possa vê-lo antes de deixar esta terra, possa ver realizar-se o sonho que grande parte da humanidade possui. Não sei se o verei, mas, pelo menos, tenho a convicção de que terei dado a minha contribuição». Sobre os motivos de esperança, em tempos em que a fraternidade dos povos parece não ter espaço, Khaled Bentounès diz encontrar razões para esperar «antes de tudo na riqueza da herança espiritual recebida de meus antepassados, na qual a fraternidade é imprescindível. Quando vejo da onde provenho, vejo um fio único, ininterrupto». «Acontece-me encontrar pessoas, na política ou na economia – acrescenta – que descrevem um mundo que ruma para problema insolúveis, e eu digo a eles o que disseram os nossos mestres: “Se vos dissessem que amanhã será o fim do mundo, o que fariam?”. Continuem a plantar e a semear! Não se preocupem excessivamente!. Façamos o que devemos fazer! Plantemos e semeemos o amor, a esperança e a fraternidade, aconteça o que acontecer! Mesmo se amanhã é o fim do mundo. Até que haja um minuto é preciso usá-lo. Pode ser que amanhã seja um outro dia, um outro mundo. E: perseverar!». Khaled Bentounès, que participou, em 1986, do encontro de Assis pela paz, com João Paulo II e os líderes religiosos mundiais, tem um conhecimento dos Focolares que remonta a um encontro com Chiara Lubich, nos anos 1980. O relacionamento continuou na França, até a recente colaboração para a outorga, em 2015, do Prêmio Chiara Lubich pela Fraternidade à associação “Viver juntos em Cannes”, da qual ele é um dos promotores. 20160304-01Qual a relação atual com os Focolares? Qual a sintonia de ideais? «Penso que o tempo – responde o xeique – fez fecundar esse relacionamento, e o encontro de hoje é também fruto do passado. Esta amizade permaneceu constante. A minha presença hoje, no Centro internacional, e o encontro com a presidente, Maria Voce, e com o copresidente, confirma que existe continuidade. Falamos da confiança recíproca, do projeto de dar uma visão mais fraterna ao mundo que nos circunda; de como movimentos espirituais de tradição cristã e de tradição muçulmana podem operar para dar o seu testemunho àqueles que desejam escutá-los. Não pretendemos mudar o mundo sozinhos, mas é um fato que entre tradições religiosas diferentes certamente existem liames que devem ser reforçados, para caminhar juntos, rumo a um futuro comum que se constrói um com o outro, e não um contra o outro». A entrevista terminou com a revelação de um sonho: «Existem academias de ciências, matemática, música, filosofia, militares – confidencia Khaled Bentounès – e não existem academias de paz. Por que? Não é suficiente o comprometimento espiritual. Nós precisamos ensiná-la. A paz não é algo que desce do céu, mas algo sobre o que se “trabalha”. É um estado existencial, uma visão do mundo, um comportamento. Existe a paz econômica, a paz social, a paz política. A paz diz respeito a tudo. A ecologia é uma forma de paz com a natureza». «Precisa aprender como criar a paz – continua -. Este é um projeto que está no meu coração! Como ligar paz e arte, paz e arquitetura? A paz pode ser transmitida, por meio da arte, às futuras gerações? Como é possível, através de uma economia solidária, criar a partilha dos saberes, da riqueza, de maneira justa, para além dos países? Trata-se de um sacrossanto “canteiro de obras”! Essa academia não é uma palavra, é um trabalho concreto que deve acompanhar as nossas ações em todos os campos». «Creio que é esta – conclui – a nossa espiritualidade, que nutre a consciência para ir mais longe e fazer com que todos participem». Leia a entrevista integral, em italiano

___

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

Buscar a paz: um caminho nas mãos de cada um

Buscar a paz: um caminho nas mãos de cada um

Eliminar qualquer desejo de dominar. Em um mundo constantemente dilacerado por conflitos, seguindo o apelo do Papa Leão XIV para construir uma paz “desarmada e desarmante”, partilhamos uma reflexão muito apropriada de Chiara Lubich, extraída de uma Palavra de Vida de 1981.

Em direção a uma pedagogia da paz

Em direção a uma pedagogia da paz

Como nos tornarmos agentes de paz na realidade em que vivemos todos os dias? Anibelka Gómez, da República Dominicana, nos conta, por meio de sua experiência, como é possível formar redes humanas capazes de semear beleza para o bem de comunidades inteiras por meio da educação.

10 anos depois da Laudato Si’, o “Projeto Amazónia”

10 anos depois da Laudato Si’, o “Projeto Amazónia”

O dia 24 de maio marca os 10 anos da publicação da Encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco. Um momento de celebração, de verificação do que foi feito e de a retomar e dar a conhecer a quem ainda desconhece o seu conteúdo. Conscientes de que “não haverá uma nova relação com a natureza sem um ser humano novo. Não ha ecologia sem una adequada antropologia” (LS, 118) apresentamos o “Projeto Amazónia”, contado por dois jovens brasileiros durante o Genfest 2024 realizado em Aparecida, Brasil.