Respira-se simplicidade e profissionalismo na simples, mas elegante, aula magna da sede da Universidade americana de Notre Dame Du Lac em Roma, que hospedou, no dia 27 de janeiro, a entrega do doutorado em direito ao cardeal Jean-Louis Tauran, presidente Conselho Pontifício para o diálogo inter-religioso, e a Maria Voce, presidente do Movimento dos Focolares.
Thomas G. Burish, vice-reitor da prestigiosa universidade, abriu a cerimônia. Os doutorados honoris causa são conferidos a pessoas que deram uma contribuição que até hoje ninguém havia dado, salientou o estudioso americano.

O reitor da universidade, o Rev. John Jenkins, confere o diploma honoris causa a Maria Voce. Foto © University of Notre Dame
O cardeal Tauran e Maria Voce, em suas respectivas esferas, propõem algo inédito ao homem e à mulher de hoje. A motivação da entrega deste título a Maria Voce afirma: «Pela sua extraordinária capacidade de guiar o Movimento dos Focolares e como reconhecimento pelo incrível testemunho e inspiração que o próprio Movimento oferece. O trabalho de vocês pelo progresso da causa da unidade, por meio do diálogo e da amizade, é uma verdadeira referência para as feridas do mundo de hoje, assoberbado de fraturas».
Com a presença de várias autoridades e de todo o Conselho Administrativo da Universidade Notre Dame, a cerimônia foi sóbria e significativa. «O doutorado conferido hoje a estas duas personalidades é o reconhecimento daquilo que neles já está presente, portanto, nada acrescenta. Antes, é uma honra para nós que realizamos esse ato», disse ainda o prof. Burish.
O discurso do cardeal Tauran colocou em relevo o árduo caminho da Europa, que experimentou a separação entre fé e razão. «O Deus que foi colocado de lado reapareceu agora, num mundo onde os homens continuam a interrogar-se sobre a vida e a morte». Na análise de Tauran o diálogo torna-se uma opção obrigatória. «É um risco – continuou o cardeal – porque trata-se de aceitar ser colocado em questão por um outro, que crê e pensa diversamente». As palavras-chave são identidade, alteridade e diálogo: uma tríade que permite não renunciar a própria fé, mas escolher caminhar juntos rumo à verdade.

O discurso de Sua Eminência Jean-Louis Cardeal Tauran. Foto © University of Notre Dame
Durante o almoço oferecido pela Universidade, Maria Voce apresentou uma reflexão e, em seguida, uma oração. «O estudo sempre me fascinou», ela disse. «Durante o último ano da faculdade de direito conheci Chiara Lubich e o seu carisma da unidade, que logo me envolveu e levou-me a fazer do amor evangélico o meu estilo de vida. Abria-se diante de mim uma boa carreira, como primeira mulher a advogar no fórum de Cosenza. Mas, de modo imprevisto, fui arrebatada pelo forte chamado de Deus a segui-lo na comunidade do focolare. Em uma semana eu deixei tudo, sem nunca me arrepender. Lembro que alguns anos mais tarde, quando, por acaso, fui chamada como testemunha em um tribunal, reencontrei todo o fascínio do mundo que havia deixado, juntamente com a alegria de ter podido dar a Deus algo de belo».
Recordou ainda que um de seus professores definia o Direito como “um sistema de limites”. A partir dessa definição Maria Voce propôs uma reflexão sobre o significado da Lei. «Na lógica do amor evangélico vivido – explicou – o limite torna-se ocasião para experimentar o verdadeiro ser da pessoa, que se realiza no dar, no dar-se, no tornar-se dádiva. Somente assim pode-se conciliar o respeito das liberdades individuais numa síntese superior, que leva à comunhão, na qual e pela qual os sujeitos podem ver tuteladas, e potencializadas, as suas identidades. A comunhão, a unidade – na qual reconhecemos o projeto de Deus sobre a família humana – não é algo que anula a pessoa, mas algo em que a pessoa se realiza. E isso porque é constitutivo do homem estar em relação».
E na oração ela suplicou: «Tu que vieste ao mundo graças ao sim de uma jovem mulher, em tudo o que fazemos ajuda-nos a ser – como Maria – instrumentos do teu amor pelo mundo. De modo especial, faz que no nosso trabalho conjunto, nas nossas universidades, nas nossas comunidades, em todos os nossos projetos e encontros, possamos, como Maria, gerar a tua presença e testemunhar a realização da tua promessa de estar conosco, em toda parte, onde dois ou três estão reunidos em teu nome».
De Roberto Catalano e Michele Zanzucchi
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