Movimento dos Focolares

Paraguai: a longa primavera dos estudantes

Fev 16, 2016

Os últimos meses de 2015 ficarão na história do Paraguai como o período em que os jovens paraguaios se tornaram protagonistas da intervenção cívica. E isso continua ainda hoje. É o que nos contam os jovens dos Focolares sobre o seu compromisso nesta causa.

20160216-01Milhares de estudantes universitários denunciaram o sistema de corrupção que estava instalado na maior universidade estatal do País, a Universidade Nacional de Assunção (UNA). Tratou-se de uma longa primavera austral que se concluiu com a demissão em cadeia das autoridades académicas e com a negociação que levou à reforma de um estatuto concebido no tempo da ditadura. Os jovens universitários surpreenderam a todos pela sua seriedade e organização. Durante quase um mês, período em que ocuparam o Campus universitário, criaram um verdadeiro “Estado alternativo”: montaram a guarda às portas, controlando bolsas e bagagens para que não entrassem bebidas alcoólicas; criaram comissões que cuidavam da alimentação e dos serviços essenciais; com a ajuda de professores e estudantes dos últimos anos, organizaram um calendário de aulas supletivas; finalmente estabeleceram um calendário de provas para que ninguém perdesse o ano. Além disso, foi notória a inteligência demonstrada em não se deixarem instrumentalizar por ninguém. Tomaram como figura inspiradora o Papa Francisco, o qual se tinha encontrado com milhares destes jovens, quando da sua visita ao Paraguai. O seu apelo a “fazer confusão, mas depois organizá-la” foi acolhido plenamente. Entre os animadores desta revolta pacífica #UNAnotecalles (UNA não te cales) estiveram os jovens dos Focolares. Demos a palavra a Alexandra e Cecília, duas jovens estudantes de Medicina e Engenharia, respectivamente: «Tudo começou com um protesto sentado (sit-in) diante da Reitoria, para demonstrar a nossa indignação pelas recentes denúncias de corrupção. Depois, diariamente realizava-se uma manifestação pacífica, com microfone aberto a estudantes, professores e funcionários. Em seguida realizou-se uma vigília permanente em redor do edifício, conjuntamente com uma greve dos estudantes, exigindo a demissão do Reitor e seus colaboradores. O apoio de muitos cidadãos, com o envio de alimentos e outras coisas, deu-nos força para não ceder na luta, fazendo-nos compreender que esta era uma batalha de todos. Após 40 dias, conseguiu-se a demissão do Reitor e de outros 5 funcionários, bem como a imputação de outros 38, e finalmente as demissões dos decanos de todas as Faculdades. Para nós foi fundamental viver esta etapa em conjunto com os Gen que estudam na UNA, mas também com todos os outros que nos fizeram sentir o seu apoio, das mais variadas maneiras. Certos da promessa de Jesus de que, se estamos unidos no Seu nome, Ele está conosco, procuramos fazer com que isso fosse sempre realidade. Ele foi a luz que nos levou a difundir os valores evangélicos de amor, de verdade e de justiça, ajudando-nos a superar os momentos difíceis, que também não faltaram. Por vezes não é fácil controlar a multidão que parece deixar-se levar pelas emoções. Nestes momentos, quando não tínhamos a certeza do que seria justo fazer, juntávamo-nos para compreender juntos como nos comportarmos e quais as escolhas que devíamos fazer. 20160216-02Letícia, estudante de Serviço Social, conta-nos: «De início sentia-me um pouco confusa, porque nunca tinha vivido pessoalmente uma experiência semelhante, com tantos jovens gritando slogans, reclamando direitos e ocupando a universidade. Interrogava-me porque é que havia estas injustiças e o que é que eu devia fazer como cristã. Compreendi que devia estar com os estudantes, pondo-me ao seu serviço, procurando perceber as razões de cada um, mesmo daqueles que vivem frustrados. Trabalhar com todos e a todos dar coragem nos momentos de desencorajamento». Uma sua intervenção em que convidava os estudantes a “não terem medo” de eventuais repressões ou de perder o ano “porque aqui joga-se tudo por tudo”, foi difundida nas redes sociais. Para José, estudante de Física, «ir contra a corrente era uma coisa de todos os dias. Mas vivia-se um grande amor concreto entre todos os jovens presentes no Campus. Creio que a revolta que se vivia e se vive é sinônimo de juventude e, para um cristão, significa imitar um dos maiores “rebeldes” da história: Jesus de Nazaré. Era e é o momento de O imitar, não apenas no Campus, mas também nos outros âmbitos da vida, para sermos uma geração fiel aos Seus Ideais».

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