A caminho de Jerusalém, Jesus prepara pela terceira vez os seus discípulos para o acontecimento dramático da sua paixão e morte. Mas justamente esses, que o seguiram mais de perto, mostram-se incapazes de compreender.
E não é só: entre os próprios apóstolos se desencadeia o conflito. Tiago e João pedem para ocupar lugares de honra “na sua glória”[1]; os outros dez ficam indignados, reclamam, e o grupo fica dividido.
Então Jesus, pacientemente, chama todos a si e revela mais uma vez a novidade impactante do seu anúncio:
“Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos.”
Nessa frase do Evangelho de Marcos, há um crescendo quanto à imagem do servo-escravo. Jesus nos conduz desde uma atitude de simples disponibilidade num grupo que é limitado e incute segurança, até uma dedicação total a todos, sem exceções.
É uma proposta absolutamente alternativa e contracorrente, se comparada ao conceito humano de autoridade e de governo que decerto fascinava os próprios apóstolos e que contagia também a nós.
Seria este o segredo do amor cristão?
“Existe uma palavra do Evangelho que não é propriamente evidenciada por nós, cristãos: servir. Parece-nos ultrapassada, humilhante diante da dignidade do homem que dá e que recebe. No entanto, aqui está contido todo o Evangelho, porque é amor. E amar significa servir. Jesus não veio para comandar, mas para servir. […] Servir, estar a serviço uns dos outros é cristianismo e quem o põe em prática com simplicidade – e todos podem fazê-lo – já fez tudo; um ‘tudo’ que não permanece como fato isolado, mas que, por ser cristianismo vivo, se alastra como incêndio”[2].
“Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos.”
O encontro com Jesus na sua Palavra abre os nossos olhos, como acontece com o cego Bartimeu nos versículos subsequentes [3]: liberta-nos da estreiteza dos nossos esquemas e nos faz contemplar os horizontes do próprio Deus, o seu projeto de “novos céus e uma nova terra”[4].
Ele, o Senhor que lava os pés [5], contradiz com o seu exemplo a rigidez das funções de serviço que as nossas comunidades civis, e por vezes também as religiosas, reservam muitas vezes para categorias de pessoas socialmente vulneráveis.
O serviço cristão consiste, portanto, em imitar o exemplo de Jesus, em aprender Dele um estilo novo de relação social: tornar-se o próximo de cada pessoa, qualquer que seja a sua condição humana, social ou cultural, até às últimas consequências.
Como sugere Giovanni Anziani, pastor metodista da Igreja Valdense: “[…] ao concordarmos em depositar nossa confiança e nossa esperança no Senhor que é servo dos muitos, a Palavra de Deus nos solicita a agirmos, no nosso mundo e em meio a todas as suas contradições, como agentes da paz e da justiça, como construtores de pontes para a reconciliação entre os povos […]”[6].
Foi dessa forma que viveu Igino Giordani, escritor italiano, jornalista, político e pai de família, num momento histórico marcado pela ditadura. Para expressar a sua experiência, ele escreve: “A política é – no mais digno sentido cristão – uma serva e não deve tornar-se mandante: não deve praticar abuso, nem dominação, nem sequer dogma. Aqui está a sua função e a sua dignidade: ser serviço social, caridade em ação: a primeira forma da caridade de pátria”[7].
Com o testemunho da sua vida, Jesus propõe uma escolha consciente e livre: que não mais vivamos fechados em nós mesmos e nos nossos interesses, mas “vivamos o outro”, com os seus sentimentos, carregando os seus pesos e partilhando as suas alegrias.
Todos nós temos pequenas ou grandes responsabilidades e espaços de autoridade: no campo político e social, mas também na família, na escola, na comunidade de fé. Aproveitemos os nossos “lugares de honra” para nos colocarmos a serviço do bem comum, construindo relações humanas justas e solidárias.
Org.: Patrizia Mazzola com a comissão da Palavra de Vida
Foto: © Pixabay
[1] Cf. Mc 10,37.
[2] C. Lubich, Servire, in «Città Nuova» 17 (1973/12), p. 13.
[3] Cf. Mc 10, 46-52.
[4] Cf. Is 65, 17 e 66, 22, ripreso in 2 Pt 3,13.
[5] Cf. Gv 13,14
[6] https://www.chiesavaldese.org/marco-1043-44/
[7] P. Mazzola (a cura di), Perle di Igino Giordani, Effatà editrice Torino 2019, p. 112.
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