Movimento dos Focolares
Argentina: um assalto e sua pilhagem insólita

Argentina: um assalto e sua pilhagem insólita

anita (300 x 300)«Em 2012, quando estava hospedada com a família de um amigo, entraram em casa três homens armados. Depois de nos terem agredido e colocado no chão, com as pistolas apontadas para nós continuavam a gritar: “onde está o dinheiro?”. O dono da casa, dirigindo-se a um deles, começou a dizer que o perdoava, mas que aquele não era o modo certo de agir. Diante dessas palavras ele se enraiveceu ainda mais e todos ficamos apavorados, pensando que algo bem pior podia acontecer. Mas, surpreendentemente, o ladrão começou a chorar e pedir desculpas. Os outros dois, que enquanto isso tinham recolhido as coisas para levar, conseguiram fugir com o carro da família. O homem – que parecia ser o chefe do grupo – perguntou se entre as coisas que tinham pego havia algo importante, porque, no caso, ele devolveria. O pai disse que podia ficar com tudo, mas que precisava do carro para trabalhar. E o ladrão prometeu que logo iria devolvê-lo. Antes de ir embora pediu perdão a cada um. Meia hora depois o carro foi encontrado pela polícia, intacto. Pessoalmente, mesmo se aquele homem havia pedido perdão, eu tinha uma certa dificuldade para perdoar. Não aceitava que existissem no mundo pessoas que pudessem decidir sobre a minha vida ou das pessoas que amo. Provavelmente eu precisava de tempo. Ao mesmo tempo, porém, sentia que devia fazer alguma coisa, pelo menos procurar entender a raiz de tanta violência. Com alguns amigos do movimento Jovens por um Mundo Unido (JMU), comecei a frequentar um albergue de homens sem teto. Talvez o fato de partilhar o sofrimento e as dificuldades de quem se encontra nas periferias do mundo pudesse me ajudar a “entender”. Vamos a este asilo todos os sábados: fazemos jogos, tocamos violão, assistimos a um jogo de futebol (durante a Copa do Mundo foi incrível!), às vezes jantamos juntos. E assim conhecemos as histórias deles, algumas realmente alucinantes. São pessoas que precisam de muita força, seja para perdoar quem fez mal a eles, seja para perdoar a si próprios. Mas, mais do que tudo, são pessoas que precisam recomeçar. Um grupo de especialistas os ajuda no processo de recuperação e o nosso papel é crescer com eles, sem nunca deixar que não sintam o nosso afeto. Que a este ponto, já experimentamos, é recíproco. Estando com eles percebi que para muitos, que desde sempre foram tratados como pessoas que “não existem”, roubar é o último recurso. Eu mesma me perguntei: “O que eu faria no lugar deles se – como acontece – ninguém me olhasse, ninguém me respondesse, ninguém me considerasse?”. E foi assim que decidi perdoar os três ladrões daquela noite. E me dei conta que o fato de me reconciliar com eles colocava um tijolo para a construção da paz no meu país. Em dezembro de 2013, por causa de uma greve da polícia, muitas pessoas aproveitaram para saquear escritórios e lojas. Roubaram até uma ONG que coleta e distribui alimentos para os pobres. Foi uma pequena guerra entre o povo, com desordens e caos. No dia seguinte, nós do JMU, mobilizamos nossos amigos, através das redes sociais, para limpar a cidade e também para conseguir comida para aquela ONG. No início éramos 15, depois chegamos a mais de 100 pessoas (além daquelas que levaram alimentos). À noite, as emissoras de TV que tinham feito a cobertura da iniciativa disseram que existe uma outra face da crônica e que não somente tudo havia sido limpo, mas que as crianças de um bairro muito pobre tinham podido comer. https://www.youtube.com/watch?v=9WX_TbWHvVw&feature=youtu.be Desde então, além de continuar a ir ao asilo para os homens da rua, outro grupo de JMU fez amizade com o asilo “Ângulo de Luz”, para onde foram levados os alimentos que recolhemos. Para começar, dada a proximidade com o Natal, os JMU procuraram presentinhos para todas as crianças e organizaram um presépio vivo. Depois precisava pensar na melhoria da infraestrutura, precária e insuficiente. Assim promoveram uma coleta de recursos, junto aos amigos, colegas da universidade, a própria família, e organizaram várias atividades e vendas de doces. Alguns jovens estão também ajudando nas oficinas de higiene bucal e de horto-cultura, enquanto o projeto continua com a construção de banheiros e a recuperação da instalação elétrica. Os JMU realmente arregaçaram as mangas. Mas o asilo também está fazendo a sua parte, como eles mesmos afirmam: “O asilo nos deu a possibilidade de sonhar coisas grandes e acreditar que ao nosso redor existem todas as mãos de que precisamos para levar tudo adiante. Basta dar o primeiro passo”» Fonte: United World Project

Cuba: resgate da memória histórica

Cuba: resgate da memória histórica

chiesa«Recebemos com grande alegria a notícia da visita que o Papa Francisco fará ao nosso país, de 19 a 22 de setembro. O Santo Padre quer demonstrar-nos a sua proximidade num momento no qual, inclusive graças à sua mediação, respira-se uma atmosfera de esperança na nossa vida nacional, diante das novas possibilidades de diálogo entre os Estados Unidos e Cuba. É muito, muito importante o que ele está fazendo como pastor universal da Igreja, na busca da reconciliação e da paz entre todos os povos da terra!». Assim escrevem os bispos católicos de Cuba numa mensagem a todos os cubanos. Enquanto a ilha caribenha prepara-se para receber o primeiro papa da América Latina, dialogamos, em Havana, com José Andrés Sardina Pereira, arquiteto espanhol, especializado em arte sacra e liturgia, e apaixonado pela cultura cubana. «O projeto em que estamos trabalhando – explica Sardina Pereira – deseja ser uma contribuição do arcebispado de Santiago ao trabalho iniciado pelas instituições civis, para procurar incluir o centro histórico de Santiago (com o complexo de suas igrejas coloniais e arredores) na lista da UNESCO dos patrimônios mundiais da humanidade, como já são considerados os centros históricos de Havana, Trinidad, Camagüey e Cienfuegos». Nascido de pai cubano, Sardina Pereira, além de arquiteto é um entusiasta da história de Cuba. Esta nação, conhecida como “A Grande Ilha”, foi também «uma das últimas colônias espanholas a obter a independência (1898), motivo de o processo de “transculturação” ter sido mais prolongado. Os estudos sobre as origens da cultura cubana, que se distingue da espanhola, definem a sua cristalização no decorrer do século XVIII, momento em que, com certo antagonismo relativo aos modelos e interesses espanhóis, despertam-se uma série de inquietações sociais, econômicas e culturais que diferenciam os nativos da ilha (crioulos) daqueles que provinham do outro lado do Atlântico». Sardina Pereira esclarece que «nos processos étnicos e culturais que deram origem à “cubania”, os espanhóis e africanos chegados à ilha haviam trazido consigo culturas muito mais complexas do que aquilo que tradicionalmente associa-se aos conceitos “espanhol” e “africano”». «Chegaram a Cuba homens e mulheres provenientes de diferentes grupos linguísticos, sociais e religiosos, com diferentes graus de desenvolvimento econômico, vindos dos atuais Senegal, Gambia, Mali, Guiné, Costa do Marfim, Benin, Nigéria, Congo e Angola». E pessoas provenientes de outros países europeus, da Ásia e do próprio continente americano. «Basta pensar na presença francesa em Cienfuegos ou nos campos de café no leste da ilha». É nessa convivência, de um «rico e variegado leque de indivíduos vindos de várias geografias, que nasce a cultura cubana, uma das últimas culturas que a humanidade gerou: audaz, integradora, criativa e, ao mesmo tempo, aberta, acolhedora, respeitosa das diversidades».gente Sardina Pereira salienta como a mensagem evangélica foi um ponto chave nesta “gênese”, já que «esta nova pátria foi fundada graças à convivência de indivíduos muito diferentes entre si: brancos, negros e mestiços, escravos e livres; muitos deles unidos pelo amor que Jesus veio ensinar-nos, um amor que chega a dar a vida. Basta pensar no heroísmo, na coerência e no amor de muitos pais da nação cubana e nos muitos homens e mulheres que, seguindo seu exemplo, a geraram a custo da própria vida». Pessoas unidas pela fé que «juntas viajam no mar tempestuoso da história». A este ponto da conversa o especialista acrescenta outro elemento, considerado por ele como essencial: os cubanos são «um povo abençoado por um encontro extraordinário com a mãe de Jesus». Tal afirmação alude ao “encontro”, como é chamado pela tradição. Conta-se que no ano 1612, três exploradores de sal (um mestiço, um negro e um branco, três etnias até então em conflito) encontraram uma tabuinha de madeira boiando no mar, nela havia uma imagem de Nossa Senhora com a inscrição: “Eu sou Nossa Senhora da Caridade”. «Este encontro com uma Mãe – continua – é um dos elementos que permitem ao povo cubano descobrir a verdadeira fraternidade, que se converterá num símbolo distintivo de sua nacionalidade. Mãe de todos, de marinheiros de qualquer destino, cor e credo». Ao arquiteto agrada comparar esta miscigenação a um prato típico do centro da Ilha, composto por uma grande variedade de ingredientes, chamado “ajiaco”. «Num mundo globalizado e cada vez mais interdependente – ele prossegue – muitas vezes a intolerância com a diversidade étnica, cultural e religiosa continua a ser a causa primordial dos conflitos mais graves. Chiara Lubich, uma grande personalidade da Igreja Católica, no seu discurso às Nações Unidas em 1997, chegou a afirmar que para construir hoje, um mundo mais unido e pacífico, é necessário amar a pátria do outro como a própria, a cultura do outro como a própria». Sardina Pereira conclui com uma reflexão pessoal: «Realizando esse trabalho me dei conta até que ponto o conhecimento e a difusão da cultura cubana pode ser uma contribuição para a paz no mundo, sempre se conseguir resgatar e manter genuína a sua memória histórica e as suas profundas raízes cristãs». Aos cuidados de Gustavo Clariá

Nigéria. Yakoko e a graça da chuva

Nigéria. Yakoko e a graça da chuva

2Na Nigéria existe um grande desnível de desenvolvimento entre as cidades e os vilarejos rurais, locais em que quase não existe infraestrutura e faltam eletricidade, assistência médica, estradas, etc. Yakoko é um desses vilarejos – próximo ao deserto, em meio às montanhas – no qual a comunidade cristã e a muçulmana, desde sempre vivem em grande concordância. À noite, após o trabalho nas lavouras, os homens se reúnem na praça para conversar e tomar uma bebida alcoólica que eles produzem com a Guinea corn. Uma missionária, Irmã Patricia Finba, há anos levara a Yokoko a espiritualidade dos Focolares e Felix, Abubacar, Nicodemus, Loreto, padre Giorge Jogo e outros a assumiram como própria. No ano passado eles acolheram em Yokoko mais de 200 pessoas, vindas de várias regiões da Nigéria, para aprofundarem-se no conhecimento e vivência da espiritualidade. Neste ano um grupo de jovens e adultos de Onitsha decidiu passar alguns dias em Yokoko. Depois de 24 horas de viagem – às vezes perigosa, nas vans superlotadas, carregadas de malas e pacotes – foram acolhidos calorosamente pelos membros da comunidade e hospedados nas suas casas. “Participando da vida deles – nos conta Luce – partilhamos tudo”. “E – continua Cike – nos demos conta de que aos jovens não interessavam tanto os bens materiais, as roupas e os medicamentos que tínhamos levado, mas, os bens espirituais, a nossa amizade e o tesouro da nossa vida: a descoberta de Deus Amor.” Por isso decidiram passar juntos um dia de reflexão, indo até a uma montanha que, pela sua árida beleza, contribui à meditação. “Foi um dia muito importante – nos conta Imma – porque havia uma atmosfera de amizade profunda. Partilhamos os valores nos quais cremos e sobre os quais fundamentamos a nossa vida”. Nos dias seguintes levaram ajuda a quem necessitava, especialmente aos idosos e crianças e aos muitos refugiados vindos do norte do país. Visitaram cinco povoados. 5 Uma comunidade muçulmana os recebeu com grande alegria. Alguns dentre eles já vivem pela unidade do mundo e, com eles, estabeleceu-se imediatamente uma atmosfera de família, na qual puderam partilhar alegrias e sofrimentos daquele povo. As aldeias estavam passando por um período muito difícil por causa da seca e, seguindo a tradição, haviam pedido a uma pessoa importante na aldeia para rezar pedindo a chuva. Mas, não choveu e eles decidiram matar aquela pessoa. “Ao saber de tal decisão ficamos muito preocupados e rezamos, pedindo a Deus que mandasse a chuva – nos conta ainda Luce –, três dias depois Deus nos abençoou com uma chuva forte! Mas, além da chuva, ficamos felizes por ter salvado uma vida”.

Ciganos, do despejo à inclusão

https://vimeo.com/133758828 Havia vários anos que o campo devia ser liberado por sérios motivos sanitários e ambientais, mas não era uma tarefa simples porque nele morava uma comunidade de trinta famílias. Mario Bruni, prefeito de Alghero, decidiu fazê-lo tendo o cuidado de envolver as famílias ciganas na escolha do lugar para aonde iriam se transferir. Em Alghero há muitos desocupados e muita gente na fila de espera para ganhar uma casa. Por isso, como dizia o prefeito, pode ser difícil fazer com que os cidadãos entendam «que existem financiamentos específicos, que todos devemos cuidar da inclusão social e às vezes tomar decisões até impopulares, que podem não ser entendidas». «Os trinta ciganos menores de idade são importantes para mim como cada cidadão de Alghero, e devo procurar mostrar com os fatos que isso é possível», continua Bruni, «e ajudar os outros a darem este passo, sabendo muito bem que tenho no coração todos os problemas, e não apenas os de uma parte». Encontrar soluções, para os cidadãos, é um modo de demonstrar concretamente que as pessoas tem o mesmo valor. E o prefeito o fez anunciando um financiamento de três milhões e seiscentos mil euros para a construção de 28 albergues para moradores de Alghero. Como homem político, Bruni encontra-se às vezes em situações difíceis. Ele conta que procura enfrentá-las «com bom senso, entrando decididamente nas medidas administrativas, sem passar por cima delas, porque efetivamente estamos defendendo os bens que são de todos, não são nossos, nós somos apenas administradores». No prefeito existe a «exigência de enfrentar a complexidade do momento que vivemos (…) onde podemos ser parte de uma resposta; e eu acredito que essa resposta podemos dar individualmente mas também coletivamente, o que significa viver por um bem que vá além de nós». Respostas, como ele mesmo diz, inspiradas em Chiara Lubich e em seu pensamento político.

Burundi: um sofrimento que gera amor

Burundi: um sofrimento que gera amor

hope (350 x 249)Jean Paul frequenta o último ano da faculdade de engenharia civil e há alguns anos conheceu a espiritualidade da unidade. O Burundi, como muitos sabem, atravessa uma difícil situação política, às vésperas das próximas eleições. O empasse político provocou não poucas controvérsias, com manifestações e confrontos. Houve quem perdeu a vida. E foi neste contexto de grande instabilidade e sofrimento que Jean Paul, voltando para casa a pé, com um amigo, porque não haviam encontrado um meio público, deparou-se com um novo e inesperado rosto de Jesus Abandonado. Quem escreve é Marcellus, com toda a comunidade dos Focolares do Burundi e Ruanda. «É a noite do dia 2 de maio quando os dois jovens são atacados por um grupo de bandidos. Batem neles brutalmente, até perderem a consciência. Alguns policiais os encontram jogados em um bueiro e são levados ao hospital. O amigo tem lesões leves, mas o estado de Jean Paul é grave: uma fratura na coluna vertebral com paralisia dos membros inferiores. Não obstante a gravidade de seu estado Jean Paul sorri sempre, e espera ficar curado. Confia-se a Deus e a Chiara [Lubich]. “Se ainda estou vivo já é um milagre seu”, afirma. Em pouco tempo a notícia do que havia acontecido a Jean Paul chega a toda a comunidade que, além de rezar por ele, se mobiliza para conseguir o dinheiro necessário e uma ambulância que deve levá-lo para Ruanda, onde poderá ter os tratamentos adequados. Com um enfermeiro e Séverin, um jovem do seu grupo gen, viaja para Kigali (Ruanda) no dia 12 de maio. A corrente de amor e de orações por Jean Paul se alarga, envolvendo toda a família do Movimento dos Focolares, em Ruanda e no mundo, especialmente os gen. Em Kigali, Jean Paul e Séverin dão um testemunho de forte amor recíproco. Todos no hospital surpreendem-se que as visitas a esse jovem sejam mais numerosas que as de todos os outros doentes. E se maravilham pelo fato que Jean Paul e Séverin não são irmãos, não vem do mesmo povoado e não são nem da mesma etnia. Eles explicam a todos que o que os move é outra coisa: a espiritualidade da unidade, baseada no amor mútuo pedido por Jesus. Após vários exames médicos, Jean Paul é operado, na coluna e no tórax, dia 1º de junho, no hospital “Roi Fayçal”. O custo do hospital é muito alto, mas não falta a intervenção de Deus, com a sua providência. Jean Paul, que jamais perde a coragem, vê nessa experiência um verdadeiro milagre. A intervenção cirúrgica corre bem e isso é um grande encorajamento para todos. Jean Paul é transferido a outro departamento onde inicia a fisioterapia, acompanhado de perto pelo médico e a equipe que o operou. A sua saúde dá sinais de recuperação inacreditáveis. Recomeça a sentir fome, as necessidade fisiológicas, a dor, a sensibilidade nos pés. Agora pode sair da cama e girar pelo hospital numa cadeira de rodas. Afirma que se não fosse pelo amor dessa família alargada não estaria mais vivo. Jean Paul é muito grato a toda a comunidade dos Focolares em Ruanda, aos gen do mundo inteiro, aos Centros Gen internacionais, e a todos os que fizeram chegar até ele ajudas em dinheiro e em orações. Agora brota do nosso coração um imenso agradecimento a Deus por ter-nos dado a possibilidade de viver essa forte experiência, que suscitou atenção, comunhão e amor verdadeiro entre o seus filhos, um testemunho forte de que o amor vence tudo».

País Basco: um laboratório para aprender a paz

País Basco: um laboratório para aprender a paz

relatoriDar resposta a situação de violência que se vive no País Basco, consequência da luta armada do Grupo ETA. Objetivo: buscar sanar as feridas ainda abertas e assegurar um futuro de paz. É a atitude de base do Movimento Político pela Unidade na Espanha. «Esta é uma utopia, mas talvez a única solução para o nosso povo». Foi a acurada manifestação de esperança de alguns membros do Conselho Provincial de Gipuzkoa, dez anos atrás, quando alguns dirigentes do Movimento Politico pela Unidade (MppU) vindos da Itália falaram a eles da fraternidade como categoria política. Uma perspectiva que resultou quase um choque, diante do clima que se respirava no País Basco com a ação do ETA. Com o objetivo de obter a independência para o povo basco, os grupos armados do ETA semeavam uma atmosfera de violência e terror. A tensão era altíssima. Naquela época – primeiros meses de 2005 – um grupo de políticos, pertencentes não só a partidos diferentes, mas também com diferentes ideologias, uniram-se para iniciar um caminho que busca a regeneração política, fundamentada na acolhida mútua dos povos, sem exclusões. Abriu-se assim um espaço de debate, de aceitação do outro, envolvendo políticos com sensibilidades distintas, funcionários públicos, sindicalistas, cidadãos…  sedentos de uma convivência normal, de paz verdadeira. Os encontros acontecem cada dois meses, escolhendo cada vez uma sede diferente, alternando entre os vários partidos. Entre os participantes há alguém que recebeu ameaças devido à sua adesão partidária e chega escoltado, há quem teme não ser entendido no próprio partido e até ser expulso; mas todos tem coragem e, superando toda desconfiança, desejam testemunhar que a fraternidade é possível, começando por eles.platea Com o passar do tempo vê-se que é oportuno o intercâmbio de experiências com políticos de outros territórios e comunidades. E assim alguns do grupo vão a Madri. Participam de uma série de encontros onde conhecem outras experiências, e convidam todos a reunirem-se em Euskadi, com o grupo de Gipuzkoa. É um momento histórico: quatro horas de diálogo para conhecer-se, escutar-se, desculpar-se. Nasce, em seguida, a necessidade de elaborar um documento como alternativa à crise, que cada um submete ao estudo do próprio partido. Muitos sentem que é preciso compartilhar o conteúdo do documento, realizar seminários e mesas redondas em outras comunidades autônomas, apresentando a experiência da fraternidade e da convivência pacífica que se baseia, precisamente, na fraternidade. Com a suspensão da atividade armada do ETA (2011) inicia um novo processo que, embora não simples, traz muita esperança. Existem ainda muitas pessoas, famílias e grupos que mesmo partilhando a mesma identidade estão divididos, com constantes confrontos e sérias dificuldades para dialogar. O laboratório político que havia sido gerado nos tempos duros – familiarmente denominado “laboratório para aprender a paz” – continua o seu caminho de pacificação e busca da paz, enfrentando os diferentes pontos de vista sobre os fatos históricos, sanando feridas ainda abertas. Elaboram o documento “Pelo caminho de reconciliação da sociedade basca” (janeiro de 2013), que descreve os alicerces sobre os quais caminhar daquele momento em diante; esse documento é informalmente conhecido como “a terra onde pisamos”. gruppoCada vez que o diálogo parece ser dificultado procura-se reaviva-lo, ajudando-se mutuamente a acreditar que cada homem é um irmão, e que com todos é possível construir alguma coisa. Isso não significa não reconhecer os delitos e o grande número de pessoas que pagaram com a vida. Pelo contrário, aceitando o passado e reconhecendo a injusta e inexplicável violência sofrida, procura-se ver a história como um lento e árduo caminho rumo à reconciliação e a paz, ao qual cada um pode e deve dar a própria contribuição. No dia 13 de maio de 2015, justamente na vigília do aniversário de Chiara Lubich no qual aprofundava-se a sua visão da política, esse grupo reuniu-se  em “Las Juntas Generales de Gipuzkoa” (o parlamento da província), em San Sebastian, convidando especialistas, intelectuais, personalidades políticas. O debate era sobre “Relacionamento entre o bem comum e os bens comuns na globalização”, cujo documento base, enviado antecipadamente a todos e muito apreciado, havia sido preparado no “laboratório para aprender a paz”. Numa atmosfera de acolhimento recíproco emergiram válidas contribuições, posteriormente integradas ao documento, que será divulgado para promover, em todos os níveis, o valor da fraternidade.