A cidade de Timisoara, na Romênia, hospedou recentemente o encontro anual “Juntos pela Europa” com o tema “Chamados à unidade”. Esse encontro reuniu 51 movimentos representando mais de 300 realidades e comunidades cristãs da vasta rede de Juntos pela Europa.Criar espaços de vida nas fissuras No complexo contexto sociopolítico que a Europa está atravessando, os líderes de “Juntos pela Europa” se reuniram de 16 a 18 de novembro de 2023 em Timisoara (Romênia) para responder a uma pergunta importante: “Qual é o papel das comunidades cristãs na Europa hoje?”. Essa pergunta ganhou relevância diante de questões globais como os vários conflitos que estão ocorrendo, as dinâmicas migratórias, a crise climática. Herbert Lauenroth, historiador e membro do Comitê diretivo de Juntos pela Europa, destacou a crise que atinge todas as igrejas e evidenciou o peso do momento: “Onde está hoje a Europa, Juntos pela Europa? Na direção de qual tipo de Europa, na direção de qual tipo de ‘Juntos’ estamos nos movendo?”. Em um contexto de crescente incerteza, os participantes se perguntaram o que significa “Juntos pela Europa”, buscando discernir a direção e as perspectivas futuras. Desde as primeiras sessões era evidente que a escolha de Timisoara como sede do encontro adicionou mais uma camada de significado. A capital europeia da cultura de 2023 é uma testemunha da coexistência harmoniosa de diversas crenças cristãs, na qual comunidades diversas se encontram e prosperam na unidade. Gerhard Proß, moderador de Juntos pela Europa e responsável do CVJM (Christlicher Verein junger Menschen) de Esslingen (Alemanha), ofereceu uma perspectiva a partir da fé cristã: “Deus cria espaço nas fissuras”, disse, “Jesus mesmo entrou nas fendas mais profundas desse mundo”. Depois, explicou que a imagem de Cristo, com os braços abertos entre o céu e a terra, simboliza uma entrada profunda nas fraturas entre Deus e a humanidade, entre indivíduos, grupos, denominações e nações. Jesus desceu até as profundezas: “Ali criou um espaço de vida”. São palavras que tiveram um eco profundo, suscitando reflexões sobre como, diante dos desafios contemporâneos, as comunidades cristãs podem criar espaços de vida em meio a fraturas, tensões e incertezas. Cultivar a unidade Os participantes tiveram sessões de diálogo, se envolveram juntos em discursos intelectuais, laboratórios de experiências e momentos de oração. Seis workshops exploraram temas como a integração social, as perspectivas dos jovens, a ética e a não-violência, promovendo uma compreensão mais profunda da diversidade no interior da comunidade cristã. Um momento importante foi a visita ao Museu da Catedral Ortodoxa, seguido das vésperas na Catedral Ortodoxa da cidade, das quais participaram autoridades e líderes religiosos das diversas Igrejas presentes. Esses momentos de oração comum favoreceram um clima harmonioso, no qual a unidade e a diversidade conviviam. As falas na plenária e as atividades foram intercaladas com música e oração, criando um fio que caracterizou toda a conferência. Durante um dos seus cantos, o Coro Ecumênico Jovem convidou todos a abraçar os diversos modos de oração: “Sabemos que todos oramos do nosso modo. Vamos nos abrir para experimentar a oração do outro durante esses dias em Timisoara”. Foi particularmente forte o momento de oração pela paz no qual foram citados os conflitos no mundo todo, com atenção particular para a Ucrânia e o Oriente Médio. Todos os participantes prometeram se comprometer com a unidade, firmando um pacto de amor recíproco. Foi um momento que simbolizou a pedra angular sobre a qual se funda uma Europa fraterna. Coligar os valores às políticas No âmbito do projeto DialogUE, financiado pela União Europeia, o encontro anual de “Juntos pela Europa” confrontou também temáticas voltadas a desenvolver conselhos e recomendações para as políticas sociais da União Europeia. O professor Philip McDonagh, ex-diplomata irlandês e diretor do “Centro para as religiões, valores humanos e relações internacionais” da Universidade de Dublin, destacou a importância do artigo 17 do Tratado sobre o funcionamento da União Europeia (TFUE). Esse artigo promove um diálogo aberto e transparente sobre as principais questões sociais que a Europa deve enfrentar por meio de encontros de alto nível e seminários de diálogos e trabalho entre as instituições europeias e as Igrejas, assim como as organizações não religiosas e filosóficas. O professor destacou a contribuição das Igrejas no debate público, atingindo seus fundamentos filosóficos, valores de compaixão, cuidado, solidariedade e respeito pelo pluralismo. Espera que as Igrejas se esforcem para preencher os espaços entre os valores de alto nível e as políticas cotidianas, oferecendo uma perspectiva necessária sobre questões como a paz, a inclusão e a integração. Convidando a uma abordagem multilateral, evidenciou a necessidade de que a Europa seja percebida positivamente pela comunidade global e sublinhou a responsabilidade de considerar as perspectivas do Sul do planeta. Esperança na unidade Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, estava presente junto com o copresidente Jesús Morán e falou oferecendo palavras de esperança: “Gostaria de ter, junto com todos vocês, essa convicção: tudo é possível!”. As palavras dela convidaram a ter um olhar otimista, a reconhecer a humanidade compartilhada e a criar redes de fraternidade. Karram encorajou a rede “Juntos pela Europa” a abraçar os carismas nascidos do Evangelho, a se envolver no diálogo e a abrir espaços para buscar respostas tangíveis aos desafios contemporâneos. O bispo Josef-Csaba Pál de Timisoara expressou gratidão por esses dias: “Uma pequena semente dessa fraternidade, unidade e amor foi colocada em nós, nas nossas Igrejas, mas também na sociedade. A rede Juntos pela Europa é uma daquelas iniciativas maravilhosas em que Deus permitiu que as coisas boas crescessem no decorrer dos anos. Continuemos a trabalhar juntamente a todas as pessoas de boa vontade!”. Olhando para o futuro, foi anunciado o próximo encontro anual de Juntos pela Europa: será em Graz-Seckau, na Áustria, de 31 de outubro a 02 de novembro de 2024. As confissões cristãs presentes foram: Ortodoxos gregos, romenos, armênios e russos, gregos, romanos e veterocatólicos, protestantes, luteranos, reformados, anglicanos e Igrejas livres.
Da espiritualidade da unidade à pastoral generativa da Igreja; do encontro entre os jovens e Jesus ao papel fundamental do Espírito Santo no Sínodo sobre a sinodalidade. Esses são alguns dos temas que Jesús Morán, copresidente do Movimento dos Focolares, abordou em uma entrevista à emissora de televisão eslovaca TVLUX, em 6 de outubro de 2023. As imagens nos foram gentilmente cedidas pela TVLUX.Nestes dias, o sacerdote espanhol e copresidente do Movimento dos Focolares, Jesús Morán, visitou a Eslováquia. Ele conheceu vários bispos formadores e mais de 80 seminaristas em Nitra. Agora, está aqui no nosso programa. Seja bem-vindo. Quando dizemos Movimento dos Focolares, o que imaginamos? Qual o seu significado? O Movimento dos Focolares é um movimento da Igreja Católica cujo centro é o carisma da unidade. O grande teólogo Von Balthasar disse que cada carisma da Igreja é como uma visão de todo o Evangelho a partir de um ponto de vista. Pois bem, o carisma da unidade é todo o Evangelho visto a partir do testamento de Jesus: “que todos sejam um”. Portanto, o centro, tudo o que o Movimento faz no campo eclesial, no campo civil, no campo social, tem a ver com a unidade. Nós almejamos a unidade – unidade de tipo evangélico, como emerge do Evangelho. Unidade, que é uma forma de vida comunitária. Na verdade, pode-se dizer que a Espiritualidade da unidade é a espiritualidade de comunhão, por isso, enfatizamos muito o amor mútuo, o encontro com o irmão. Superar as divisões em um contexto social mais amplo. Propagar a fraternidade universal, certamente, mas o centro é essa oração. Por isso, dizemos sempre que queremos viver na terra, na medida do possível, como se vive na Trindade, ou seja, que a Trindade é comunhão de amor. A fundadora do seu movimento foi Chiara Lubich, que é bem conhecida aqui na Eslováquia. Desde o início, a liderança do movimento é sempre ocupada por uma mulher, o Presidente é sempre uma mulher, é por isso que você é copresidente. Por que é assim? Creio que tem a ver com o nome oficial do Movimento na Igreja, porque somos Movimento dos Focolares ou Obra de Maria. Na realidade, nos estatutos aprovados pela Igreja, fala-se de Obra de Maria. Por isso enfatizamos muito o princípio mariano da Igreja, que é um princípio materno, generativo, que revela uma Igreja acolhedora. Obviamente, o princípio mariano é melhor expresso pelas mulheres. Essa é a ideia. Devemos pensar que a Igreja é mariana, ou seja, Maria é o modelo da Igreja. O Vaticano II disse isso muito claramente: Maria é mãe da Igreja. Nesse sentido, queremos ser um reflexo dessa realidade. A presidência feminina, além de destacar a mulher, o que é um sinal dos tempos, almeja sobretudo evidenciar esse princípio mariano, um princípio tão necessário hoje. Parece ser muito necessário, lembrando aquilo que papa Francisco sublinha, ou seja, uma Igreja mais próxima do povo, uma Igreja em saída, uma Igreja menos clerical, menos masculina. Pois bem, tudo isso tem a ver com a presidência feminina do Movimento dos Focolares. Tem a ver com Maria, acima de tudo. Você veio à Eslováquia não só para conhecer os membros do Movimento dos Focolares, mas também os nossos bispos, sacerdotes, seminaristas. Esse encontro aconteceu em Nitra. Quais sentimentos o encontro com nossos sacerdotes despertou em você? A verdade é que estive com o bispo de Nitra e com outros bispos de várias dioceses, que participaram do encontro com seminaristas de 5 dioceses. Eu me senti muito acolhido, antes de tudo, muito acolhido. Depois, na sala, vi pessoas que seguiam Jesus, vi realmente muita pureza nos seminaristas, muita seriedade. Também alguns, depois do encontro e depois do jantar, quiseram aprofundar o que eu havia dito. Quiseram conversar comigo e percebi nas perguntas uma necessidade, uma urgência de querer ser sacerdotes em sintonia com os tempos atuais. Um sacerdote hoje que vive autenticamente o Evangelho, antes de tudo. Fiquei muito, muito edificado. Você deu bastante ênfase à pastoral generativa, do que se trata? A pastoral generativa é um conceito que vem em evidência nos últimos tempos. Especialmente no Ocidente, uma vez que estamos testemunhando – poderíamos dizer assim – um declínio da Igreja em termos numéricos. Antes, as igrejas estavam cheias, as pessoas participavam dos sacramentos. Muitas pessoas recebiam o batismo, faziam a primeira comunhão. Agora isso diminuiu drasticamente. Então, a questão é: o que está acontecendo? Parece que os métodos utilizados com sucesso durante tantos anos ou séculos não funcionam mais. Então, temos que pensar novamente na pastoral? A pastoral da geratividade não é uma nova pastoral, é como ir à origem da pastoral; e a origem de toda pastoral está em Jesus. E como Jesus evangelizou? Ele é o Evangelho vivo, e evangelizou por meio de encontros pessoais muito profundos. Ou seja, se olharmos para os Evangelhos, sempre que Jesus encontra alguém acontece algo significativo para a pessoa. Vemos isso com Nicodemos, com Zaqueu, com Mateus, com o centurião, com a mulher samaritana, com a mulher hemorrágica, com a mulher cananeia. Sempre acontece alguma coisa. Jesus gera algo no outro. Devemos passar do que se chama pastoral de enquadramento, que é o que tivemos de tipo quantitativo – quantos batizados, quantos se casaram este ano nesta paróquia – para uma pastoral que busca a qualidade, qualidade e não tanto quantidade. Perceber o que está acontecendo nas nossas paróquias. Existe vida cristã nas nossas paróquias? Buscar uma maior fecundidade, e não apenas os resultados. Essa é a pastoral generativa. Portanto, enfatiza muito o encontro com o outro: para encontrar o outro não é preciso esperar que ele venha pedir um sacramento, é preciso ir ao encontro do outro. Portanto, a pastoral generativa muda a ideia do Pastor, muda também a ideia dos cristãos. Sem dúvida são necessários apóstolos que gerem, mas acima de tudo é necessária uma comunidade. acolhedora. Deve continuar acontecendo aquilo que acontecia com Jesus: as pessoas participam da comunidade e ali alguma coisa acontece. Elas são tocadas por algo. Isso, em resumo, é o que temos conversado com os seminaristas. Será que os jovens de hoje procuram a vida e o que eles precisam é que lhes levemos essa vida, que é a vida com Jesus? Sem dúvida. Acho que… sempre pensei que Jesus nunca abordava as pessoas com doutrina. Ele estava sempre em busca de um encontro pessoal, depois ensinava. Embora vejamos Jesus ensinando, percebemos que Ele dedicou muito tempo a esses encontros pessoais. Por isso acredito que os jovens de hoje procuram a vida. A doutrina tem que ser baseada na vida e no encontro com Ele, para que possam aceitá-la. Caso contrário, o cristianismo se torna apenas algo ligado à moral ao ensinamento, mas o cristianismo não é isso. O cristianismo é um encontro com Cristo. Esses jovens que você encontrou em Nitra são os futuros pastores da nossa Igreja. Como podem ser os pastores de que necessitamos neste tempo e para que não caiam no clericalismo de que tanto fala o Papa Francisco? Acredito que um Pastor de alguma forma tem que, mais do que pastorear – que é uma palavra que até mesmo o Papa Francisco usa quando fala em italiano, ele a usa assim em espanhol – ele tem que amar. Primeiro amar, depois pastorear. Se alguém se coloca na posição de pastorear, se coloca numa situação de superioridade como se tivesse que ensinar. Depois, por outro lado, o pároco hoje tem que amar primeiro os paroquianos, tem que amar todos os fiéis. E assim ele é um pastor. Esse é verdadeiramente um Pastor, é assim que ele tem autoridade sobre os outros. Isso é fundamental. É o que disse antes: não buscar tanto os resultados, mas a fecundidade. Outra coisa. Hoje o pastor tem que estar muito atento para não anunciar a si mesmo. Ele anuncia Cristo, portanto, tem que estar profundamente inserido em Cristo, profundamente em Cristo. Um pastor isolado, que não vive em uma comunidade cristã, que não vive o amor mútuo com os outros, dificilmente poderá comunicar o amor que Jesus proclamou na sua vida. Você disse uma palavra que me fez pensar que isso acontece não só com os sacerdotes, mas também com os cristãos que vivem profundamente a sua fé, porém, às vezes esquecem que não são eles que salvam as pessoas, mas é Jesus. Exato. Isso é importante. É por isso que enfatizo muito a comunidade. São Paulo, na primeira carta aos Coríntios, alerta contra o personalismo, quando alguns dizem que são de Apolo, outros dizem que são de Paulo, outros que são de Pedro… Não, somos todos de Cristo, mas Cristo vive na comunidade, na comunidade paroquial. Na comunidade, Ele está presente na Eucaristia, que é mistério de comunhão. Isso é fundamental. Muitas vezes caímos no erro de anunciarmos a nós mesmos com as nossas ideias, em vez de deixar que seja Cristo a falar. A Eslováquia é considerada um país bastante conservador, agora no momento do Sínodo que se realiza em Roma, no Vaticano. Existem vários movimentos que querem avançar e outros que retrocedem. Como manter todo o bem, mas também avançar com a novidade e o bem? Fiquei muito impressionado com o que o papa Francisco disse anteontem, na primeira sessão do Sínodo. Insistiu muito que o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo. E o Espírito Santo está além desses esquemas que são humanos. Um cristão, enquanto cristão, não é conservador nem progressista, é uma pessoa nova, é uma nova criatura. Lemos isso nestes dias na Carta de São Paulo aos Gálatas. É o Espírito Santo quem nos torna novas criaturas, com a nossa mentalidade. Permanecemos com a nossa mentalidade, aquilo que somos. Acredito que temos que superar esses dualismos que não são bons para a Igreja. O Espírito Santo sempre gera novidades. Ele, está na origem de todos os carismas, de todas as novidades da história da Igreja. Ao mesmo tempo, tudo o que o Espírito Santo promove na Igreja vem do Pai. Portanto, Ele também está ancorado na origem. Isso nos diz que é necessária uma maior presença do Espírito Santo na Igreja. Essa é a única maneira de superar esses dualismos que não nos fazem bem. Muito obrigado. Obrigado ao padre Jesús Morán pela presença no nosso programa. Obrigado por me receberem. Muito obrigado a todos e até o próximo programa.Ver o vídeo (ativar legendas em português)
Duas semanas intensas de tournée do Gen Verde em Portugal que, desde o final de julho aos inícios de agosto de 2023, de norte a sul do país, entre workshops de arte e concertos, com a ajuda de muitos jovens, conseguiu transformar a música em instrumento de testemunho e encontro com o outro. Partiram de Braga (Portugal) para depois irem ao sul do país, ao Algarve, concluindo a viagem em Lisboa, no ambiente festivo e inebriante de uma Jornada Mundial da Juventude cuja bela memória ainda se respira. Este é o caminho que o Gen Verde international Performing Arts Group, grupo musical feminino nascido em 1966 por inspiração de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, realizou de 23 de julho a 4 de agosto. Uma tournée intensa para promover o encontro e a amizade e na qual, depois de semeada em palavras e notas, muito se colheu em termos de vivência. Exemplo disso é o Start Now Workshop Project (Projeto Comece Já, n.d.t.), um projeto musical e artístico de educação para a paz e para o diálogo realizado pelo Gen Verde que contou, em Braga, com a participação de um grupo de jovens da Espanha e de Portugal e a especial colaboração com o Projeto Homem Braga, especializado no tratamento, prevenção, redução de danos e reintegração de pessoas com dependências. “Costumamos sentir um pouco de medo quando convidamos pessoas de fora para conhecer os usuários do nosso centro – afirma uma das educadoras da sede do Projeto Homem Braga após reunião com os artistas – porque não queremos atrapalhar o processo de recuperação. Mas hoje queremos lhes agradecer por trazerem tanta alegria a todos nós”. “Descobrimos que a música, a dança e a arte podem realmente nos ajudar a superar muitas barreiras, como linguísticas e culturais”, diz um menino espanhol que participou da oficina. “Às vezes é difícil remar na mesma direção, é preciso paciência porque nem todos vamos no mesmo ritmo, mas uma coisa que carregamos conosco é a alegria que se transmite, além das dificuldades. O amor nos faz superar todos os conflitos”. Ao som de Girl On A Mission (Magnificat), canção composta pelo Gen Verde para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Lisboa, o grupo deslocou-se para Faro, no sul do país, onde participou nas Jornadas nas dioceses que antecederam a JMJ e se concluíram com concerto no Estádio Algarve, em 31 de julho. Depois, a viagem continuou rumo à capital portuguesa para mais uma edição do “Start Now” (“Comece Já”, n.d.t.) em que participaram cerca de 100 jovens que, no final, dia 2 de agosto, atuaram com as artistas no palco do Auditório da Faculdade de Medicina Dentária em Lisboa completamente lotado. “Foi muito gratificante participar numa atividade como esta – diz uma das jovens – porque pudemos aprender e conhecer outras pessoas. Entendemos que é importante tanto dar a nossa opinião quanto, quando necessário, saber perder essa ideia no trabalho em equipe. A palavra que resume tudo o que aprendemos é humildade, dar ao outro a oportunidade de se expressar”. Aprender a superar desafios como – diz outra jovem – “o de saber ouvir, captar as ideias dos outros, aprender a interagir; deixar a timidez e criar algo bonito, mas juntos”. Marita Alvarez (Argentina), cantora do Gen Verde, nos conta: “encontramos muitos jovens que participaram de nossas oficinas artísticas em muitos países ao longo dos anos e, assim, entendemos o quão profundas, verdadeiras e duradouras essas relações foram. Da Eslováquia, Polônia, Ucrânia, Espanha, Áustria, Alemanha e Itália, para citar alguns, vimos esses jovens como líderes de suas comunidades, comprometidos e prontos para multiplicar a alegria através do “Magnificat anima mea” que Deus tem feito em suas vidas”. Em plena JMJ, Lisboa colore-se de jovens e torna-se uma oportunidade única para testemunhar e, ao mesmo tempo, experimentar a vivacidade de uma Igreja peregrina que, de todas as partes do globo, chama pelo nome. E foi neste espírito de família que o Gen Verde participou no segundo dia da catequese Rise Up (Levantar, n.d.t.) organizada pelo Movimento dos Focolares, onde cantou e animou a missa juntamente com mais de 7.000 jovens, para depois concluir a sua viagem em Portugal com um concerto, dia 4 de agosto, na Alameda Dom Afonso Henriques, no final do Festival Halleluya. “Fiquei muito impressionado com a unidade entre as componentes do grupo – disse Jesús Morán, co-presidente do Movimento dos Focolares – e os jovens ficaram muito felizes, todos envolvidos no ritmo, na música. Mas também nos momentos de profundidade, que não faltam nas canções, os jovens souberam participar com o recolhimento. Podemos imaginar a Via Crucis: foi como a ‘décima quinta estação’, que não existe, mas que, como todos dizem e imaginam, é o sinal da Ressurreição. Foi como um cântico à Ressurreição, à alegria. Creio que esta é a forma certa de comunicar o Evangelho com uma linguagem musical que tanto agrada aos jovens”.
Durante a Jornada Mundial da Juventude de 2023 em Portugal, o percurso de DIALOP vai um passo além. 134 jovens de 20 países participaram do “Comunicação em tempos de guerra” promovido pela DIALOP durante a JMJ para discutir como as mídias sociais e a tecnologia digital podem se tornar armadilhas de conspiração e interesses tendenciosos durante os conflitos.
O percurso
Cristianismo e socialismo – dois movimentos com características muito diferentes – há muito tempo estão em desacordo um com o outro, mas ambos moldaram a história mundial nos séculos passados. Partindo da ideia de que os grandes desafios do mundo atual não podem ser resolvidos sozinhos, DIALOP promove o diálogo entre pessoas de boa vontade, com formação secular e religiosa, especialmente entre socialistas/marxistas e cristãos, para criar uma ética transversal transformadora.
Trazer o DIALOP para a Jornada Mundial da Juventude faz parte do “Projeto Diálogo” que, em colaboração com a Comunidade Europeia e envolvendo 14 organizações da sociedade civil, explora e desenvolve o diálogo muitas vezes desafiador entre diferentes grupos, para moldar uma Europa cada vez mais expressão daquela “unidade na multiplicidade”.
A preparação, que envolveu especialistas cristãos e marxistas-socialistas, começou seis meses antes do evento, um tempo movimentado e cansativo rumo à JMJ. Os desafios foram muitos, como encontrar uma forma dinâmica de mediar conteúdos pesados como conflito e comunicação, idiomas, países e diferentes origens. “A emoção foi a de se deparar com uma geração sedenta de verdades e esperanças tranquilizadoras, fundamentadas e claras e de poder dar alguma”, diz Luisa Sello, uma das coordenadoras do projeto.
Jovens em diálogo
A guerra e seu potencial destrutivo influenciam a estrutura da comunicação, transformam a percepção dos fatos e exploram a linguagem e as mentalidades. Nesse contexto, as mídias sociais e a tecnologia digital podem se tornar armadilhas para conspirações e interesses tendenciosos. Podemos nos aproximar da verdade? Podemos revidar ou estamos fadados a destruir relações com seres humanos, países, populações por causa de mentiras e desinformação? Como podemos continuar a fazer escolhas, construir relacionamentos e ficar do lado da verdade e da justiça?
Todas estas questões foram abordadas no workshop que envolveu os jovens na construção de propostas para a União Europeia, que serão recolhidas e apresentadas à UE no âmbito do projeto de financiamento da Comissão Europeia CERV (Programa Cidadãos, Igualdade, Direitos e Valores) em março de 2024. Após os painéis e dinâmicas de discussão, a pergunta “o que podemos fazer?” ecoou entre os jovens. O desejo de fazer parte de uma transformação como agente de mudança está no coração de cada jovem presente.
Steven, dos Estados Unidos, que quer ser sacerdote e viajar para o exterior para ajudar as pessoas, compartilhou suas preocupações: “Não posso nem dizer aos meus pais para parar de ler fontes de informação que são problemáticas. Quando Jesus voltou de Nazaré, ele foi rejeitado por sua família. Muitos de nós perderam a esperança. Onde podemos reencontrar a esperança? Por isso estamos aqui na JMJ”.
Adriana, uma estudante de jornalismo da Argentina, sentiu-se encorajada pelo workshop: “Nosso papel como jovens é muito importante para combater a desinformação e também pode ser feito de uma forma divertida. Se criarmos uma comunidade podemos ser mais fortes.”
Ruma a uma ética transversal
O curso da história não depende apenas da força das ideias, mas sobretudo da evolução dos interesses políticos e econômicos que muitas vezes integram apenas pálidos reflexos dessas ideias. O convite do Papa Francisco em 2014 que inspirou o DIALOP a iniciar um diálogo transversal continua a se desenrolar.
Questionado por um jovem sobre como criar um quadro ético comum na presença de tantas divisões, Walter Baier, presidente do Partido da Esquerda Europeia, respondeu: “O Papa Francisco disse que devemos aceitar o conflito como algo natural, o que devemos saber é o que fazer com o conflito. O fato de cristãos e marxistas de tradições muito diferentes, mesmo com idiomas muito diferentes, poderem sentar-se juntos e trabalhar em uma estrutura comum é um exemplo de diálogo”.
Também participaram dos debates Angelina Giannopoulou, da Transform! Europe, e José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda, assim como Michele Zanzucchi e Ana Clara Giovani, da Sophia University, e Maria Chiara de Lorenzo, do Movimento dos Focolares. No futuro, dentro do projeto Diálogo, o DIALOP organizará outros simpósios sobre ecologia e políticas sociais. Para obter mais informações, faça login em https://dialop.eu.
Um canto uníssono entoado pelos jovens de todo o mundo. O padre João Paulo Vaz, sacerdote de Coimbra (Portugal) é o compositor da letra do hino da JMJ de Lisboa 2023, transformado em música por Pedro Ferreira, professor e músico. Dois jovens do Movimento dos Focolares (Gen), Lourdes Catalán e Ivan Ho, o entrevistaram. Falta realmente pouco para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2023 e pelas vielas de Lisboa (Portugal), cidade onde ocorrerá esse evento global, já é possível escutar a voz dos primeiros jovens que estão chegando e cantam “Há Pressa no Ar”, hino oficial inspirado no tema “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lucas 1:39). Vamos descobrir com o padre João Paulo Vaz, sacerdote da diocese de Coimbra e compositor do hino, como ele nasceu. Lourdes: Padre João Paulo, o que representa para o senhor a JMJ e como decidiu participar do concurso para a seleção do hino de Lisboa 2023?Padre João Paulo Vaz: Participei de 5 JMJs na minha vida (Paris, Roma, Toronto, Colônia, Sidney e Madrid), algumas inclusive como responsável da pastoral juvenil da diocese. Cada uma delas marcou o meu percurso como homem, como cristão e como sacerdote. Foram experiências muito intensas de fé e de comunhão e, algumas coisas em particular, deixaram uma marca. Uma delas sempre foi o hino. Quando chegou a notícia de que poderíamos participar do concurso para compor o hino de Lisboa 2023, fiquei muito contente, seja pela minha experiência pessoal, seja como compositor. Decidi apresentar a letra, mas, a um certo ponto, descobri que tinha me esquecido de me inscrever a tempo porque era preciso demonstrar interesse em participar, mesmo antes de apresentar a composição. Quando percebi isso, fiquei muito triste, mas Deus nunca nos deixa sós. Um grupo de participantes que havia se inscrito a tempo e tinha somente a base musical me perguntou se poderia utilizar a minha letra e entrei no concurso. Pouco depois, fiquei sabendo com grande alegria que a minha canção havia sido escolhida. Fiquei muito feliz, porque senti realmente que isso era uma resposta de Deus ao meu desejo. Ivan: Qual mensagem o senhor queria transmitir pela composição desse hino?Padre João Paulo Vaz: Em primeiro lugar, a mensagem que pensei em passar para cada jovem é “Jesus vive e não nos deixa sós: não mais deixaremos de amar”. Por isso, com ele “todos vão ouvir a nossa voz”, como explica a canção, porque não há medo. A letra toda vai nessa direção e Maria, protagonista dessa JMJ, na simplicidade e na humildade da sua figura, representa todas essas coisas: ela que, por primeira eleva a sua voz porque leva consigo Cristo; é a primeira evangelizadora que revela também a nós, com o seu “sim” e a caminho do encontro com Isabel, como levá-lo aos outros. Ivan: Em Lisboa, esperam receber muitos jovens do mundo inteiro. Como se sente ao pensar que todos cantarão esse hino juntos?Padre João Paulo Vaz: É muito importante dizer que, a partir do momento em que a canção é escolhida como hino da JMJ, não nos pertence mais, não é mais nossa. Não é mais a minha letra nem a música composta por Pedro Ferreira. É o hino da JMJ de Lisboa 2023. Eu cantarei com os outros: essa será a maior alegria. Lourdes: Se pudesse sintetizar o hino em uma ou duas palavras, quais seriam?Padre João Paulo Vaz: A primeira é “profundidade”, que significa descobrir quem somos, descobrir Cristo em nós e viver a partir dali; a segunda é “coragem”, para ser a presença de Deus no mundo, para anunciar a vida. É nessas duas palavras que, na minha opinião, floresce a experiência da fé. Ivan: Qual é a sua mensagem pessoal para os jovens de hoje?Padre João Paulo Vaz: Gostaria de usar as palavras do Papa Francisco, pronunciadas em um dos vídeos promocionais da JMJ, no qual convida a ir em frente sem medo, construir um mundo melhor e ser protagonistas. Precisamos tanto que os nossos jovens deem mais valor ao mundo, que voltem aos valores verdadeiros. É necessário abandonar o medo e estar conscientes de que são eles mesmos, os jovens, que construirão um futuro melhor. Então, querido jovem, você não pode ficar parado, observando o mundo da poltrona: deve se levantar e partir, como Maria. A JMJ, e esta em particular, é uma oportunidade para dizer que você acredita e que está disposto a fazer aquilo que Deus lhe pede; mais do que qualquer outra coisa, você não está sozinho nisso. Um mundo inteiro de jovens e o papa estão prontos a caminhar com você.