Movimento dos Focolares

Silêncios de amor

Nov 7, 2003

A experiência de um cirurgião iraquiano em Bagdá

No hospital, eu deveria fazer o plantão noturno juntamente com um outro médico que se dizia cristão, porém, não era praticante e, muitas vezes, vendo que eu participava da Missa todos os dias, ficava me gozando.   Deveríamos permanecer à disposição durante toda a noite, mas ele me deixava sozinho já no final da tarde e isto me acarretava muito mais trabalho. Não era justo, mas “Bem-aventurados os pobres no espírito…” e procurava manter com ele um relacionamento aberto, sem julgamentos, e se passaram um, dois meses.   Um dia, ele me falou que gostaria de vir à Missa comigo porque “nesses meses, através da sua maneira de amar, em silêncio, aprendi muitas coisas”. Daquele dia em diante, não saiu mais do hospital antes do horário, e também começou a se preocupar comigo para que, durante a noite, eu não me cansasse demais.   Num outro período, ele partilhava a sala do hospital com um médico muçulmano. Mais de uma vez, me fez notar que a nossa maneira de viver a Quaresma é muito mais moderada do que o Ramadan deles. Nesse ínterim, soube que sua mãe havia falecido há um ano e que ele não tinha mais ninguém que cuidasse de suas roupas e de suas coisas pessoais. Tinha me apercebido, realmente, que o seu jaleco geralmente estava sujo e que faltavam alguns botões. Uma noite, decidi lavar seu jaleco, passá-lo e pregar os botões que faltavam. Na manhã seguinte, com dificuldade, logicamente, para reconhecer o seu jaleco, perguntou quem o tinha arrumado. Quando soube, veio me dar um abraço e disse: “Agora entendo. Amando em silêncio, você deu um sentido muito mais profundo ao ‘mortificar-se’ de quanto eu poderia ter imaginado”.

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