Fiorella: Desde cedo descubro que André é ateu e muito popular entre as meninas. Eu me sinto atraída por ele, mas não quero ser uma das muitas. No meu coração decido que alguém desse tipo é melhor deixar de lado, mas depois, na discoteca, me encontro entre os seus braços. André: Fiorella era realmente uma das muitas. Antes de lhe dizer, admirado comigo mesmo, que talvez eu até poderia considerar que estava com ela porque gostava dela, se passaram dois anos. Fiorella: Eu estava consciente de que aquela relação não levava a lugar algum. Não havia diálogo, nem fazíamos projetos. Eu tinha me tornado a sombra de André, sem mais personalidade e sonhos. Desiludida, decido deixá-lo. Para fugir, mudo de trabalho e de cidade, mas logo depois me sinto sozinha e cheia de tristeza. Uma manhã, quase desesperada, me encontro à porta de uma igrejinha ‘gritando’ o meu porquê àquele Deus que eu tinha deixado há tempo. Terminado o contrato de trabalho, volto à casa dos meus pais. Alguns dias depois, uma amiga que não via há tempo, me fala de Deus e me convida para uma convivência de alguns dias com pessoas que se empenham em viver o Evangelho. Entrando na sala, me impressiona um escrito: Deus é amor. Eu me pergunto como Deus pode amar alguém como eu: maquiagem pesada, salto 12, cabelos de um vermelho fogo. Mas desde o primeiro dia percebo a sua presença. Descubro ter encontrado o que desde sempre procurava e corro a esvaziar as minhas misérias no confessionário com o propósito de pôr em prática o Evangelho. Depois daquela minha primeira “Mariápolis”, a Eucaristia se torna a minha força vital. André: Fiorella mudou. Agora fala, mas o que é pior – segundo o meu ponto de vista daquela época – é que fala de Deus. Por querer ser tolerante decido não deixá-la, mas tenho ciúmes deste Deus que a está roubando de mim. Fico impressionado com a sua serenidade, a sua alegria de viver, o seu novo modo de gostar de mim que me preenche o coração. Agora trocamos opiniões entre nós, valorizando as exigências interiores de um e do outro. E se a estivesse amando de verdade? Impressionado comigo mesmo chego a lhe pedir para nos casarmos, aceitando de fazer isso na igreja. Depois do casamento, um acidente no trabalho me obriga à imobilidade. A única distração são as visitas daquelas famílias que Fiorella começou a frequentar. Assim que consigo, decido ir visitar uma delas para entender as razões deste interesse por mim. Falamos de tudo, inclusive da fé, até as três da manhã. Estou fascinado. «Estes aqui levam a coisa a sério! Digo a mim mesmo. Eu também quero viver como eles, eu também quero ser o primeiro a amar». Um sábado vejo a pia da cozinha cheia de pratos. Fiorella está fora, trabalhando. Para não me deixar ver pelos vizinhos, fecho as persianas e começo a reorganizar, para lhe dizer, com fatos, todo o meu amor. Tento também passar roupa, mesmo se levo duas horas só para uma camisa. E enquanto estou fazendo tudo isto, percebo aflorar em mim uma certeza: Deus existe, Deus é Amor. Com a fé, nasce em mim também a necessidade de rezar. Digo isso a Fiorella, lhe propondo fazermos juntos. Com um pouco de vergonha, com as luzes apagadas, cada um de um lado da cama, naquela mesma noite rezamos juntos pela primeira vez. Fiorella: Depois de doze anos de metas alcançadas, passos para trás, novos inícios e muita alegria pelo amor novo que ia crescendo entre nós, e pelo nascimento dos nossos dois filhos Maria Giovanna e Ivan, recebemos a proposta de nos transferirmos para Honduras para apoiar a comunidade dos Focolares, que estava nascendo. Jesus pedia à nossa família para seguir Ele somente, deixando concretamente casa, trabalho, parentes. Em Tegucigalpa nos espera um mundo desconhecido para nós, com costumes, língua e cultura diferentes, com a difícil realidade do povo hondurenho que bate todos os dias à nossa porta. André: Aprendemos o ‘fazer-se um’ mais profundo, nos imergindo nas suas vidas numa forte experiência de inculturação. Os frutos de evangelização são inúmeros: vocações, matrimônios regularizados, famílias recompostas, retornos a Deus, passos de fraternidade entre pessoas de classe social diferente. Depois de oito anos, deixamos uma comunidade construída pedaço por pedaço sobre o amor concreto que procuramos doar, envolvendo também os nossos filhos que, neste meio tempo, se tornaram três. De fato, enquanto estamos em Honduras nasce Juan Diego, que chamamos com este nome em honra do santo a quem apareceu a Virgem de Guadalupe, à qual continuamos a confiar este povo tão generoso que transformou a nossa vida.
Ser “próximo”
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