Movimento dos Focolares

A que serve a guerra?

Jun 19, 2025

Neste momento, em que o mundo está dividido por conflitos hediondos, compartilhamos um trecho do célebre livro escrito por Igino Giordani em 1953, com nova publicação em 2003: A inutilidade da guerra. «Se queres a paz, prepara a paz»: o ensinamento político oferecido por Giordani neste livro poderia ser resumido neste aforisma. A paz é o resultado de um projeto: um projeto de fraternidade entre os povos, de solidariedade com os mais frágeis, de respeito recíproco. Constrói-se, assim, um mundo mais justo; assim deixa-se de lado a guerra como prática bárbara, que pertence à fase mais obscura da história do gênero humano.

A guerra é um homicídio em grande escala, revestido de uma espécie de culto sacro, como era o sacrifício dos primogênitos ao deus Baal; e isso pelo terror que incute, pela retórica da qual se veste e dos interesses que implica. Quando a humanidade terá progredido espiritualmente, a guerra será catalogada ao lado dos ritos cruentos, das superstições de bruxaria e dos fenômenos de barbárie.

Ela está, para a humanidade, como a doença está para a saúde, como o pecado para a alma: é destruição e chacina e investe a alma e o corpo, os indivíduos e a coletividade.

[…]

«Tudo apetece paz», segundo São Tomás. Com efeito, todas as coisas apetecem a vida. Somente os loucos e os incuráveis podem desejar a morte. E morte é a guerra. Ela não é desejada pelo povo; é desejada por minorias para as quais a violência física serve a garantir vantagens econômicas ou, também, para satisfazer paixões perniciosas. Sobretudo hoje, com o custo, as mortes e as ruínas, a guerra se manifesta como um «massacre inútil». Massacre, e ainda mais inútil. Uma vitória sobre a vida, e que está se tornando um suicídio da humanidade.

[…] Ao dizer que a guerra é um «massacre inútil», Bento XV deu a definição mais precisa. O cardeal Schuster a definiu «uma matança de homens». Significa regiões inteiras destruídas, milhares e milhares de pessoas pobres, sem casa, nem bens, reduzidas a vagar por campos desolados, até que a morte não as aniquile de fome ou de frio.

[…] «As vantagens materiais que se podem obter de uma guerra vitoriosa, jamais conseguem compensar os danos que ela traz; tanto que são necessárias muitas gerações sucessivas para reconstruir, com intensa dificuldade, toda a soma de valores espirituais e morais que foram destruídos durante um excesso de frenesias bélicas»[1]. […] […]

O engenho humano, destinado a bem outros objetivos, concebeu e introduziu, nestes dias, instrumentos de guerra tão poderosos que despertam horror na alma de qualquer pessoa honesta, principalmente porque não atingem somente os exércitos, mas, frequentemente arrastam civis, crianças, mulheres, idosos, doentes, e com eles, os edifícios sagrados e os mais ilustres monumentos de arte! Quem não se horroriza em pensar que novos cemitérios se acrescentarão aos já numerosos do recente conflito, e destroços fumegantes, de vilas e cidades, acumularão outras infelizes ruínas?»[2] […]

[…]

Aos cuidados de Elena Merli

Igino Giordani,A inutilidade da guerra, Città Nuova, Roma, 2003, (terza edizione), p. 3
Foto: Capa: © RS via Fotos Públicas, Igino Giordani © CSC-Audiovisivi


[1] [1] Card. Schuster, mensagem natalícia 1950.
[2] Pio XII, «Mirabile illud», 1950.

___

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

Fraternidade

Fraternidade

A fraternidade, ser filhos de um único Pai, pode ser a raiz de qualquer pacifismo. Neste trecho do livro “Revolta católica”, Igino Giordani escreve quase uma invocação, um apelo poético que nos constrange a elevar o olhar, e abre os nossos olhos sobre quem é o irmão, aquele irmão que pode ser catalogado como inimigo, estrangeiro, migrante, mas é sempre irmão. É um apelo escrito no distante 1925 e pode tocar o âmago de nós, interpelando-nos a ser construtores de paz.