Três salas interligadas, três mil pessoas e a transmissão, ao vivo, demonstram a grande espera suscitada pela apresentação do livro-entrevista no qual Maria Voce se dispôs, com muita boa vontade, a responder às mais variadas perguntas dos jornalistas Michele Zanzucchi e Paolo Lòriga (respectivamente diretor e redator-chefe da revista quinzenal Città Nuova): “O que fazem e o que pensam os focolarinos depois de Chiara Lubich? São progressistas ou conservadores? Trabalham para conquistar postos de relevo na Igreja e na política? Ou são pessoas que sorriem sempre e tentam agradar a todos?”.
“A aposta de Emmaus” é o título do livro que foi apresentado, em pré-lançamento, no dia 22 de setembro, em um diálogo que aconteceu entre a presidente dos Focolares e Lucetta Scaraffia (historiadora e editora do jornal “L’Osservatore Romano”) e Marco Politi (escritor e editor de “Il Fatto Quotidiano”). Ambos não perderam a ocasião de ter diante deles Maria Voce e a entrevista tocou os mais diversos assuntos: como lidar com a questão da imagem depois de um período oculto, a solicitação de que os Focolares se tornem promotores da reflexão de grandes temas, como os leigos protagonistas, o ecumenismo, o diálogo interreligioso e com pessoas de outras convicções, a mulher, fim de vida, família e trabalho, os muçulmanos na Europa, o carisma feminino de Chiara Lubich como dom para a Igreja, o reduzido número de focolarinos que fazem uma escolha radical de vida em relação ao vasto Movimento, e ainda outros assuntos.
Maria Voce parece sentir-se na sala da própria casa com dois amigos. Com muita calma e serenidade responde imediatamente e com lucidez: “Não temos a doença do ocultismo; mas não fazemos questão da publicidade. Desejamos, ao invés, que as pessoas conheçam aquele tanto que conseguimos incidir positivamente nas realidades humanas. Não creio que tenho algo significativo a dizer pessoalmente, como Maria Voce, mas, como Movimento dos Focolares, sim”.
“Os leigos não têm necessidade de encorajamento, e sim de serem deixados livres para agir em um contexto eclesial de maior confiança”, lê-se no livro. Esta frase, muito apreciada por Lucetta, é a sugestão para falar sobre os leigos e a mulher: “Chiara, antes ainda de ser uma mulher, é leiga (…). Foi uma grande antecipação [de Chiara], a de fazer sentir a força vital do laicato na Igreja. No que diz respeito à presença feminina, Chiara gostava muito de dizer que a mulher tem, como características próprias, uma grande capacidade para amar e para sofrer. Isso se manifesta especialmente na maternidade. E, assim, eu diria que a mulher tem, de maneira especial, a capacidade de criar a atmosfera de família (…). Em uma Igreja que se quer sempre mais família, comunhão, síntese de todas as aspirações da humanidade, a mulher tem a sua importante função. Porém – assim como sempre dizia Chiara – tenho a convicção de que a mulher e o homem, diante de Deus, são igualmente responsáveis. Na Bíblia está escrito: “não existe nem homem nem mulher, nem judeu nem grego”; portanto, o importante é que, tanto a mulher quanto o homem se tornem o que devem ser, isto é, Cristo na Igreja”.
E depois de um intermezzo musical, Marco Politi propõe “um focolare do colóquio”: promover regularmente reflexões sobre os grandes temas. “Mais do que uma pergunta, é um desafio”, responde Maria Voce, “seria uma coisa mais congenial ao nosso estilo, ao nosso modo de fazer, porque não seria tanto um colocar em confronto grandes idéias, mas, experiências – como aconteceu durante esses dois dias com LoppianoLab -. O testemunho que queremos dar é o da relação com quem está ao nosso lado, não com os grandes sistemas”.
Em relação “à questão da construção de mesquitas, por exemplo, creio que o mais importante é que os muçulmanos sintam-se acolhidos e compreendidos pelos cristãos também no modo de expressar a própria religiosidade”. Continua afirmando que o Movimento capta a reflexão dos grandes temas através do próprio estilo, da proximidade, das experiências vitais. “Por exemplo, em uma escola, em um hospital, as pessoas do Movimento que trabalham nesses lugares se reúnem e partilham as experiências profissionais vividas segundo o cristianismo. Muitas vezes nasce da vida também uma reflexão que gera iniciativas concretas juntamente com linhas de pensamento que, depois, são oferecidas”. “O carisma, por si só, tem as respostas. São as interrogações que se transformam segundo as exigências de cada época. Diante de novas interrogações, exigem-se novas maneiras de formular as respostas que, de qualquer forma, encontram-se no carisma”.
Sobre o Ecumenismo: “Creio que seja um caminho difícil. É uma vergonha para todos os cristãos ser divididos. Se nos damos conta disso, sofremos. E o fato de participarmos do mesmo sofrimento, não poderá senão fazer com que demos passos para superar tal divisão. Assim, pode ser que, ainda que com fadiga, sejam dados os passos rumo à unidade. Para chegar à unidade é necessário que todos saibam perder alguma coisa, e isso custa. Nós acreditamos que, como Movimento, a nossa função é exatamente a de colocar-nos nesta fratura”. “Devemos caminhar! Acredito que seja uma busca a ser feita juntos”.
Sobre o exíguo número de focolarinos: “Exatamente porque é uma escolha radical, consumar-se na unidade – que significa amar-se reciprocamente, perdendo-se completamente no outro, para que Deus esteja entre nós – é uma escolha exigente à qual nem todos são chamados, mesmo se, no Movimento, todos fazem a escolha de Deus”. E conclui: “Interessa-nos que prossiga a idéia da fraternidade universal. É Deus que conduz a história, portanto, não devemos ter medo”.
O tempo passou rapidamente. Entre os três palcos e as três mil pessoas presentes estabeleceu-se um feeling que ninguém gostaria de interromper. Mas, “a aposta de Emmaus”, foi lançada… e acolhida.
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