Movimento dos Focolares

O Fórum Social Mundial – um lugar de esperança para os pobres?

Fev 23, 2011

Em Dacar, juntamente com “transform!europe”, o Movimento dos Focolares participou da conferência “Crise da civilização: interpretações e alternativas do ponto de vista cristão, inter-religioso e marxista”.

Saindo de Viena vi as imagens da Praça Tahrir, no Cairo. Chegando em Dacar um jornal trazia, na primeira página, o apelo de um imã para que se rezasse pela renúncia do presidente Abdoulaye Sade, de 85 anos. Esperemos que fique na oração, eu pensei. No dia seguinte, a missa de abertura do Fórum Social Mundial, na igreja dos mártires de Uganda. A homilia do cardeal Théodore-Adrien Sarr teve um timbre, ao mesmo tempo, fortemente espiritual e social. Denunciava a corrupção, sem meios termos, e o fazia na presença de um ministro e de outras personalidades da vida pública.

Os dois eventos faziam entender imediatamente o clima altamente político da abertura do 11º FSM em Dacar (6-11 de fevereiro). Na Marcha de Abertura, porém, os 70 mil participantes dirigiram-se para a Universidade Cheikh Anta Diop em grande ordem. Durante toda a semana reinou uma atmosfera solidária e fraterna, que não foi minimamente ofuscada pelas dificuldades organizativas causadas pelas 400 conferências e assembleias de cada dia.

Uma das conferências foi proferida em conjunto por transform!europe (rede de cultura da esquerda europeia) e pelo Movimento dos Focolares. O título, “Crise da civilização: interpretações e alternativas do ponto de vista cristão, inter-religioso e marxista”, queria evidenciar que, a este ponto, o fato religioso não é apenas tolerado, mas desejado. Foram privilegiadas as iniciativas “de convergência”, isto é, aquelas de colaboração entre diversos parceiros, seja em sentido geográfico, seja como visão do mundo. No palco estavam representantes dos Focolares vindos da Itália, Áustria, Costa do Marfim, Guiné-Bissau e Senegal – de religião católica e muçulmana –. Representavam transform!europe, Marga Ferré, da Espanha e Walter Baier, da Áustria, promotor da ideia de preparar juntos este evento. A sua constatação final, partilhada por Marga Ferré: «Aprendi [dos projetos dos Focolares] que a solidariedade parte do concreto, começando pelos mais necessitados. Portanto, nenhum comunismo, nenhum marxismo sem este sentido de empatia! A opção pelos pobres é mais do que um simples amor ao próximo, significa ver o mundo com os olhos dos mais necessitados».

E prosseguiu: «Precisamos de uma ética e moral novas, e de desenvolver, no diálogo, o sentido da vida. Ninguém pode impor autoridade para levar adiante a sua ideia e ninguém pode ditar a direção a ser tomada. Devemos incrementar o diálogo, unindo as forças para mudar a ética. E depois, é preciso que haja um lugar político e uma mudança das leis econômicas».

E concluiu: «É realmente necessário o amor, para ser capazes de fazer política não somente de forma profissional, ou seja, sabendo manobrar os mecanismos da política. (…) É necessário dedicação. Sem o amor nenhuma mudança de estrutura funciona. Podemos chamá-lo como quisermos: fraternidade, amor, solidariedade».

Durante o Fórum de Dacar aprofundou-se o conhecimento entre as ONGs presentes, com o desejo de continuar a colaborar e caminhar juntos nos percursos já iniciados. Auspício dos organizadores é que “Dacar se expanda” sobre a África inteira, e sobre o mundo.

Um fio de esperança para os pobres?

De Franz Kronreif*

* Juntamente com Claretta Dal Rì, é o encarregado pelo diálogo com pessoas de convicções não religiosas, do Movimento dos Focolares.

___

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

No mesmo barco: uma viagem na direção da paz

No mesmo barco: uma viagem na direção da paz

8 meses de navegação, 30 portos e 200 jovens. Tendo zarpado em março de 2025 de Barcelona (Espanha), o navio-escola para a paz “Bel Espoir” continua sua viagem que se concluirá em outubro, ligando as cinco margens do Mediterrâneo. A bordo, oito grupos de vinte e cinco jovens de todas as nacionalidades, culturas e religiões que, animados por um desejo comum de construir um mundo melhor, viverão juntos aprendendo a se conhecerem em meio a debates e experiências pessoais, abordando novas questões nas várias etapas. Entre esses, também, cerca de vinte rapazes e moças, com os jovens embaixadores de Living Peace e os jovens do Movimento dos Focolares. Berhta (Líbano), envolvida no projeto MediterraNEW, que trabalha para a educação de jovens no Mediterrâneo, principalmente migrantes, conta-nos a sua experiência.