Movimento dos Focolares

A vivência do Evangelho: experimentar para crer

Mai 17, 2017

Carmen, uma jovem universitária portuguesa, começa a viver o Evangelho juntamente com outras pessoas. O modo de agir deles é contagioso, até o ponto de incidir nas instituições, e os interrogativos existenciais encontram respostas.

 Carmen_Catarino_b“Há questões muito difíceis, como a morte, o porquê das guerras, a violência, as separações, a discrepância entre ricos e pobres …  Muitas vezes eu falo com os amigos da faculdade –  estudo línguas e literatura na Universidade do Porto, no norte de Portugal -, mas ninguém consegue tirar de mim essas inquietações. Um dia alguém me fala sobre o Evangelho e me propõe de vivê-lo.  Eu não posso acreditar e me oponho, eu conheço muitas pessoas que se dizem cristãs, assim como eu, mas depois de dois mil anos as coisas são sempre as mesmas. Mas finalmente encontro alguém que se dispõe a me ouvir, e por um bom tempo posso desabafar as minhas dúvidas e preconceitos. Quando chega a hora de nos despedirmos, a essa pessoa fica o espaço para uma única palavra: “tente”. Na minha cidade, em Porto, eu moro em um apartamento com outras meninas. Naquele dia eu era a única que ficava em casa porque tinha que estudar para uma prova.  Uma senhora pobre bate na porta. O primeiro impulso é atendê-la rapidamente, mas aquela palavrinha “tente” não sai da minha cabeça, me desafiando a experimentá-la. Em casa não tinha muita coisa, mas finalmente encontro algo que poderia ser útil àquela senhora. Depois de algum tempo minha mãe me telefona: está na cidade para um check-up médico e quer garantir que eu esteja em casa,  porque trouxe uma cesta de frutas e carnes para nós. Meu coração está cheio de alegria, não tanto pelas coisas boas que ela nos trouxe e que nos alimentaria durante toda a semana, mas porque é a confirmação de que o Evangelho é verdadeiro. O pouco que eu tinha acabado de dar àquela senhora retorna a mim centuplicado, segundo a promessa “Dai e vos será dado”. Desta maneira, tem início um novo relacionamento com Jesus, que se consolida cada vez que eu tento reconhecer o seu semblante em cada pessoa que me passa ao lado. No meu aniversário, recebi um par de luvas de pele. Estava esperando já há algum tempo esse presente, porque o inverno aqui é muito frio. No ônibus eu vejo uma senhora tremendo de frio. E se eu der as minhas luvas? Foi pensar e agir. Desta vez eu quero ser mais rápida nesse jogo de amor, porque com aquele presente de aniversário Jesus já tinha me dado o cêntuplo, e eu ofereço as minhas luvas para ela que necessita mais do que eu. Estou indo para a aula quando uma senhora, com um bebê chorando em seus braços, me pede ajuda. Não quero me atrasar, tentando dar desculpas a mim mesma. Mas recordo aquela frase: “como eu posso dizer que amo a Deus que não vejo, se não amo o irmão que vejo?” (Jo 1:20). Eu olho para o relógio e tenho que lutar contra o pensamento de fugir, mas depois eu me interesso pela sua situação. Ela me conta que tinha deixado um filho no hospital, que está muito doente e que vive com o marido e oito filhos em dois cômodos muito pequenos. Naquele momento, não é que podia fazer muita coisa, mas prometi que eu ia visitá-la. No mesmo dia eu falei com outros jovens e famílias da comunidade do Movimento dos Focolares que comecei a conhecer, e cada um se oferece para ajudar no que pode. Juntos, arrecadamos as primeiras necessidades básicas (alimentos, roupas, coisas para a casa) e nos colocamos a disposição para fazer os turnos com as crianças para ajudá-las com a lição de casa e levá-las para brincar, enquanto a mãe pode dedicar-se ao outro filho no hospital. Ao mesmo tempo, nos organizamos para apresentar essa situação à Prefeitura, pedindo uma ajuda para encontrar uma moradia digna. Algumas semanas se passam, mas finalmente chega o tão esperado caminhão do Município para fazer a mudança para um bairro popular. Fui escolhida para levar o menor dos filhos para a nova casa. Jamais esquecerei aquele trajeto de ônibus, com aquele bebê nos meus braços que dorme sereno, sem saber da mudança que sinto dentro de mim desde quando comecei a viver o Evangelho. Os grandes interrogativos, mesmo que ainda existam, não permanecem mais sem uma resposta: sei que dando o primeiro passo, não só é possível envolver outras pessoas a amar, mas se pode realmente influenciar a sociedade “.      

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