Movimento dos Focolares

Bruxelas: 75 anos da Declaração Schuman

Mai 23, 2025

Para acompanhar a Europa na realização de sua vocação – após 75 anos da Declaração Schuman – na sede do Parlamento Europeu em Bruxelas, em um painel de especialistas, expoentes de vários Movimentos cristãos e jovens ativistas deram voz à visão da unidade europeia como instrumento de paz. Foi um encontro promovido por Juntos pela Europa e parlamentares europeus.

A Europa continua falando de si, no centro de tensões internacionais e de debates calorosos cujo êxito incide na vida de seus cidadãos: são quase meio milhão vivendo na União Europeia. Paz versus defesa, guerra ou paz comercial, escolhas sobre energia, políticas de desenvolvimento e justiça social, identidade e diversidade, abertura e fronteiras: os temas na agenda são numerosos e, diante das mudanças do cenário interno e externo – antes de tudo a guerra da Ucrânia –, a releitura e a atualização da profecia de Robert Schuman e dos pais fundadores é não só atual, mas necessária.

Passaram 75 anos desde que o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, no dia 19 de maio de 1950, fez seu discurso revolucionário em Paris, que serviu de base para o processo da integração europeia. O 15 de maio 2025, na sede do Parlamento Europeu em Bruxelas, em um painel de especialistas, expoentes de vários Movimentos cristãos e jovens ativistas deram voz à visão da unidade europeia como instrumento de paz.

O evento ocorreu por iniciativa de Juntos pela Europa juntamente com alguns parlamentares europeus, a convite da parlamentar eslovaca Miriam Lexmann – ausente por motivos familiares – e reuniu na manhã do dia 15 de maio, uma centena de pessoas da Bélgica, Itália, Alemanha, Holanda, Eslováquia, Áustria, França, Grécia, Romênia. Estavam presentes cristãos católicos, ortodoxos e de Igrejas Reformadas; representantes da Comunidade Emanuel, ACM, Movimento dos Focolares, Schoenstatt, Comunidade de Santo Egídio, Quinta Dimensão, Comunidade Papa João XXIII: a variedade típica da rede de Juntos pela Europa. Quem lhe deu voz foi o moderador de Juntos pela Europa, Gerhard Pross, testemunha do começo de tudo: “Para nós, é importante exprimir a força da fé ao moldar a sociedade. Porém, não estamos interessados no poder ou no domínio, mas em levar esperança, amor e a força da reconciliação e de estar juntos, intrínsecos no Evangelho”.

Entre o público – e entre os relatores – destaca-se um forte grupo juvenil: 20 alunos da escola Spojená škola Svätá de Bratislava. Estudam cidadania ativa e direito europeu. Estavam em Bruxelas com seus professores para uma experiência que pode marcar seu percurso profissional e de vida. Entre eles, estava Maria Kovaleva: “Venho da Rússia e, para mim, Europa significa poder estar aqui, independentemente da minha proveniência ou da situação política no meu país ou na Eslováquia, e falar livremente – bem aqui, no coração da Europa. Para mim, a Europa sempre foi um lugar no qual não importa qual é a sua religião ou nacionalidade. Todos têm o direito de falar, e de falar sem censura. Esse é o tipo de Europa com que Robert Schuman sonhava”.

Peter, 16 anos, diz estar sinceramente impressionado, encontrando-se pela primeira vez em um local institucional onde são tomadas decisões importantes. É o representante dos estudantes e o que viveu em Bruxelas é, para ele, uma inspiração para o futuro, quando, por meio do gerenciamento ou comprometimento na política, pode exercer um papel de liderança.

Samuel tem 17 anos. Define esses dias como “uma experiência extraordinária para descobrir algo mais sobre o resto da Europa, como funciona a política, como o Parlamento trabalha; acho que posso falar em nome de toda a classe: foi extraordinário!”.

Outra representação estudantil vem da Itália. São 10 estudantes de ciências políticas e relações internacionais de LUMSA, em Roma. Daniele, primeiro ano de ciências políticas, ficou tocado em especial pelo momento da tarde: a oração ecumênica na “Chapel for Europe”. “Gosto do trabalho de Chiara Lubich, criar pontes para reunir todos, e pode-se ver o empenho de cada um que estava presente. Não é um encontro de sonhadores, mas uma busca concreta que leva a algo sólido.” Para Diego é um momento no qual a memória foi renovada e leva a continuar. É inspirado pelo mundial que se respira em Bruxelas, “um ponto de início para desenvolvimentos futuros” e gostou particularmente das falas dos parlamentares europeus.

Foto: H. Brehm / K. Brand / M. Bacher

De fato, de manhã estavam presentes Antonella Sberna (Conservadores e Reformistas europeus), vice-presidente do Parlamento Europeu e responsável pela aplicação do artigo 17º do TFUE, Leoluca Orlando e Cristina Guarda (Verdes). “Vocês são o exemplo do que a UE pode fazer pelos nossos polos e civilizações”, afirma a vice-presidente, dirigindo-se ao Juntos pela Europa. E convida os jovens presentes a “serem críticos, mas apaixonados”, a “estudarem bem a Europa” para estarem “juntos no serviço de corrigir o que não nos agrada e garantir a paz nas nossas fronteiras, como exemplo de união dos novos em respeito à soberania”.

Leoluca Orlando convida a “acolher o projeto de futuro que estava na ação de Schuman, cultivando uma memória inquieta” e lembra o princípio de fraternidade, que faz superar as polarizações históricas entre direita e esquerda sobre liberdade e igualdade. E, como exemplo de fraternidade, reporta “a experiência profética de unidade entre católicos e luteranos, graças à intuição de Chiara Lubich, em Ottmaring, na Baviera, um lugar no coração da Guerra dos Trinta Anos”.

Para Cristina Guarda, paz é a palavra-chave: “Como Movimentos Cristãos, peço que façam parte desta discussão que demanda a nossa coerência na busca pela paz. E, portanto, façamos escolhas justas e votemos corretamente para respeitar a paz”.

E é justamente a um projeto de paz que a Declaração Schuman aspira: Jeff Fountain, do Schuman Centre, oferece uma leitura das fundamentações espirituais da Declaração, do seu “corajoso discurso de três minutos”: “seu projeto não era somente político ou econômico. Lida em um nível mais profundo, a Declaração Schuman revela que o projeto é profundamente moral, espiritual, enraizado nos valores do coração. As instituições que contribuíram para inspirar – mesmo que imperfeitas – são uma defesa contra o retorno à política do domínio e da exclusão, do medo e do ódio”.

Mas quem deveria dar uma alma à Europa? Quem convida a refletir é Alberto Lo Presti: “Não deveríamos esperar que tal alma seja produto das instituições políticas europeias e transmitida a seus cidadãos. Não gostaria de viver em uma sociedade na qual as instituições me inculcam, no cérebro, uma visão do mundo. Quem faz isso, geralmente, são as organizações políticas totalitárias que, também aqui na Europa conhecemos bem: por exemplo o nazifascismo e o comunismo. Veremos a alma da União Europeia quando tal alma estiver visível nas escolhas cotidianas de seus cidadãos. Como Juntos pela Europa, queremos acompanhar a Europa na realização de sua vocação”.

Maria Chiara De Lorenzo
(de https://www.together4europe.org/)

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