Movimento dos Focolares

Porque permanecemos na Síria

Abr 16, 2016

A história de Antoine, artesão de Aleppo, que ficou na Síria, com toda a família, para compartilhar a sorte de seu povo. Com a guerra perdeu tudo, mas nada o detém no auxílio a muitas outras famílias. Continuar, juntos, a acreditar na paz.

20160416-a«Quando começaram os conflitos na Síria, vendo que o futuro não prometia nada de bom, pensei que seria prudente deixar o país. Minha decisão foi reforçada quando surgiu uma possibilidade de trabalho no Líbano. Então, marquei as passagens e comecei os preparativos para a transferência de toda a família. Mas, dentro de mim, surgiam muitas dúvidas: era justo ir embora para garantir um futuro para a minha família, ou não seria mais oportuno ficar no país, que tanto amava, para ajudar o meu povo? Conversando sobre isso com minha esposa entendi que ela era mais propensa a ficar, mas deixava a decisão a mim; para ela o importante era que permanecêssemos todos juntos. Eu me sentia muito agitado e confuso. Até que um dia – eu estava na igreja – percebi claramente que o nosso lugar era aqui, em Aleppo, para compartilhar a sorte do nosso povo. Um povo diversificado por muitas etnias, religiões e confissões diferentes, mas que tinha sido capaz de viver em harmonia. Um povo tão generoso que, nos últimos decênios, conseguiu acolher, apesar do embargo, palestinos, libaneses, iraquianos, dando-lhes iguais direitos e possibilidades de trabalho. Decidimos ficar. Eu trabalhava por conta própria e ganhava bem. Mas depois dos eventos sangrentos que começaram a devastar o país, a minha oficina foi roubada e depois destruída. Não obstante tudo isso foram inúmeras as ocasiões para ajudar, pessoalmente e também por intermédio do centro para surdos-mudos onde eu e minha esposa começamos a atuar. Depois iniciamos uma sinergia com outras organizações humanitárias, e com a ajuda da Providência que, prodigiosamente, sempre nos amparou, chegamos a conseguir o indispensável para mais de 1500 famílias. Nestes cinco anos de guerra, por causa dos bombardeios realizados “por acaso” nos nossos bairros, vimos muitas famílias perderem seus entes queridos e muitas pessoas ficarem inválidas permanentemente. Um dia, o motorista do centro para os surdos-mudos, enquanto andava na rua com a família, perdeu a esposa e a filha, atingidas por um morteiro. Ele também foi gravemente ferido e levado ao hospital em estado de choque. Pude falar dessa grave situação a um sacerdote e o bispo, quando soube o que havia acontecido, assumiu o funeral da esposa e da filha. Da nossa parte, começamos a procurar os recursos para a cirurgia que aquele senhor deveria fazer. Vendo o interesse de muitas pessoas, o hospital diminuiu os custos e alguns médicos renunciaram ao próprio ganho. Dessa forma não só pudemos cobrir todas as despesas, mas mantivemos uma reserva para as sucessivas operações que o motorista deverá fazer para continuar seu tratamento.

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