Fev 8, 2019 | Sem categoria
O que têm em comum Medellín, Katowice e Kingersheim? Apesar da distância cultural, aquilo que as acomuna é o projeto social e civil. Estão geograficamente situadas em dois continentes diferentes e em três áreas culturais distantes. Trata-se de Medellín (Colômbia), Katowice (Polônia) e Kingersheim (França). São cidades que acolheram o desafio de pôr no centro o bem comum no sentido mais autêntico e não como soma de interesses particulares. Administrações e cidadania trabalharam para encontrar um caminho para romper egoísmos, pobrezas, solidões e reconhecer-se irmãos. Os protagonistas em campo são respectivamente Federico Restrepo, Danuta Kaminska e Jo Spiegel que no Congresso “Cogovernança. Corresponsabilidade nas cidades hoje” contaram as suas três histórias, diferentes, mas com um único leitmotiv. A primeira história é contada por Federico Restrepo, engenheiro e ex diretor da EPM – Empresas Públicas de Medellín (Colômbia) que, junto com outros amigos, não se rendeu diante da inevitabilidade da situação que parecia maior do que as suas forças. Medellín – cidade que conta quase três milhões de habitantes –, como muitas outras cidades sul-americanas demonstra uma forte tendência de crescimento das áreas urbanas em detrimento da população rural.
“Em alguns bairros de Medellín se acham populações que procuram construir uma sua cidade na periferia da cidade” conta Restrepo. A alguns anos foi dado início a uma experiência-piloto nos bairros nascidos de migrações forçadas para atuar projetos urbanos integrais. A imigração, em aumento na Colômbia inclusive por causa da crise venezuelana, não se resolve construindo muros: “Temos a responsabilidade – continua – de construir relações entre as cidades para poder resolver este problema social que a nossa sociedade está atravessando”. Mas não é somente uma questão de urbanística. Outros desafios se apresentam para redescobrir o coração da cidade e fazê-lo pulsar. A experiência que Danuta Kaminska conta, atua como um elo entre o continente americano e a Europa.
Administradora pública no Conselho da Silésia Superior, na Polônia, ela apresenta histórias quotidianas, mas ao mesmo tempo extraordinárias, de acolhimento por parte dos cidadãos de Katowice para promover a inserção dos migrantes, na maioria ucranianos. Só no ano passado, eles atingiram o número de 700.000. “Para ativar a cogovernança na nossa cidade entendemos que é preciso apoiar os cidadãos. Colabora-se com as comunidades religiosas e as organizações não governamentais para a integração, como por exemplo o apoio às comunidades judaica e muçulmana”. Katowice, dois milhões de habitantes, sofreu nestes anos uma profunda mutação, transformando-se de cidade industrial a sito UNESCO, e foi sede da Conferência das Partes sobre Mudança do Clima de 2018 (COP24).
Se a cidade é um espaço de transformação, se a democracia deve ser fraterna, é preciso cultivar a participação e a espiritualidade. Estamos falando de administradores que se tornam facilitadores dos processos decisionais e Jo Spiegel, prefeito de Kingersheim, cidadezinha francesa de cerca de 13.000 habitantes, continua a não se poupar, com todas as forças, para restituir à sua cidade um semblante multiforme onde possam coexistir culturas e gerações diferentes. “Vinte anos atrás – conta o prefeito – fundamos um ecossistema democrático participativo, dando vida à ‘Casa da Cidadania’, um lugar privilegiado onde se aprende a viver juntos, cidadãos e políticos”. Mais de quarenta, os projetos levados a termo como a revisão do plano urbanístico local, o planejamento do tempo da criança, a criação de um lugar de culto muçulmano. “A fraternidade não se delega, não se decreta. Está dentro de nós, está entre nós. Constrói-se.”
Patrizia Mazzola
Jan 28, 2019 | Sem categoria
Em Trieste (Itália) histórias de acolhida no dia a dia. A narração de quem a vive em primeira pessoa. “Junto com a Caritas e com o Consórcio Italiano de Solidariedade (ICS) nos ocupamos sobretudo de famílias de migrantes e refugiados com os seus filhos, alojados numa estrutura de primeira acolhida na nossa cidade, Trieste, e na província. Faz três anos, toda semana, com continuidade, ativamos ações concretas: um grupinho de nós ensina italiano às mães de modo a fazer com que elas completem os cursos de estudo para ajudá-las a enfrentar melhor a cotidianidade; outros brincam com as crianças e as acompanham nas tarefas escolares. Muitas famílias já passaram pelo centro e com quase todas permaneceu um relacionamento, inclusive após a transferência delas para outras casas.
Depois, em colaboração com AFN – Associação Famílias Novas, encaminhamos um projeto, autofinanciado por algumas pessoas da comunidade, para ajudar especialmente uma família de nacionalidade curda em dificuldades que, depois de dois anos de apoio, agora alcançaram a sua autonomia, permitindo a eles que morassem num apartamento alugado graças ao emprego que finalmente o pai tem agora. Com outros pequenos projetos estamos sustentando as exigências de outras famílias, fazendo de modo que as mães possam seguir cursos de especialização para um possível trabalho e as crianças possam se integrar nas várias atividades com os seus colegas, por exemplo nas atividades esportivas. Nós os acompanhamos nas consultas e terapias médicas, na procura da casa, encontramos alguns pequenos trabalhos para as mães, pudemos inscrever um pai na autoescola e hoje trabalha dirigindo os caminhões numa empresa do porto. Com a ajuda de algumas famílias, pudemos fazer com que inclusive uma mãe viúva africana, com duas crianças, participasse de umas “férias com famílias”, pois estava precisando. Procuramos viver momentos de vida quotidiana com eles, como os aniversários, os passeios aos parques no domingo, uma excursão de barco, o ano novo, o carnaval, mas também momentos de oração, como por ocasião do Ramadã com quem é de religião muçulmana. Domingo, 25 de novembro de 2018, quisemos responder concretamente ao apelo do Papa Francisco que instituiu o dia mundial dos pobres: “Este pobre grita e o Senhor o escuta” e convidou assim cada cristão e as várias comunidades a escutarem este grito e a procurar oferecer respostas com gestos concretos. Acrescentou: “Para que este grito não caia no vazio”. Assim, pensamos em organizar um almoço – denominado “Festa da Amizade” – no espírito de partilha com pessoas em dificuldades: refugiados, exilados, desempregados, pobres da nossa cidade. Conseguimos envolver também a nossa comunidade dos Focolares pedindo uma ajuda concreta seja para o almoço seja para a ajuda na sala e também, aos próprios amigos que foram convidados, foi pedido, para quem podia e dispunha de uma cozinha, que contribuísse com uma porção de comida típica dos seus países de proveniência. Éramos umas oitenta pessoas: da República dos Camarões, Nigéria, Egito, Tunísia, Rússia, Paquistão, Curdistão, Kosovo. Com nossa surpresa, para a Caritas estamos nos tornando um ponto de referência, um “projeto” que vai além do assistencialismo. Chamam-nos para compartilhar programas, projetos e, em algumas ocasiões, até mesmo para buscar soluções. Parece-nos que tenham ficado envolvidos por este nosso modo de fazer acolhida que, concluída a fase de emergência, mira na reciprocidade. Sentimos que, no meio deste caos, onde cada um talvez não encontra um ponto de referências de valores, como o de acolher os últimos, não podemos parar, mas devemos continuar a dar esperança”.
Paola Torelli Mosca em nome do grupo de acolhida de migrantes de Trieste
Fonte: www.focolaritalia.it
Jan 24, 2019 | Sem categoria
A iniciativa foi promovida pela «Cátedra Ecumênica Internacional Patriarca Atenágoras – Chiara Lubich», instituída em seguida ao doutorado honoris causa conferido ao mesmo Patriarca Bartolomeu em 2015. “Continuai o percurso que empreendestes pelo caminho do diálogo, porque ele é reconciliação, é encontro, é capacidade de compreender, é filantropia divina, é acolhida do diferente, é transfiguração do mundo, é acolher Deus na história humana. Levai esta mensagem a todos aqueles que a qualquer título participam da obra do Vosso Instituto, abraçando fraternamente a Presidente do Movimento dos Focolares, Maria Voce e todos os irmãos e irmãs do Movimento. O Patriarcado Ecumênico é também a Vossa casa, esta cidade de Constantino é também a vossa cidade, porque não sois estrangeiros, mas sois amigos para nós”. São os votos finais que o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, dirigiu a 30 entre docentes e estudantes do Instituto Universitário Sophia (Loppiano) de diferentes países que, juntamente com o reitor, Mons. Piero Coda, foram à sua sede no Fanar (Istambul – Turquia).
A visita da delegação de Sophia ao Patriarcado ecumênico se realizou de 8 a 12 de janeiro e foi promovida pela “Cátedra ecumênica internacional Patriarca Atenágoras – Chiara Lubich”, instituída em seguida ao doutorado h.c. conferido ao Patriarca Bartolomeu no dia 26 de outubro de 2015 para “fazer memória e relançar o espírito profético que animou a extraordinária sintonia de coração e de mente entre o Patriarca Atenágoras I e Chiara Lubich, logo após o Concílio Vaticano II e o histórico encontro do Patriarca com o Papa Paulo VI”. A missão acadêmica previa, entre outras coisas, junto com a audiência com o Patriarca, o encontro com o Metropolita Gennadios Zervos, presente nestes dias em Istambul para o Santo Sínodo, e com o Metropolita Elpidophoros de Bursa no Mosteiro da Santa Trindade na ilha de Halki (Turquia), que aconteceu no dia 10 de janeiro. Deste encontro nasceram fecundas perspectivas de cooperação entre o Seminário e o Instituto Universitário Sophia, entre as quais uma Summer School, a se realizar provavelmente no final da primavera europeia de 2020. A visita assumiu particular relevo no delicado momento de tensão que atravessa hoje o mundo ortodoxo, porque pretende repropor o compromisso a percorrer com tenacidade o caminho do conhecimento mútuo e do intercâmbio recíproco de dons para promover a fraternidade e a comunhão.
Jan 22, 2019 | Sem categoria
Concluiu-se o encontro “Co-Governança, corresponsabilidade nas cidades hoje”, com um documentos que propõe, aos cidadãos e à administração pública, a prática da participação e da construção de redes de cidadãos, atores sociais e cidades. “A política é o amor dos amores que reúne na unidade de um desígnio comum a riqueza das pessoas e dos grupos, permitindo a cada um realizar livremente a própria vocação”(1). Conclui-se com as palavras desafiadoras de Chiara Lubich, fundadora dos Focolares, o congresso intitulado “Co-Governance, responsabilidade conjunta nas cidades hoje”. O evento dedicou-se ao governo participado das cidades e foi promovido pelo Movimento Humanidade Nova, Movimento Político pela Unidade e a Associação “Città per la Fraternità” (Cidades pela Fraternidade), expressões do compromisso social e político dos Focolares.
Foi a primeira edição do evento que será realizado no Brasil em 2021. Participaram do encontro mais de 400 administradores públicos, políticos, empresários, professores e estudantes universitários e cidadãos de 33 países. Os trabalhos contaram com a participação, apresentada nas suas numerosas aplicações, como demonstraram as histórias e as praxes partilhadas por mais de 60 especialistas nos campos do urbanismo, da comunicação, dos serviços, da economia, da política e do ambiente.

“Estamos convencidos de que a participação seja uma escolha estratégica, o modo mais consoante para viver bem na cidade – explica Lucia Fronza Crepaz, ja parlamentar, formadora na “Escola de preparação social” em Trento (Itália) e membro do comitê científico do evento. “Uma participação não concebida como substituição dos procedimentos da representação, mas uma escolha, como uma modalidade eficaz para enfrentar a complexidade dos problemas e devolver consistência ao mandato democrático”.
Resultado dos trabalhos foi a aprovação e a assinatura do “Pacto por uma nova Governança” com o qual os participantes se comprometeram em “contaminar” as próprias comunidades e administrações públicas. Os 400 firmatários do acordo comprometeram-se em compor
trê
s redes para agregar as diversidades e responder à complexa realidade. São
redes de cidadãos: “todos aqueles que moram no território urbano, que mantêm a diversidade de funções e tarefas, mas inspirados pela mesma responsabilidade”; as
redes de agentes coletivos: isto é, os grupos profissionais e econômicos, os sujeitos do voluntariado e do âmbito religioso, da cultura e da universidade, da informação e da comunicação…”; as
redes entre as cidades: “…propõem-se fazer colaborar em primeiro lugar a cidadania, com a criação de plataformas acessíveis a todos e fáceis de usar; cooperam superando os interesses particulares e os preconceitos que minam a confiança, fundamento indispensável para a construção de uma rede; miram a compartilhar programas e informações, recursos humanos e materiais, mas também fracassos e experiências problemáticas, para se ajudarem reciprocamente e abrirem visões e colaborações operativas; pedem para serem reconhecidas como agentes essenciais dentro das organizações e das instituições inter e transnacionais, de modo a integrar com a voz dos povos a representatividade dos governos”.
Stefania Tanesini
Informações e textos da conferência: www.co-governance.org
Jan 11, 2019 | Sem categoria
D. Armando Bortolaso nos deixou no dia 8 de janeiro passado, após quase 70 anos transcorridos na “sua” amadíssima terra, o Oriente Médio. Durante 10 anos desempenhou o cargo de Vigário apostólico na Síria. Como se faz para resistir quase setenta anos numa terra tão martirizada? “Para o religioso não é uma questão de lugar, mas de missão; é preciso estar presente lá onde as pessoas têm mais necessidade de serem amadas” . D. Armando Bortolaso descreveu assim, em 2013, o sentido mais profundo das suas escolhas como homem, sacerdote e, depois, bispo. Ele nos deixou no dia 8 de janeiro passado aos 91 anos, na Casa Salesiana El Houssein de Beirute após quase 70 anos vividos na “sua” terra, o Oriente Médio. Nascido no Vêneto (Norte da Itália) em 1926, aportou em Jerusalém em 1948. Entrando a fazer parte da família Salesiana, celebrou a sua primeira missa em 1953, precisamente na Basílica do Santo Sepulcro para depois desempenhar diferentes cargos na Terra Santa, Líbano e Síria. “Homem do diálogo”, “bispo em primeira fila”, “tecedor de unidade”: são muitos os apelativos com os quais ele está sendo lembrado nestes
dias e que por si só oferecem uma visão deste homem humilde, transparente e com uma fé inabalável na unidade, vivida e pregada por ele como único destino dos povos, em especial do amadíssimo povo sírio, com o qual viveu vinte e dois anos, dez dos quais desempenhando o serviço de Vigário apostólico. “A Síria é a minha segunda pátria”, afirmou numa entrevista. “Saber que a ‘minha’ gente é dilacerada pela dor, ver Aleppo, terra abençoada, reduzida a um monte de escombros, e as igrejas, as queridas antigas igrejas cristãs destruídas, me fere o coração. Também porque é uma tragédia que se realiza diante da indiferença geral” . Pelo vasto conhecimento das terras do Oriente Médio, D. Bortolaso tinha ao mesmo tempo uma capacidade de análise lúcida e desencantada sobre as causas e as possíveis vias de solução dos conflitos, mas também uma visão profética e iluminada, fruto da sua fé inabalável num Deus de amor, que não abandona os próprios filhos até nas condições mais desesperadoras. Do Líbano, escreveu assim a pe. Arrigo, sacerdote de Vicenza, no dia seguinte da guerra de 2006: “Entre as muitas ruínas desta guerra estamos assistindo a uma maravilha nova: muitos muçulmanos buscam e encontram um refúgio justamente junto aos cristãos que, esquecendo as dolorosas cicatrizes da guerra civil passada, acolheram os refugiados, confraternizando com eles. Esta convivência fraterna é um fato novíssimo, inimaginável até poucos anos atrás: por enquanto é só uma pequena semente que, porém, pode se tornar amanhã um cedro gigante, a ponto de estender os seus ramos sobre todo o país dos cedros” . D. Bortolaso conhecera a espiritualidade dos Focolares na Bélgica no final dos anos 1960 e se pode dizer que a unidade e o diálogo tenham sido a bússola da sua vida. Por muitos anos esteve empenhado na vida de comunhão dos bispos amigos dos Focolares, tanto que nasceu ao redor dele, no Líbano, um grupo de bispos do Oriente Médio desejosos de aprofundar a sua espiritualidade da unidade. Sempre numa entrevista sobre a complicada situação do conflito sírio, afirmou: “Sempre pensei que quem endereça a própria vida à unidade, acertou em cheio no coração de Jesus. Assim, eu dizia a mim mesmo: “Tu não és o bispo dos latinos somente, tu és o bispo de Jesus, e Jesus aqui na Síria tem 22 milhões de almas”. Procurei viver a unidade sempre e com todos: com os meus sacerdotes, com os religiosos, com os fiéis, com os bispos e os cristãos das outras Igrejas, ortodoxas e protestantes, com os muçulmanos” .
Stefania Tanesini