Movimento dos Focolares

Luciana Scalacci, testemunha de diálogo

Mai 14, 2025

Empenho social e político, profunda fé no homem e nas suas potencialidades, paixão pelo diálogo. Luciana Scalacci - que nos deixou em março passado -, ao lado de seu marido Nicola e com sua dedicação, generosidade e inteligência, deu uma enorme contribuição ao diálogo, no Movimento dos Focolares, especialmente com as pessoas de convicções não religiosas.

No dia 18 de março de 2025, faleceu Luciana Scalacci, uma mulher extraordinária, testemunha viva de ação concreta e de diálogo, a 3600 . Casada com Nicola, ambos de convicções não religiosas, sempre sentiram que o diálogo é um aspecto fundamental na sociedade contemporânea, caracterizada por tantas formas de divisão e conflito. “Meu marido e eu somos não crentes – contou Luciana, alguns anos atrás, durante um encontro dos Focolares -, ou melhor, não cremos em Deus, porque nós acreditamos no homem e nas suas potencialidades”.

Luciana nasceu em Abbadia San Salvatore, uma cidade italiana na província de Siena. Desde criança, sempre trabalhou pelos últimos, os mais fracos, transmitindo valores de honestidade, integração e igualdade a todos. Com o marido, se envolveram na política e nos sindicatos, em uma militância de esquerda sempre centrada nos valores da justiça, do diálogo e da liberdade. O encontro com o Movimento dos Focolares aconteceu graças à filha Mascia.

“Um dia – ela conta – nossa filha nos escreveu uma carta onde, em síntese, nos dizia: ‘queridos pais, encontrei um lugar onde colocar em prática os valores que vocês sempre me transmitiram’. Ela tinha conhecido o Movimento dos Focolares”. Para entender, então, a decisão da filha, Luciana e Nicola decidiram participar de um evento organizado pelo Movimento. “Era um encontro entre pessoas de diferentes convicções, mas nós não sabíamos disso. Portanto, para não criar equívocos, quisemos logo deixar clara a nossa posição política e religiosa. A resposta foi: ‘e quem perguntou algo a vocês?!’. Imeditamente tivemos a impressão de nos encontrar em um ambiente onde existia respeito pelas ideias dos outros, encontramos uma abertura que nunca tínhamos encontrado em outras associações ou movimentos religiosos”.

A partir daquele momento, e nos anos que seguiram, a contribuição de Luciana Scalacci ao Movimento dos Focolares foi essencial. Em 1995 ela encontrou-se, pela primeira vez, com Chiara Lubich, a fundadora do Movimento. Ao lado dela atuou para fazer nascer e aprofundar o diálogo com pessoas de convicções não religiosas, que tomou força graças também à inteligência iluminada de Luciana.

A partir do ano 2000 ela fez parte da Comissão internacional do diálogo com pessoas de convicções não religiosas, contribuindo na organização de congressos, como “Em diálogo pela paz, consciência e liberdade; mulheres e homens rumo a uma sociedade solidária”, e tantos outros. No contato pessoal com Chiara e com a comunidade do Movimento, Luciana havia encontrado uma plena sintonia com o ideal da unidade. Ela contou a uma amiga: “Este diálogo (entre pessoas de diferentes convicções) não nasceu para converter os não crentes, mas porque, com Chiara, compreendemos que um mundo unido se constrói juntos. Que todos sejam um. Se excluímos mesmo um só, não somos mais todos”.

Em 26 de setembro de 2014, durante uma audiência concedida aos Focolares, ela cumprimeutou o Papa Francisco. “Naquele dia extraordinário eu tive o privilégio de trocar, com o senhor, algumas palavras que jamais esquecerei”, ela escreveu, este ano, em uma carta endereçada ao Papa, enquanto estava internado na Policlínica Gemelli. “Agora, caro Papa Francisco, o senhor está num leito de hospital, e eu também me encontro na mesma condição. Ambos diante da fragilidade da nossa humanidade. Quero assegurar-lhe que não paro de pensar e rezar leigamente pelo senhor. E o senhor, reze cristãmente por mim”.

Foram muitas as lágrimas de gratidão e profundas as palavras de agradecimento no dia do seu funeral. Um exemplo, entre tantos, o de Vita Zanolini, focolarina e amiga de Luciana e Nicola. “Luciana, amiga, irmã, companheira nas fronteiras do novo, mas no respeito da história e das raízes, mestra de vida e de muito mais – disse Vita ao recordá-la -. Pensando nela, na sua liberdade, retornam à mente céus luminosos e serenos, de um colorido intenso; uma fonte límpida, que em seu escorrer doce e silencioso, torna-se também uma cascata tumultuosa. Uma lareira acesa numa casa acolhedora que mostra um coração sempre aberto. Mas também um menu refinado e rico, com receitas saborosas e sempre criativas. Resiliência, respeito, escuta, tenacidade em todas as suas nuances”.

“Anos atrás – continua Vita – em um dos encontros sobre o diálogo, alguém fez uma pergunta um tanto original: ‘qual é a diferença entre um crente e um não crente?’, e a resposta de Luciana, talvez inesperada para muitos, foi: ‘Os crentes creem em Deus, os não crentes… Deus crê neles’. Penso que podemos dizer que Luciana não desiludiu essa fé de Deus nela!”.

Luciana passou seus últimos dias de vida num hospital. Estava sempre muita atenta e ativa, comunicando o que lhe passava no coração, com uma força extraordinária que contrastava com o pouco fôlego. Fez suas recomendações (inclusive com alegres ameaças) intercaladas com lembranças das muitas experiências vividas juntas. “Era como se ela passasse o bastão para nós – diz ainda Vita -. Antes de nos deixarmos o abraço foi comovente e ao mesmo tempo muito sereno, com o sabor da eternidade”.

Lorenzo Russo

___

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

Esta maldição da guerra

Esta maldição da guerra

“Eu via o absurdo, a estupidez e, principalmente, o pecado da guerra…”. Igino Giordani, ao escrever as suas memórias, reflete sobre o período terrível da Primeira Guerra Mundial, quando ele mesmo foi convocado. O “massacre inútil”, como a definiu Bento XV. As suas palavras nos fazem pensar em como a história poderia nos ensinar a trabalhar pela paz, nos nossos dias, combatendo contra os novos, absurdos, inúteis massacres do nosso século.

Jubileu dos jovens: itinerários de caminho, esperança, reconciliação

Jubileu dos jovens: itinerários de caminho, esperança, reconciliação

Uma peregrinação a Roma, durante o evento, com a participação de jovens do mundo inteiro, para percorrer o histórico “itinerário das sete igrejas”, com catequeses, oração, testemunhos, aprofundamentos espirituais ligados ao carisma da unidade, música e partilha.

Indonésia: espalhar esperança

Indonésia: espalhar esperança

Em Medan, capital da província de Sumatra, na Indonésia, após o tsunami de 2004, a comunidade local dos Focolares criou o Centro Social «Sumber Harapan», Fonte da Esperança, para atender às necessidades dos mais pobres da cidade. Maximus e Fretty, animadores do centro, contam-nos as ações que realizam.