Movimento dos Focolares
“Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos.” (Mc 10,43-44)

“Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos.” (Mc 10,43-44)

A caminho de Jerusalém, Jesus prepara pela terceira vez os seus discípulos para o acontecimento dramático da sua paixão e morte. Mas justamente esses, que o seguiram mais de perto, mostram-se incapazes de compreender.

E não é só: entre os próprios apóstolos se desencadeia o conflito. Tiago e João pedem para ocupar lugares de honra “na sua glória”[1]; os outros dez ficam indignados, reclamam, e o grupo fica dividido.

Então Jesus, pacientemente, chama todos a si e revela mais uma vez a novidade impactante do seu anúncio:

“Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos.”

Nessa frase do Evangelho de Marcos, há um crescendo quanto à imagem do servo-escravo. Jesus nos conduz desde uma atitude de simples disponibilidade num grupo que é limitado e incute segurança, até uma dedicação total a todos, sem exceções.

É uma proposta absolutamente alternativa e contracorrente, se comparada ao conceito humano de autoridade e de governo que decerto fascinava os próprios apóstolos e que contagia também a nós.

Seria este o segredo do amor cristão?

“Existe uma palavra do Evangelho que não é propriamente evidenciada por nós, cristãos: servir. Parece-nos ultrapassada, humilhante diante da dignidade do homem que dá e que recebe. No entanto, aqui está contido todo o Evangelho, porque é amor. E amar significa servir. Jesus não veio para comandar, mas para servir. […] Servir, estar a serviço uns dos outros é cristianismo e quem o põe em prática com simplicidade – e todos podem fazê-lo – já fez tudo; um ‘tudo’ que não permanece como fato isolado, mas que, por ser cristianismo vivo, se alastra como incêndio”[2].

“Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos.”

O encontro com Jesus na sua Palavra abre os nossos olhos, como acontece com o cego Bartimeu nos versículos subsequentes [3]: liberta-nos da estreiteza dos nossos esquemas e nos faz contemplar os horizontes do próprio Deus, o seu projeto de “novos céus e uma nova terra”[4].

Ele, o Senhor que lava os pés [5], contradiz com o seu exemplo a rigidez das funções de serviço que as nossas comunidades civis, e por vezes também as religiosas, reservam muitas vezes para categorias de pessoas socialmente vulneráveis.

O serviço cristão consiste, portanto, em imitar o exemplo de Jesus, em aprender Dele um estilo novo de relação social: tornar-se o próximo de cada pessoa, qualquer que seja a sua condição humana, social ou cultural, até às últimas consequências.

Como sugere Giovanni Anziani, pastor metodista da Igreja Valdense: “[…] ao concordarmos em depositar nossa confiança e nossa esperança no Senhor que é servo dos muitos, a Palavra de Deus nos solicita a agirmos, no nosso mundo e em meio a todas as suas contradições, como agentes da paz e da justiça, como construtores de pontes para a reconciliação entre os povos […]”[6].

Foi dessa forma que viveu Igino Giordani, escritor italiano, jornalista, político e pai de família, num momento histórico marcado pela ditadura. Para expressar a sua experiência, ele escreve: “A política é – no mais digno sentido cristão – uma serva e não deve tornar-se mandante: não deve praticar abuso, nem dominação, nem sequer dogma. Aqui está a sua função e a sua dignidade: ser serviço social, caridade em ação: a primeira forma da caridade de pátria”[7].

Com o testemunho da sua vida, Jesus propõe uma escolha consciente e livre: que não mais vivamos fechados em nós mesmos e nos nossos interesses, mas “vivamos o outro”, com os seus sentimentos, carregando os seus pesos e partilhando as suas alegrias.

Todos nós temos pequenas ou grandes responsabilidades e espaços de autoridade: no campo político e social, mas também na família, na escola, na comunidade de fé. Aproveitemos os nossos “lugares de honra” para nos colocarmos a serviço do bem comum, construindo relações humanas justas e solidárias.

Org.: Patrizia Mazzola com a comissão da Palavra de Vida
Foto: © Pixabay


[1] Cf. Mc 10,37.
[2] C. Lubich, Servire, in «Città Nuova» 17 (1973/12), p. 13.
[3] Cf. Mc 10, 46-52.
[4] Cf. Is 65, 17 e 66, 22, ripreso in 2 Pt 3,13.
[5] Cf. Gv 13,14
[6] https://www.chiesavaldese.org/marco-1043-44/
[7] P. Mazzola (a cura di), Perle di Igino Giordani, Effatà editrice Torino 2019, p. 112.

“Sede praticantes da Palavra, e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.” (Tg 1,22)

“Sede praticantes da Palavra, e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.” (Tg 1,22)

O tema relativo a ouvir e praticar é uma questão fundamental da qual Tiago, o autor do versículo deste mês, trata com insistência. Com efeito, a carta continua, mais adiante: “Aquele, porém, que se debruça sobre a Lei perfeita, que é a da liberdade, e nela persevera, não como um ouvinte distraído, mas praticando o que ela ordena, será feliz naquilo que faz” (Tg 1,25). E é precisamente este esforço de conhecer as Suas Palavras e vivê-las que nos liberta e nos dá alegria.

Poderíamos dizer que o versículo bíblico deste mês é propriamente a causa da prática conhecida como “Palavra de Vida”, que se espalhou no mundo inteiro. Chiara Lubich escolhia uma frase de sentido completo da Escritura – no início uma vez por semana, depois uma vez por mês – e a comentava no grupo. Depois se encontravam e partilhavam os frutos daquilo que a frase tinha realizado por meio das experiências de vida. Assim, ia-se criando uma comunidade unida que mostrava de forma embrionária as transformações sociais que ela era capaz de realizar.

“Embora na sua simplicidade, a iniciativa ofereceu uma contribuição notável para a redescoberta da Palavra de Deus no mundo cristão do século XX” [1], transmitindo um “método” para viver o Evangelho e compartilhar os seus efeitos.

“Sede praticantes da Palavra, e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.”

A carta de Tiago retoma o que Jesus anunciou para fazer viver e experimentar a realidade do Reino dos céus entre nós: declara bem-aventurado quem ouve a sua Palavra e a guarda2; reconhece como sua mãe e seus irmãos aqueles que a ouvem e a põem em prática3; compara a Palavra à semente que, se cair em terra boa, isto é, naqueles que a ouvem com um coração bom e generoso e a guardam, faz com que produzam frutos com a sua perseverança.

“Em cada Palavra sua Jesus exprime todo o seu amor por nós”, escreve Chiara Lubich. “Vamos concretizá-la, assumi-la como coisa nossa. Experimentemos quanta potência de vida ela irradia em nós e ao nosso redor quando a vivemos. Apaixonemo-nos pelo Evangelho até o ponto de deixar-nos transformar nele e de transbordá-lo sobre os outros. […]

E não é só: já que demos a Jesus a liberdade de viver em nós, veremos explodir a revolução de amor que Ele provocará no ambiente social que nos envolve.”[2].

“Sede praticantes da Palavra, e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.”

Como colocar em prática a Palavra? Olhemos à nossa volta e façamos tudo o que estiver ao nosso alcance para nos colocarmos a serviço dos necessitados com pequenos ou grandes gestos de cuidado mútuo, transformando as estruturas injustas da sociedade, combatendo a violência, incentivando gestos de paz e de reconciliação, crescendo na sensibilidade e nas ações em favor do nosso planeta.

Assim, uma autêntica revolução irromperá na nossa vida, na vida da nossa comunidade, no ambiente de trabalho em que atuamos.

O amor se manifesta nas ações sociais e políticas que buscam construir um mundo melhor. Em Lámud, cidade da Amazônia peruana, a 2.330 metros acima do nível do mar,

“O centro foi inaugurado em plena crise de pandemia e acolhe 50 pessoas idosas e solitárias. A casa, os móveis, as louças e até os alimentos, tudo foi doado pela comunidade próxima. Foi um desafio, cheio de dificuldades e obstáculos, mas em março de 2022 o Centro Chiara Lubich celebrou o seu primeiro aniversário, abrindo as portas à cidade com uma festa, da qual também as autoridades políticas participaram. Os dois dias de comemoração angariaram novos voluntários, adultos e crianças, que querem se dedicar aos vovôs solitários, ampliando o círculo familiar deles.”[3]

Org.: Patrizia Mazzola
com a comissão da Palavra de Vida


[1] C. Lubich, Parole di Vita, Introduzione, a cura di Fabio Ciardi, (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, p. 9

[2] Lubich, Parole di Vita, Introduzione, a cura di Fabio Ciardi, (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, p. 790

[3] Balanço de Comunhão 2022. Movimento dos Focolares , in https://eyut279xk3q.exactdn.com/wp-content/uploads/2024/02/BdC-2022-DialogoPT.pdf p.67


A IDEIA DO MÊS, baseada em textos de Letizia Magri, surgiu no Uruguai no contexto do diálogo com pessoas de diversas convicções religiosas e não religiosas cujo lema é “construindo diálogo”. O objetivo desta publicação é o de contribuir para promover o ideal da fraternidade universal. Atualmente A IDEIA DO MÊS é traduzida em doze idiomas e distribuída em mais de 25 países.

“Senhor, é bom ficarmos aqui.” (Mt 17,4)

“Senhor, é bom ficarmos aqui.” (Mt 17,4)

“Senhor, é bom ficarmos aqui.” (Mt 17,4).

Jesus está a caminho de Jerusalém com seus discípulos. Diante do Seu anúncio de que lá Ele haveria de sofrer, morrer e ressuscitar, Pedro se rebela, expressando a consternação e a incompreensão de todos. Então o Mestre o convida a segui-lo e, juntamente com Tiago e João, sobe “a um lugar retirado, numa alta montanha”. Ali se mostra aos três numa luz nova e extraordinária: seu rosto “brilhou como o sol” e Moisés e o profeta Elias falavam com Ele. O próprio Pai fez ouvir a Sua voz a partir de uma nuvem luminosa e convidou-os a escutar Jesus, seu Filho amado. Frente a essa experiência surpreendente, Pedro bem que gostaria de não mais ir embora e exclama:

“Senhor, é bom ficarmos aqui.”

Jesus tinha convidado seus amigos mais próximos a viver uma experiência inesquecível, para que eles a conservassem sempre dentro de si.

Talvez também nós tenhamos experimentado, com maravilha e emoção, a presença e a ação de Deus na nossa vida, em momentos de alegria, paz e luz, nos quais tínhamos o desejo de que eles jamais passassem. São momentos que vivenciamos muitas vezes com outras pessoas, ou graças a elas. Com efeito, o amor mútuo atrai a presença de Deus porque, como Jesus prometeu, “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali eu estou no meio deles”1 (Mt 18,20). Às vezes, nesses momentos de intimidade com Jesus entre nós, Ele nos faz ver a nossa própria realidade e nos faz ler os acontecimentos através do seu olhar.

Essas experiências nos são proporcionadas a fim de termos forças para enfrentar as dificuldades, as provações e as labutas que encontramos na caminhada, tendo no coração a certeza de que fomos olhados por Deus, que nos chamou para fazermos parte da História da Salvação.

De fato, depois de terem descido da montanha, os discípulos vão juntos para Jerusalém, onde encontram uma multidão cheia de esperança, mas também enfrentam armadilhas, controvérsias, aversão e sofrimentos. Ali “serão dispersos e enviados aos confins da terra para testemunhar a nossa última morada, o Reino de Deus” (1).

Eles poderão começar a construir já aqui na terra a Sua casa entre os homens, porque estiveram “em casa” com Jesus na montanha.

“Senhor, é bom ficarmos aqui.”

“Levantai-vos, não tenhais medo” (Mt 17,7) é o convite de Jesus no fim dessa experiência extraordinária. Ele o dirige também a nós. Como seus discípulos e amigos, podemos enfrentar com coragem o que está por vir.

Foi o que aconteceu também com Chiara Lubich. Passou um período de férias tão rico de luz, a ponto de ser definido “o Paraíso de 1949”, pela presença sensível de Deus na pequena comunidade com a qual transcorreu momentos de descanso e por uma extraordinária contemplação dos mistérios da fé. Depois dessa experiência, também ela não sentia vontade de voltar à vida do dia a dia. Mas voltou, com renovado ardor, porque compreendeu que, precisamente por causa daquela experiência de iluminação, devia “descer da montanha” e pôr-se a trabalhar como instrumento de Jesus na realização do seu Reino, levando o seu amor e a sua luz justamente lá onde faltavam, enfrentando inclusive labutas e sofrimentos.

“Senhor, é bom ficarmos aqui.”

Então, quando sentimos falta da luz, podemos trazer ao coração e à mente aqueles momentos em que o Senhor nos iluminou. E se ainda não tivermos feito a experiência da sua proximidade, vamos procurar fazê-la. Teremos de fazer o esforço de “subir a montanha” para encontrá-lo nos nossos próximos, para adorá-lo nas nossas igrejas e também para contemplá-lo na beleza da natureza.

Porque, à nossa disposição, Ele está sempre: basta caminhar com Ele e, silenciando, passar a escutá-lo humildemente, como fizeram Pedro, João e Tiago (2).

Org.: Silvano Malini
com a comissão da Palavra de Vida

1 RADCLIFFE, Timothy, OP, segunda meditação para os participantes da assembleia geral do Sínodo dos Bispos, Sacrofano, 1°/10/2023: https://www.vaticannews.va/it/vaticano/news/2023-10/testi-meditazioni-padre-radclifferitiro-sacrofano-sinodo.html.
2 Cf. Mt 17, 6.
Foto: © Steven Weirather – Pixabay

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A IDEIA DO MÊS, iniciada no Uruguai, é preparada pelo “Centro do Diálogo com pessoas de convicções não religiosas” do Movimento dos Focolares. Assimila os valores da Palavra de Vida, uma frase da Escritura que os membros do Movimento se comprometem a colocar em prática. Vivendo esses valores contribuímos para a realização da fraternidade universal. Atualmente, A IDEIA DO MÊS é traduzida em doze idiomas e distribuída em mais de 25 países, adaptada em alguns deles segundo as exigências culturais.

“O Senhor é o meu pastor, nada me falta.” (Sl 23[22][22],1).

“O Senhor é o meu pastor, nada me falta.” (Sl 23[22][22],1).

O Salmo 23 é um dos salmos mais conhecidos e amados. É um canto de confiança que, ao mesmo tempo, soa como uma exultante profissão de fé. O autor desta oração reza na qualidade de membro do povo de Israel, ao qual o Senhor prometeu, por meio dos profetas, ser o seu Pastor. Ele proclama a sua felicidade pessoal por saber que está protegido no Templo[1], lugar de refúgio e de graça, mas quer igualmente, com a sua experiência, encorajar outros a confiar na presença do Senhor.

“O Senhor é o meu pastor, nada me falta.”

A imagem do pastor e do rebanho é muito apreciada em toda a literatura bíblica. Para compreendê-la bem, devemos pensar nos desertos áridos e rochosos do Oriente Médio. O pastor guia o seu rebanho, que se deixa conduzir com docilidade porque, sem ele, ficaria desorientado e morreria. As ovelhas devem aprender a confiar nele, escutando a sua voz. Ele é sobretudo seu constante companheiro de viagem.

“O Senhor é o meu pastor, nada me falta.”

Este salmo nos convida a fortalecer a nossa relação íntima com Deus, experimentando o seu amor. Poderíamos nos perguntar: por que o autor chega a dizer que nada lhe falta? Nossa experiência diária nunca está isenta de problemas e de desafios, sejam esses de saúde, família, trabalho etc., sem esquecermos os imensos sofrimentos que muitos dos nossos irmãos e irmãs vivem hoje por causa da guerra, das consequências das mudanças climáticas, das migrações, da violência…

“O Senhor é o meu pastor, nada me falta.”

Quem sabe, a chave para a compreensão está no versículo que diz “porque estás comigo” (Sl 23[22],4). Trata-se da certeza do amor de um Deus que sempre nos acompanha e nos faz viver a vida de forma diferente. Chiara Lubich escrevia: “Uma coisa é saber que podemos nos dirigir a um Ser que existe, que tem piedade de nós, que pagou pelos nossos pecados; e outra é viver e sentir-se no centro das predileções de Deus, com o consequente desaparecimento de todo medo que nos freia, de toda solidão, de todo sentimento de orfandade, de toda incerteza. […] A pessoa sabe que é amada e crê com todo o seu ser nesse amor. Abandona-se a ele confiante e quer segui-lo. As circunstâncias da vida, tristes ou alegres, aparecem iluminadas por uma razão de amor que quis ou permitiu todas elas” [2].

“O Senhor é o meu pastor, nada me falta.”

Mas quem levou à plena realização esta maravilhosa profecia foi Jesus que, no Evangelho de João, não hesita em definir a si mesmo como o “Bom Pastor”. A relação com este pastor se caracteriza por um relacionamento pessoal e íntimo: “Eu sou o bom pastor. Eu conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem” (Jo 10,14). Ele as conduz às pastagens da sua Palavra que é vida, em particular a Palavra que revela a mensagem contida no “Mandamento Novo” o qual, se vivido, torna “visível” a presença do Ressuscitado na comunidade reunida em seu nome, em seu amor[3].

Org.: Augusto Parody Reyes com a comissão da Palavra de Vida


Foto: © Sergio Cerrato – Italia en Pixabay

[1]Cf. Sl 23[22],6.
[2] LUBICH, Chiara. O essencial de hoje, São Paulo: Cidade Nova, 1983, p. 145.
[3] Cf. Mt 18,20.

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A IDEIA DO MÊS, iniciada no Uruguai, é preparada pelo “Centro do Diálogo com pessoas de convicções não religiosas” do Movimento dos Focolares. Assimila os valores da Palavra de Vida, uma frase da Escritura que os membros do Movimento se comprometem a colocar em prática. Vivendo esses valores contribuímos para a realização da fraternidade universal. Atualmente, A IDEIA DO MÊS é traduzida em doze idiomas e distribuída em mais de 25 países, adaptada em alguns deles segundo as exigências culturais.

Evangelho Vivo: “Pensai nas coisas do alto, não nas que são da terra” (Cl 3:2)

Para o cristão, a Ressurreição é um fato concreto, algo que acontece, um encontro que muda toda perspectiva humana; é o acontecimento que nos lembra que a nossa cidadania está no céu e é para lá que a nossa vida deve apontar, para o alto, testemunhando onde estamos aqueles valores que Jesus trouxe à terra. O outro como alguém para amar Estudo medicina e frequento o quarto ano. No ambiente hospitalar, quase sempre o paciente é utilizado como objeto de estudo. Cada um é um “caso”, representa uma doença. Normalmente, durante as aulas práticas, cada paciente é examinado por trinta alunos. Quanto a mim, logo percebi que para o paciente tal regra pode ser incômoda e muitas vezes dolorosa, então quando chegava a minha vez de participar da aula respondia: “Não, não vou, o paciente já sofreu bastante. Eu não gostaria de ser tratado assim. Quando o próximo paciente chegar, serei o primeiro a examiná-lo.” Meus colegas rebatiam que assim eu nunca aprenderia e nunca me tornaria uma boa médica, mas depois, sem que eu soubesse, eles próprios propuseram ao professor titular que cada paciente fosse examinado por no máximo cinco alunos. A turma toda quis assinar o pedido e o professor concordou. A conclusão é que com este método aprende-se melhor e os doentes sentem-se respeitados. (Rainha – Brasil) Abrir uma janela Às vezes, uma queda com fratura no ombro muda de repente a vida da gente: férias, cuidar dos netos, fazer compras… Tudo agora recai sobre minha esposa que também parou de usar o carro desde que se aposentou. Um dia, a neta, com quem muitas vezes jogamos um jogo que consiste em procurar o positivo no negativo, pergunta-me onde está o positivo nesta imobilidade indesejada. Respondo que minha nova condição está me fazendo descobrir que fazia muitas coisas arrastado como um pedaço de madeira no rio. Sempre existe uma outra possibilidade além da programada, como uma nova janela que se abre no seu quarto e te mostra uma paisagem que você não via antes. A neta fica em silêncio, pensativa. Então, como que despertada por uma descoberta, ela retoma: “Vovô, eu tenho uma colega de classe mal-humorada. Além de xingar, ela está sempre com raiva de todos. Todos evitamos falar com ela e criou-se uma espécie de muro que a isola. Talvez eu também tenha que abrir uma janela para ela”. Eu não poderia ouvir palavras mais bonitas do que aquelas. (H.N. – Eslováquia)

Por Maria Grazia Berretta

(extraído do “Il Vangelo del Giorno”, Città Nuova, ano IX – nº 1- março-abril de 2023)

Palavra de Vida – Setembro de 2018

A Palavra de Vida deste mês provém de um texto atribuído a Tiago, personalidade relevante na Igreja de Jerusalém. Ele recomenda ao cristão a coerência entre crer e agir. O trecho inicial da carta chama a atenção para uma condição essencial: libertar-se de toda maldade para acolher a Palavra de Deus e deixar-se orientar por ela no caminho rumo à plena realização da vocação cristã. A Palavra de Deus tem uma força bem característica: ela é fecunda, faz germinar o bem na pessoa individualmente e na comunidade; com ela, cada um de nós encontra uma relação pessoal de amor com Deus; e ela constrói um relacionamento de amor entre as pessoas. Ela já foi, como diz Tiago, “implantada” em nós. “Recebei com mansidão a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz de salvar-vos.” Foi implantada? De que modo? Isso ocorreu com certeza porque Deus, desde a criação, pronunciou  uma  Palavra  definitiva:  o  homem  é  “imagem”  Dele.  Realmente,  cada  criatura humana é o “tu” de Deus, chamado à existência para compartilhar a Sua vida de amor e de comunhão. Por outro lado, para os cristãos, o sacramento do batismo é que nos insere em Cristo. Cristo, que é a Palavra de Deus que entrou na história humana. Ou seja: Ele depositou em cada pessoa a semente da sua Palavra, chamando todos ao bem, à justiça, ao dom de si e à comunhão. Quando essa semente é acolhida e cultivada com amor no próprio “chão”, ela é capaz de produzir vida e frutos. “Recebei com mansidão a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz de salvar-vos.” Um lugar onde Deus nos fala com clareza é a Bíblia, que para os cristãos tem o seu ponto mais alto nos Evangelhos. É preciso acolher a Sua Palavra na leitura amorosa da Escritura de modo que, vivendo-a, possamos ver os seus frutos. Também podemos escutar Deus no profundo do nosso coração, onde nos sentimos muitas vezes infestados por tantas “vozes”, tantas “palavras”: slogans e sugestões de escolhas a serem feitas, modelos de vida, além de preocupações e medos… Mas como podemos reconhecer a Palavra de Deus e dar-lhe espaço para que viva em nós? É preciso desarmar o coração e “render-nos” ao convite de Deus, para colocar-nos em uma livre e corajosa escuta da Sua voz, que muitas vezes é justamente a mais delicada e discreta. Ela  nos  pede  a  coragem  de  sairmos  de  nós  mesmos  e  de  nos  aventurarmos  pelos caminhos do diálogo e do encontro com Ele e com os outros, e nos convida a colaborar para tornar mais bonita a humanidade: que nela possamos todos nos reconhecer cada vez mais como irmãos. “Recebei com mansidão a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz de salvar-vos.” Realmente, a Palavra de Deus tem a possibilidade de transformar o nosso dia a dia em uma história de libertação das trevas do mal pessoal e social, mas espera a nossa adesão pessoal e consciente, mesmo que imperfeita, frágil e sempre peregrina. Os nossos sentimentos e os nossos pensamentos se tornarão cada vez mais semelhantes aos do próprio Jesus; a fé e a esperança no Amor de Deus serão reforçados; ao mesmo tempo os nossos olhos e os nossos braços se abrirão às necessidades dos irmãos. Em 1992, Chiara Lubich dava esta sugestão: Em Jesus via-se uma profunda unidade entre o amor que Ele tinha pelo Pai celeste, e o amor para com os homens, seus irmãos. Havia uma profunda coerência entre as suas palavras e a sua vida. Isso fascinava e atraía a todos. É assim que também nós devemos ser. Devemos acolher as palavras de Jesus com a simplicidade das crianças e colocá-las em prática com toda a sua pureza e luminosidade, com a sua força e o seu radicalismo, para sermos discípulos tais como Ele deseja, isto é, discípulos iguais ao mestre: “outros Jesus” espalhados no meio do mundo. Existirá para nós uma aventura maior e mais atraente?1 Letizia Magri   1 Cf. Chiara Lubich, Coerência de vida, revista “Cidade Nova”, março de 1992.