Movimento dos Focolares

Abril de 2003

Mar 31, 2003

«Não o que eu quero, porém o que tu queres.» (Mc 14,36)

Jesus está no Horto das Oliveiras, no sítio chamado de Getsêmani. A hora tão esperada chegou. É o momento crucial de toda a sua existência. Ele se prostra por terra e suplica a Deus, chamando-o de “Pai” numa confidência cheia de ternura, para “afastar dele esse cálice” (cf. Mc 14,36), uma expressão que se refere à sua Paixão e morte. Jesus pede ao Pai que aquela hora passe… Mas no final se entrega completamente à vontade de Deus:

«Não o que eu quero, porém o que tu queres.»

Jesus sabe que a sua Paixão não é um acontecimento casual, nem simplesmente uma decisão dos homens, mas um plano de Deus. Ele será processado e rejeitado pelos homens, mas o “cálice” vem das mãos de Deus.
Jesus nos ensina que o Pai tem um próprio plano de amor para cada um de nós, que ele nos ama de amor pessoal e, se acreditarmos nesse amor e correspondermos com o nosso amor – é essa a condição -, ele fará com que tudo seja finalizado para o bem. Para Jesus nada aconteceu por acaso, nem sequer a Paixão e a morte. E depois aconteceu a Ressurreição, cuja festa solene celebramos este mês.
O exemplo de Jesus, o Ressuscitado, deve servir de luz para a nossa vida. Devemos saber interpretar tudo o que vem ao nosso encontro, o que acontece, o que nos rodeia e também tudo o que nos faz sofrer, como vontade de Deus que nos ama, ou como uma permissão de Deus que nos ama também deste modo. Então, tudo na vida terá um sentido, tudo será extremamente útil, mesmo aquilo que, na hora, nos parece incompreensível e absurdo, mesmo aquilo que nos pode fazer precipitar numa angústia mortal, como aconteceu com Jesus. Será suficiente que, junto com ele, saibamos repetir, com um ato de confiança total no amor do Pai:

«Não o que eu quero, porém o que tu queres.»

A sua vontade é que vivamos, que lhe agradeçamos com alegria as dádivas da vida; mas às vezes ela certamente não corresponde àquilo que imaginamos. Por exemplo, uma situação diante da qual temos que nos resignar, sobretudo quando deparamos com a dor; ou uma sucessão de atos monótonos espalhados ao longo da nossa vida.
A vontade de Deus é a sua voz que nos fala e nos convida continuamente; é o modo pelo qual ele nos expressa o seu amor, para nos dar a sua plenitude de Vida.
Poderíamos fazer uma representação disso com a imagem do Sol, cujos raios seriam a sua vontade para cada um de nós. Cada pessoa caminha ao longo de um raio, diferente do raio de quem está ao seu lado, mas sempre sobre um raio de sol, ou seja, na vontade de Deus. Portanto, todos nós fazemos uma única vontade, a de Deus, mas ela é diferente para cada um. Os raios, quanto mais se aproximam do Sol, mais se aproximam entre si. Também nós, quanto mais nos aproximamos de Deus, pela observância sempre mais perfeita da vontade divina, mais nos aproximamos entre nós… até sermos todos um.
Vivendo assim, tudo na nossa vida pode mudar. Em vez de procurarmos aqueles dos quais gostamos e amar somente a eles, podemos ir ao encontro de todos aqueles que a vontade de Deus coloca ao nosso lado. Em vez de preferir as coisas que mais nos agradam, podemos nos dedicar àquelas que a vontade Deus nos sugere e preferi-las. Se estivermos inteiramente projetados na vontade divina daquele momento (“o que tu queres”), seremos por conseqüência levados ao desapego de todas as coisas e do nosso eu (“não o que eu quero”). Esse desapego não é tanto resultado de uma busca proposital, porque se deve buscar só a Deus; mas o desapego acontece de fato. Então a alegria será completa. Basta mergulharmos no momento que passa e cumprir naquele instante a vontade de Deus, repetindo:

«Não o que eu quero, porém o que tu queres.»

O momento que passou não existe mais; o momento futuro ainda não está em nosso poder. Acontece como a um passageiro no trem: para chegar ao destino, ele não anda para frente e para trás, mas fica sentado no seu lugar. Assim, também nós devemos ficar parados no presente. O trem do tempo viaja por si. E nós podemos amar a Deus somente no presente que nos é dado, pronunciando o próprio “sim” fortíssimo, radical, ativíssimo à vontade dele.
Portanto, vamos amar aquele sorriso que devemos doar, aquele trabalho a ser executado, aquele carro a ser guiado, aquela refeição que devemos preparar, aquela atividade a organizar, aquela pessoa que sofre ao nosso lado.
Nem sequer a provação ou o sofrimento nos devem assustar se, com Jesus, soubermos reconhecer neles a vontade de Deus, ou seja, o seu amor para cada um de nós. Poderemos até mesmo rezar assim:
“Senhor, faze que eu nada tenha a temer, porque tudo aquilo que vai acontecer será a tua vontade e nada mais! Senhor, faze que eu não tenha outro desejo, porque nada é mais desejável do que a tua vontade exclusiva. O que importa na vida? Importa a tua vontade. Faze que eu não me assuste com nada, porque tudo é a tua vontade. Faze que eu não me exalte com nada, porque tudo é tua vontade.”

Chiara Lubich

 

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