“Uma celebração como essa só foi vista por ocasião da visita de João Paulo II (1983)”, escreve Filippo Casabianca, de El Salvador, um país de seis milhões de habitantes numa superfície de apenas 21.000 km2, que teve entre seus filhos este bispo, reconhecido amplamente como uma das mais significativas figuras eclesiais do continente americano. A causa havia sido aberta pelo bispo Rivera y Damas, seu sucessor na direção da diocese, no décimo aniversário de sua morte, acontecida em 24 de março de 1980. Foi precisamente naquele ano que chegaram a El Salvador Marita Sartori e Carlo Casabeltrame, para visitar três frades franciscanos que haviam começado a difundir o ideal da unidade. Naquela década trágica, que começou com o assassinato de D. Romero e culminou com o de sete jesuítas, o Movimento dos Focolares difundiu-se com um ímpeto formidável em várias partes do país, num cenário de guerra entre militares e guerrilheiros, até a abertura do focolare feminino, em 1989, apesar do perigo para as focolarinas estrangeiras que faziam parte dele. Desde então o país viveu um processo que o conduziu à assinatura de um tratado de paz, em 1992, e depois iniciou um caminho democrático com certa estabilidade política, porém privo da reconciliação tão desejada, motivo pelo qual hoje evidencia-se uma polarização destrutiva. Acrescenta-se a isso o flagelo da insegurança causada pela proliferação de organizações criminais juvenis (“maras”) e da pobreza de grandes faixas da população. As comunidades dos Focolares estão comprometidas em muitas iniciativas de apoio à famílias carentes, através dos programa de Ação por Famílias Novas e AMU, que permitiram que centenas de jovens prosseguissem os estudos, apoiaram o nascimento de centros educacionais para crianças pobres e ações em um bairro de risco, a fim de criar espaços de integração social. Com a beatificação de D. Romero formou-se uma consciência de oportunidade histórica na população. A sua mensagem foi percebida como um remédio que pode ajudar a revolver as visões contrapostas, curar os corações endurecidos pelo ressentimento e fornecer o algo a mais necessário à iniciativa da reconciliação. “É um desafio – assim define Maribel – que começa seguindo o exemplo de D. Romero, que para mim continua na ajuda aos meus alunos, cultivando a paz e a justiça em seus corações”. E para Amaris “a festa deve dar lugar à reconciliação que consiste em perdoar e pedir perdão, para curar feridas que ainda estão abertas”. Na comunidade dos Focolares o empenho pela unidade e a reconciliação sempre esteve presente, mas agora adquire as vestes de um mandato, à luz do testemunho heroico de D. Romero, “que soube chorar com quem chora – observa Flora Blandon – e alegrar-se com quem tinha um motivo. A beatificação é um reconhecimento pela sua vida enraizada no amor”. Na mensagem ao atual arcebispo de San Salvador, D. Josè Luiz Escobar Alas, o Papa define Romero como “um dos melhores filhos da Igreja”, atribuindo a ele os traços típicos do Bom Pastor, tão amados por ele. “Porque (Deus) concedeu ao bispo mártir a capacidade de ver e escutar o sofrimento do seu povo e modelar o seu coração a fim de que, em seu nome, o orientasse e iluminasse”. O Papa Francisco reconhece, além disso, a sua exemplaridade, e convida a encontrar, na pessoa de Romero, “força e coragem para construir o Reino de Deus e comprometer-se na busca de uma ordem social mais équa e digna”.
Abrir a porta do coração à alegria
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