Viver no mesmo prédio como estranhos. É o que acontece na maioria dos casos. Bastaria uma pitada de coragem e um simples gesto para realmente nos encontrarmos, um pouco como fez a família Scariolo. “O encontro com o outro é um enriquecimento recíproco, para além das culturas, das religiões e ideologias. Continuamos a fazer a descoberta de que o outro foi criado como um dom de amor para mim e eu para ele”. Com estas palavras Adriana e Francesco Scariolo, focolarinos suíços, 42 anos de casados, contam uma experiência que os enriqueceu de modo especial, alguns meses atrás. “Moramos no Cantão Ticino, na Suíça italiana, e faz um ano e meio que estamos em um edifício com 13 apartamentos. Nos dias antes do Natal de 2021, pensamos em fazer um giro porta a porta, para transmitir os nossos votos. A surpresa e a gratidão de todos os vizinhos foi muito grande: ‘Eu fui o primeiro inquilino deste prédio e nunca aconteceu que alguém viesse nos fazer os votos de Natal’, disse um deles. ‘Nós somos muçulmanos, mas também queremos desejar a vocês um Bom Natal’, reagiu um outro. Distribuímos também um convite a todos, para um momento de festa de Fim de Ano e de boas entradas de 2022, na nossa casa. Assim, no dia 29 de dezembro, tivemos um pequeno jantar com três famílias, uma muçulmana e duas cristãs, das quais uma evangélica e outra católica, respeitando as normas de segurança e usando rigorosamente as máscaras! Foi um lindo momento para cada um se apresentar com espontaneidade. ‘É muito bom saber que temos vizinhos com quem podemos nos ajudar, cumprimentar – afirmou o marido da senhora muçulmana – faz com que nos sintamos menos sós’. É algo que vocês já tinham feito no passado? Sim, não é a primeira vez que procuramos criar relacionamentos com os outros moradores. Tudo começou muitos anos atrás, quando ouvimos falar da “festa dos vizinhos”, uma iniciativa para criar ocasiões para que as pessoas se encontrassem. Percebemos que precisava um pouco de coragem e de fantasia para fazer a nossa parte, e tentamos. No início aproveitamos do Ano Novo colocando nas caixas do correio um cartão com os votos, depois, segundo as reações das pessoas, fazendo mais amizades, tentando organizar um almoço no jardim, com todos, antes do verão. Aconteceu, depois, que deixamos aquele condomínio para um período de voluntariado no exterior, que durou sete anos, mas na volta, desde que estamos neste novo edifício, quisemos manter a tradição. O que surpreendeu vocês nas reações deles? Ver os rostos sorridentes. Eles não esperavam por isso, especialmente num período delicado como este da pandemia. Além disso, era um presente poder terminar os últimos dias de 2021 com um momento de socialização, depois de tanto isolamento, um sinal de dá esperança e não freia a vontade de amar os outros e construir relacionamentos fraternos. No dia 2 de janeiro de 2022 recebemos outras famílias que tinham aceitado o convite, mas que, pelo distanciamento, não podíamos receber junto com as outras. Algumas contraíram a Covid e não puderam participar, mas o jantar com eles foi apenas adiado para tempos melhores. O que significa para vocês ir ao encontro do irmão? Quer dizer ir ao encontro da humanidade com gestos de amor simples e diários. Por exemplo, ajudar a vizinha que de vez em quando tem problemas com a TV, escutar o casal que acabou de ganhar um bebê, dissolver os muros da indiferença, do anonimato, que marcam os relacionamentos, e que a pandemia tornou enormes. A frase de Jesus, “tudo o que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” nos interpela. Sendo assim, cada próximo é realmente a pessoa que Ele coloca ao nosso lado para ser acolhida e amada. E quem está mais próximo do que os nossos vizinhos?
Maria Grazia Berretta
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