
Indonésia: espalhar esperança
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Em julho de 2008, foi realizada a primeira Assembleia Geral do Movimento dos Focolares sem a fundadora. De fato, Chiara Lubich tinha nos deixado alguns meses antes, em 14 de março. Uma incógnita pairava na atmosfera, já impregnada de emoções e perguntas: quem deveria ser a sucessora de Chiara à frente do Movimento? Parecia óbvio pensar nas primeiras companheiras de Chiara, já idosas, mas ainda capazes de guiar uma primeira fase de pós-fundação, pelo menos algumas delas.
Durante a primeira sessão da Assembleia, Carlos Clariá, advogado e conselheiro geral argentino, e Maria Voce, por muitos anos secretária da delegada central, Gisella Cagliari, fizeram um discurso de caráter jurídico sobre um tema relevante para a Assembleia. Eu estava sentado ao lado do conhecido teólogo Piero Coda. Quando terminaram o discurso, eu, com uma certa ousadia, lhe disse: “Eis a nossa nova presidente”. O fato é que a sua maneira de explicar as coisas me impressionou muito.
Maria Voce (Emmaus) foi eleita no terceiro turno, não sem um certo “suspense”. Começava uma nova etapa para a Obra de Maria. Eu também fui eleito conselheiro.
Uma tarde, depois das eleições, enquanto saíamos do Centro Mariápolis de Castelgandolfo, Emmaus se aproximou de mim e me disse mais ou menos estas palavras: “Pensei em confiar a você, no novo conselho, o aspecto dos estudos e da cultura. Você é um intelectual e sempre gostei dos relatórios anuais que você fazia quando era responsável de região na América Latina.” Durante os seis anos seguintes, o relacionamento com ela foi caracterizado pela normalidade.
Na Assembleia de 2014, Emmaus foi reeleita, ao passo que os participantes depositaram a confiança deles em mim como Copresidente. Desde então, o relacionamento se intensificou enormemente, sem perder a normalidade. Lembro-me que, inicialmente, senti uma certa preocupação pelo fato de trabalhar lado a lado com uma presidente que pertencia à geração que vinha logo depois da primeira, mas esse sentimento não durou muito. Sempre senti muito respeito e consideração da sua parte, o que me deu muita liberdade. Eu apresentava as minhas novas ideias e ela, com sua sabedoria e experiência, me apoiava. Nos momentos em que devíamos falar juntos, preparávamos o essencial, completando as nossas respectivas partes com simplicidade. Uma vez eu lhe disse: “Ao contrário do que você poderia pensar, eu me sinto confiante em compartilhar algumas ideias criativas somente quando você está ao meu lado.” Fizemos viagens longas e importantes para a Índia e a China, onde pude testemunhar a sua capacidade de penetrar nas situações mais intrincadas e de se relacionar com personalidades mais diversas.
Maria Voce, Emmaus, entrará para a história do Movimento dos Focolares como a primeira presidente da fase pós-Chiara Lubich. Se considerarmos que, quando ela assumiu o cargo muitas das primeiras companheiras e companheiros de Chiara ainda estavam vivos, podemos entender a “resiliência espiritual” com a qual ela trabalhou naqueles primeiros anos; não porque fossem pessoas difíceis, simplesmente porque eram os primeiros, os braços da fundadora, pessoas que de alguma forma tinham participado do carisma de fundação.
Emmaus entrará para a história do Movimento dos Focolares não somente como a primeira presidente da fase pós-Chiara Lubich, mas também como aquela que deu o primeiro passo inovador-organizativo do Movimento na era de pós-fundação, em perfeita fidelidade criativa ao carisma. Em seu primeiro mandato, quando se sentia a ausência de Chiara e isso poderia desanimar, ela viajou pelo mundo afora para confirmar todas as pessoas das comunidades do Movimento dos Focolares em seu compromisso com um mundo mais fraterno e unido – segundo o carisma da fundadora. Em seu segundo mandato, ela começou a preparar o Movimento para a inevitável fase de “crise” que se anunciava no horizonte, e que o Papa Francisco identificou como uma grande oportunidade. E, a propósito, a grande estima que o papa argentino tinha por ela, demonstrando-o em todas as ocasiões, evidencia outra característica sua: o espírito eclesial.
Sempre admirei a sua sobriedade, a sua liberdade interior, a determinação e a capacidade de discernimento, na qual foi ajudada por uma sólida formação jurídica que lhe era própria.
Maria Voce permanecerá na história do Movimento como “Emmaus” [“Emaús”], evocando a centralidade de Jesus em meio aos seus, princípio absolutamente inegociável para ela.
Obrigado, Emmaus, por ter dito um “sim” solene no momento mais difícil de nossa ainda curta história. Maria certamente acolheu você em seus braços, apresentou ao seu Filho e, juntos, levaram você ao seio do Pai, perene fonte de sua inspiração.
Jesús Morán
Copresidente do Movimento dos Focolares
Foto @ CSC Audiovisivi
Maria Voce, a primeira presidente do Movimento dos Focolares (Obra de Maria) depois da fundadora Chiara Lubich, deixou-nos ontem, aos 87 anos, em sua casa em Rocca di Papa (Itália), cercada pelo afeto e pelas orações de muitos.
O acontecimento foi anunciado ontem à noite por Margaret Karram, a atual presidente, a todas as pessoas que pertencem ao Movimento dos Focolares no mundo.
Em uma nota, ela expressou a imensa dor pelo falecimento e o vínculo fraterno e filial que a unia a Maria Voce. “Como primeira presidente do Movimento dos Focolares, depois da nossa fundadora, soube administrar com inteligência, clarividência e a necessária determinação a difícil passagem da nossa Obra da fase de fundação à pós-fundação. Soube combinar a sua luminosa fidelidade ao Carisma da Unidade com a coragem de enfrentar os muitos desafios de uma associação mundial como a nossa, que atua em tantos níveis da vida humana, social e institucional.
O nome “Emaús”, recebido como programa de vida de Chiara Lubich, tornou-se também o programa do seu governo: caminhar juntos, de modo sinodal, confiando – apesar dos questionamentos e das perplexidades que podem surgir ao longo do caminho – na presença de Deus entre os seus.
Quando a sucedi como presidente do Movimento dos Focolares em 2021, ela me acompanhou sempre com uma proximidade discreta, mas viva, e com seus conselhos cheios de Sabedoria. Além de sua preparação espiritual, teológica e jurídica, era dotada também de uma humanidade profunda e acolhedora e de um humor envolvente e sempre respeitoso. Sua estatura humana e sapiencial foi reconhecida pelas mais diversas personalidades religiosas e civis: desde o Papa Bento XVI e o Papa Francisco; desde os líderes das várias Igrejas até representantes de outras Religiões e culturas.
Algumas horas antes de sua partida para a outra vida, Jesús Morán e eu pudemos visitá-la pela última vez. Ela estava serena. Consola-me o pensamento de que a Virgem Maria, a quem ela estava ligada por um relacionamento muito profundo, existencial, a esperava no céu, eu diria.”
Jesús Morán, que viveu ao lado de Maria Voce nos primeiros seis anos de seu serviço como Copresidente do Movimento dos Focolares, reconhece que, com a sua eleição, começou uma nova etapa para o Movimento dos Focolares. Escreve: “Ela entrará para a história do Movimento não somente como a primeira presidente da fase pós-Chiara Lubich, mas também como aquela que deu o primeiro passo inovador-organizativo do Movimento na era pós-fundação, em perfeita fidelidade criativa ao carisma”. Em seu primeiro mandato, quando se sentia a ausência de Chiara e isso podia desanimar, viajou pelo mundo para confirmar todas as pessoas das comunidades do Movimento dos Focolares em seu compromisso com um mundo mais fraterno e unido – segundo o carisma da fundadora. Em seu segundo mandato, ela começou a preparar o Movimento para a inevitável fase de “crise” que se anunciava no horizonte, e que o Papa Francisco identificou como uma grande oportunidade. E, a propósito, a grande estima que o papa argentino tinha por ela, demonstrando-o em todas as ocasiões, evidencia outra característica sua: o espírito eclesial.
Sempre admirei a sua sobriedade, a sua liberdade interior, a determinação e a capacidade de discernimento, na qual foi ajudada por uma sólida formação jurídica que lhe era própria.
Obrigado, Emmaus, por dizer um “sim” solene no momento mais difícil de nossa ainda curta história. Maria a terá recebido em seus braços, apresentando-a a seu Filho e, juntos, a terão levado ao seio do Pai, perene fonte de sua inspiração.
I funerali si terranno lunedì prossimo, 23 giugno 2025, alle ore 15.00 presso il Centro internazionale dei Focolari a Rocca di Papa (Roma), via di Frascati, 306 – Rocca di Papa (Roma).(*)
Stefania Tanesini
Nota biográfica
Maria Voce nasceu em Ajello Calabro (Cosenza – Itália) em 16 de julho de 1937, a primeira de sete filhos. Seu pai era médico; sua mãe, dona de casa. No último ano do curso de Direito, em Roma (1959), conheceu um grupo de jovens focolarinos na universidade e começou a seguir a mesma espiritualidade. Depois de terminar os estudos, exerceu a advocacia em Cosenza, tornando-se a primeira advogada da cidade. Mais tarde, estudou teologia e direito canônico.
Em 1963, sentiu o chamado de Deus para seguir o caminho de Chiara Lubich, ao qual respondeu com prontidão. No Movimento, Maria Voce é conhecida como “Emmaus” [Emaús], nome que se refere ao conhecido episódio dos dois discípulos que caminham com Jesus após a ressurreição. Ela mesma conta por que Chiara lhe propôs esse nome: “Chiara confirmou uma intuição que eu tinha sentido muito forte dentro de mim: que minha vida deveria ser vivida para que aqueles que me encontrassem experimentassem Jesus no meio”. Daquele momento em diante, seu compromisso foi construir pontes de unidade, a ponto de merecer a presença de Deus entre as pessoas.
De 1964 a 1972 esteve nas comunidades dos Focolares (Itália) na Sicília, em Siracusa e Catânia, e de 1972 a 1978 fez parte da secretaria pessoal de Chiara Lubich.
Em 1977, Chiara Lubich fez uma importante viagem a Istambul (Turquia), onde há anos cultivava uma profunda relação com o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. Naqueles anos, Maria Voce esteve em focolare naquela cidade e conta: “Foi uma experiência forte, tanto pelos preciosos contatos com as várias Igrejas, com o Islã, como também porque sentíamos que somente Jesus entre nós nos tornava fortes diante dos muitos problemas daquela terra”.
Em Istambul estabeleceu relações ecumênicas com o então Patriarca de Constantinopla Demétrio I e numerosos Metropolitas, entre os quais o atual Patriarca Bartolomeu I, além de expoentes de várias Igrejas.
Em 1988, Chiara pediu a Emmaus que voltasse à Itália para trabalhar no Centro Internacional de Rocca di Papa e na escola Abbà, centro de estudos interdisciplinares dos Focolares, tornando-se membro em 1995, como especialista em Direito. A partir do ano 2000 é também corresponsável pela Comissão Internacional “Comunhão e Direito”, uma rede de profissionais e acadêmicos envolvidos no campo da Justiça. De 2002 a 2007, colaborou diretamente com Chiara na atualização dos Estatutos Gerais do Movimento.
Em 7 de julho de 2008, poucos meses após a morte de Chiara Lubich, foi eleita presidente do Movimento dos Focolares, e reconfirmada para um segundo mandato em 12 de setembro de 2014. Ela sempre indicou como estilo da sua presidência o compromisso de “dar prioridade aos relacionamentos” e de se empenhar com todas as suas forças para alcançar o objetivo para o qual o Movimento nasceu: buscar a unidade em todos os níveis, em todos os campos, seguindo as vias do diálogo. Ela mesma enfatizou várias vezes a importância do diálogo. “Se há um extremismo da violência”, disse em 2015 nas Nações Unidas, em Nova York, “agora há uma resposta com o mesmo radicalismo, mas de uma forma estruturalmente diferente, ou seja, com o extremismo do diálogo”.
Fez numerosas viagens a todos os continentes para encontrar as comunidades do Movimento espalhadas pelo mundo e para continuar os contatos com personalidades do mundo civil e eclesial, do âmbito cultural e político, ecumênico e inter-religioso; etapas importantes para reforçar os laços de amizade e de colaboração empreendidos pelo Movimento dos Focolares e para favorecer o desenvolvimento no caminho da fraternidade entre os povos.
Durante sua presidência, tanto com o Papa Bento XVI quanto com o Papa Francisco, Maria Voce teve encontros e audiências de onde emergiram expressões de estima e afeto fraterno de ambas as partes. Em 23 de abril de 2010, o Papa Bento XVI a recebeu em audiência privada. Em relação à espiritualidade do Movimento dos Focolares, o Papa falou de “um carisma que constrói pontes, que cria unidade” e incentiva a continuar a atualizá-lo com um amor cada vez mais profundo e na tensão à santidade. Em outubro de 2008, ela participou e falou no Sínodo dos Bispos sobre “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Em 24 de novembro de 2009, o Papa Bento XVI a nomeou Consultora do Pontifício Conselho para os Leigos e, em 7 de dezembro de 2011, Consultora do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização.
Em 13 de setembro de 2013, o Papa Francisco a recebeu em audiência com o então copresidente Giancarlo Faletti. Sobre esse momento, Emmaus relembra: “Ele imediatamente nos recebeu com uma enorme acolhida. Fez com que eu me sentisse em casa. Experimentei uma grande alegria: sentir-me diante de um pai, mas, antes de tudo, de um irmão. Eu me senti como sua irmã e esse sentimento sempre permaneceu”.
E in un’altra occasione, ha detto: “Papa Francesco ci ha sempre incoraggiato ad andare avanti, ad accogliere i segni dei tempi per attualizzare il carisma – lui diceva – ricevuto per il bene di molti, dandone gioiosa testimonianza”. Una di queste occasioni è stata la visita del Santo Padre presso la cittadella internazionale di Loppiano (Firenze, Italia) nel 2018. Maria Voce è lì ad accoglierlo: “Santo Padre, abbiamo una meta alta, vogliamo ‘puntare in alto’. Vorremmo Fare dell’amore reciproco la legge della convivenza, che vuol dire sperimentare la gioia del Vangelo e sentirsi protagonisti di una nuova pagina di storia”.
Depois da publicação da primeira parte da biografia de padre Foresi dedicada ao período inicial de sua vida, saiu também a segunda, das três partes previstas, intitulada: “La regola e l’eccesso” (“A regra e o excesso”, em tradução livre), da editora Città Nuova, que aborda os anos entre 1954 e 1962. O que o senhor acha que, neste volume, emerge como característica notável desse período da vida de Foresi?
Uma nota que caracteriza profundamente a vida e a experiência de Pasquale Foresi nos anos indicados, pode ser expressa deste modo: era um espírito livre, uma pessoa animada por uma tensão criativa entre carisma e cultura, movido pela exigência de traduzir espiritualmente e operativamente a inspiração de Chiara Lubich (o carisma da unidade) e a necessidade, em certo modo, de lhe conferir profundidade teológica, filosófica e institucional, em um contexto eclesial ainda largamente pré-conciliar. O livro o descreve muito bem como ele era continuamente comprometido, ao lado de Lubich, em “encarnar” o carisma de formas compreensíveis para a Igreja do tempo, para o mundo cultural e leigo em geral. Nesse sentido, pode-se chegar a defini-lo, além de um cofundador, também como um intérprete eclesial do carisma, aquele que procurava torná-lo “explicável” nos códigos da Igreja e que provou ser o construtor de pontes entre a dimensão mística de Lubich e a teologia clássica, tornando-a acessível a muitos sem dissolvê-la.
Ao mesmo tempo, Foresi era um intelectual atípico e um pensador original. Mesmo não tendo deixado grandes obras sistemáticas (não tomava isso como tarefa específica), exercitou um forte impacto na Obra de Maria (Movimento dos Focolares), justamente no período de tempo descrito no volume. Este segundo livro documenta uma existência dinâmica, atravessada por um senso de urgência, como se as palavras do Evangelho próprias do desenvolvimento do Movimento dos Focolares devessem ser encarnadas “logo”, sem retorno.
“Don Foresi, um espírito livre, uma pessoa animada por uma tensão criativa entre carisma e cultura”.
O nosso entrevistado, o Prof. Marco Luppi, investigador em História Contemporânea no Instituto Universitário Sophia de Loppiano (Itália)
As mais de 600 páginas do texto tratam não só dos acontecimentos da vida de Foresi no período selecionado, mas tratam também da vida e história de Chiara Lubich e do Movimento dos Focolares daqueles anos, trazendo inclusive histórias e episódios nos quais Foresi não estava presente, como o autor mesmo afirma. Por que foi feita essa escolha editorial?
Zanzucchi inclui eventos e vivências mesmo que não diretamente vividos por Foresi, porque sua figura é inseparável da história do Movimento dos Focolares. Contar o contexto, os protagonistas e as dinâmicas coletivas permite colher o significado da contribuição de Foresi, inserindo-o na trama viva de uma experiência comunitária. Como afirma claramente em sua introdução, Zanzucchi vê em Foresi não só um protagonista, mas um cofundador, ou seja um dos elementos estruturais e constitutivos do Movimento dos Focolares. Como consequência, a biografia de Foresi é inseparável pela biografia do Movimento. Em outros termos, o autor adota uma perspectiva que podemos definir como “biografia imersa”: não uma simples reconstrução individual, mas uma narração relacional e contextual, no qual o sentido da figura de Foresi emerge no diálogo vivo com outros atores (Chiara Lubich, Igino Giordani, personalidades do âmbito eclesial, etc.) e com a história coletiva do Movimento.
O trabalho de Michele Zanzucchi è a primeira biografia sobre Foresi. Quais são os aspectos da vida de Foresi que mereceriam futuros aprofundamentos e abordagens históricas?
Zanzucchi ama dizer que não é um historiador puro, mas em narrador e divulgador atento e escrupuloso e que, portanto, em diversos momentos pegou também uma licença a fim de esclarecer qualquer passagem não muito explícita. Mas este é, com certeza, um trabalho muito importante e um primeiro esforço de restituir-nos a personalidade e a vida de Foresi, com um olhar completo. Trata-se de um olhar e muitos outros podem existir, atravessando aquele mesmo espírito crítico, aberto a múltiplas interpretações, que deve animar a reconstrução da história de todo o Movimento dos Focolares e suas figuras de referência. Entre os muitos aprofundamentos envolvendo possíveis futuras pesquisas sobre Foresi, indicarei três. Uma primeira sobre pensamento teológico e filosófico de Foresi. Zanzucchi evidencia que Foresi não foi um teólogo acadêmico, mas um “visionário cultural”, com uma produção espalhada em artigos, discursos e notas. Portanto, nota-se a falta de uma exposição orgânica de seu pensamento sobre temas-chave como Igreja, sacramentos, relacionamento fé-razão, etc. Além disso, seria estudada a originalidade de seu pensamento eclesial, que antecipa algumas intuições conciliares. Uma segunda pesquisa poderia ser a do papel “político” de Foresi e as relações com o mundo eclesiástico romano. O autor acena repetidamente aos laços de Foresi com a cúria vaticana e algumas personalidades eclesiásticas. Todavia não está ainda muito claro quanto peso Foresi teve nas mediações políticas ou eclesiais do segundo pós-guerra e, portanto, seria útil explorar isso, especialmente nos momentos de tensão com a hierarquia. Enfim, uma terceira frente estimulante poderia ser a estação editorial e o “laboratório cultural” de Città Nuova. Zanzucchi destaca o papel de Foresi como fundador, diretor e inspirador da revista Cidade Nova. Que tipo de “cultura” Foresi procurava propor? Como se posicionava com relação a outras publicações católicas (Civiltà Cattolica, L’Osservatore Romano, Il Regno)? Mais cedo ou mais tarde será útil ter uma monografia também sobre o trabalho de Foresi como editor e jornalista, no contexto da publicação católica nos novecentos.
por Anna Lisa Innocenti
Foto: © Archivio CSC audiovisivi
No mundo, também estão surgindo espaços nos quais a fraternidade é cultivada com propósito. Um deles é MilONGa, um projeto que tem se afirmado como uma iniciativa fundamental no campo do voluntariado internacional, com o objetivo de promover a paz e a solidariedade mediante ações, realizações.
MilONGa propõe uma alternativa concreta: viver a solidariedade a partir de si, mediante experiências que transcendem as fronteiras culturais, sociais e geográficas.
Seu nome, que vem de “Mil Organizações Não Governamentais Ativas”, é muito mais do que um projeto. É uma rede que une jovens com organizações de várias partes do mundo, dando-lhes a oportunidade de se envolverem ativamente em iniciativas sociais, educacionais, ambientais e culturais. Desde a sua criação, o programa cresceu, tecendo uma comunidade global que se reconhece em valores compartilhados: paz, reciprocidade e cidadania ativa.
O que distingue MilONGa não é apenas a diversidade de seus destinos ou a riqueza de suas atividades, mas o tipo de experiência que propõe: uma imersão profunda nas realidades locais, em que cada voluntário e voluntária não está ali para “ajudar”, mas para aprender, fazer uma troca, construir juntos. É um caminho de formação integral que transforma tanto quem o vive quanto as comunidades que acolhem esses voluntários.
Os países onde essas experiências podem ser realizadas são tão diversos quanto os jovens que participam delas, e cobrem diferentes latitudes: México, Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai, Uruguai e Peru, na América; Quênia, na África; Espanha, Itália, Portugal e Alemanha, na Europa; Líbano e Jordânia, no Oriente Médio.
Em cada país, MilONGa colabora com organizações locais comprometidas com o desenvolvimento social e a construção de uma cultura de paz, oferecendo aos voluntários oportunidades de serviço que têm um impacto real e duradouro.
Por trás de MilONGa existe uma sólida rede de alianças internacionais. O projeto é apoiado por AFR.E.S.H., (“África e Europa o mesmo horizonte”), cofinanciado pela União Europeia, o que lhe permite consolidar a sua estrutura e expandir o seu impacto. Além disso, faz parte do ecossistema de New Humanity, organização internacional comprometida com a promoção de uma cultura de unidade e diálogo entre os povos.
Uma história que deixa sua marca
Francesco Sorrenti foi um dos voluntários que viajou para a África com o programa MilONGa. Sua motivação não era apenas o desejo de “ajudar”, mas uma necessidade mais profunda de entender e de se aproximar de uma realidade que ele sentia distante. “Era algo que estava dentro de mim há anos: uma curiosidade profunda, quase uma urgência de ver com os próprios olhos, de tentar me aproximar de uma realidade que eu sentia distante”, diz Francesco sobre essa passagem pelo Quênia.
Sua experiência no Quênia foi marcada por momentos que o transformaram. Um deles foi sua visita a Mathare, uma favela em Nairóbi. “Quando um deles me disse: ‘Veja, meus pais moram aqui. Eu nasci aqui, meus filhos também. Conheci minha esposa aqui e provavelmente morreremos aqui’, senti uma impotência muito forte. Entendi que antes de fazer qualquer coisa, era preciso parar. Eu não estava lá para consertar as coisas, mas para olhar de frente. Para não virar o rosto”.
Ele também experimentou momentos de luz em seu trabalho com as crianças em uma escola local. “A alegria daqueles meninos era contagiante, física. Não eram necessárias muitas palavras: bastava estar ali, brincar, compartilhar. Foi quando entendi que não se trata de fazer grandes coisas, mas simplesmente de estar presente”, diz ele.
Dois anos depois dessa experiência, Francesco ainda sente seu impacto. “Minha maneira de ver as coisas mudou: agora valorizo mais o que realmente importa e aprendi a apreciar a simplicidade. Essa experiência também me deixou uma força, uma tenacidade interior. Você percebe que tem dentro de si uma espécie de resistência, como a que eu vi nos olhos daqueles que, ao amanhecer, queriam fazer tudo, mesmo que não tivessem nada”.
Encontros que multiplicam o compromisso
Em abril de 2025, MilONGa fez parte do congresso internacional “Solidarity in Action, Builders of Peace” que aconteceu na cidade do Porto, Portugal. Esse encontro foi organizado em conjunto pela AMU (Azione per un Mondo Unito), New Humanity NGO e o Movimento dos Focolares de Portugal, reunindo jovens líderes do mundo todo ligados aos programas Living Peace International e MilONGa.
Durante três dias, o Porto tornou-se um laboratório de diálogo e ação, no qual os jovens participantes trocaram experiências, partilharam boas práticas e construíram estratégias conjuntas para reforçar o seu papel como agentes de paz. MilONGa desempenhou um papel fundamental, não só com a participação ativa dos seus voluntários, mas também mediante a criação de sinergias com outras redes de jovens comprometidas com a transformação social.
Um dos momentos mais significativos do congresso foi o espaço para oficinas colaborativas, nas quais os participantes imaginaram e desenharam projetos concretos com impacto local e global.
MilONGa não se define apenas pelo que faz, mas pelo horizonte que propõe: um mundo mais justo, mais unido, mais humano. Um mundo onde a solidariedade não é um slogan, mas uma prática cotidiana; onde a paz não é uma utopia, mas uma responsabilidade compartilhada.
Manuel Nacinovich