Movimento dos Focolares

Não basta receitar remédios

Jul 11, 2012

Um médico do Burundi, impelido pelo amor cristão, procura ir além do próprio dever para atender até os pacientes mais difíceis.

Photo by Martina Bacigalupo/VU«Sou médico e trabalho num hospital público. Um dia a polícia trouxe um homem com duas balas na perna. É o tipo de paciente que nenhuma clínica quer, um ladrão pego em flagrante. Foi gravemente ferido no confronto com a polícia, que o levou para nós.

Estava quase imóvel no seu leito, sem ninguém que o assistisse; nem os pais apareceram – como seria de costume – porque souberam que ele tinha roubado.

Na maioria dos hospitais da África cabe à família levar a alimentação aos pacientes, lavar as roupas deles e ajudá-los em qualquer necessidade material. Com a ausência dos familiares o paciente fica completamente abandonado. O pessoal do hospital é encarregado apenas de prestar os cuidados médicos.

E não só, os outros doentes e os funcionários estavam descontentes com aquele marginal, por isso ele tinha muita dificuldade para conseguir o que comer e, obrigado a ficar na cama, aos poucos o odor se tornava insuportável.

Reclamei com o comissário de polícia por ter deixado ali uma pessoa sem assistência, e ele replicou com dureza: “Este é o trabalho do pessoal médico!”.

Lembrei que em outros países são os funcionários do hospital que devem cuidar do paciente. Procurei explicar aos meus colegas que devíamos interessar-nos por este paciente, mas não consegui convencê-los.

Procurei sensibilizar também os outros doentes, mas sem sucesso.

Num certo momento pensei: “Animo os outros, e eu? O que faço por ele? Sim, eu prescrevo os remédios, dou um lugar na enfermaria… mas este é apenas o meu dever! Precisa que eu mesmo faça o que estou pedindo aos outros: ir além do mínimo”.

Tirei o paciente da cama e dei um banho nele. “Ah! São quase dois meses que não tomo um banho!”, exclamou com alegria. “Como é bom sentir novamente os raios do sol na pele!”. Pedi a um dos funcionários que lavasse as roupas dele, e lhe dei uma pequena gorjeta. Depois, com um colega, substituímos o colchão que estava em péssimas condições. E no fim deixei algum dinheiro com o próprio paciente, caso tivesse alguma necessidade.

Este gesto deu frutos. Os funcionários, por exemplo, começaram regularmente a jogar fora os seus dejetos. Os outros pacientes tiveram compaixão e começaram a dividir as refeições com ele.

Depois de algum tempo ele pode sair do hospital. Estava satisfeito. Disse-me que não ia mais roubar. E até seguiu o meu conselho de se apresentar à polícia para submeter-se às ações judiciais. Desejava assumir a responsabilidade pelas suas ações».

Dr. H. L. (Burundi)

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