Mais de 100 bispos amigos dos Focolares de 45 países. Momento culminante: a Audiência com o Papa

 24/02/2004

De cada ponto da Terra
Os atos de contestação e de rebelião desses dias no Haiti, os contrastes étnicos do Burundi e do Congo, as desastrosas enchentes no Nordeste do Brasil, a situação da minoria cristã que vive em terra muçulmana no Norte da África, em Kazakhstan: são estes alguns dos contextos de vida dos quais provêm os 105 Bispos amigos do Movimento dos Focolares que, convidados pelo Cardeal Miloslav Vlk, arcebispo de Praga, se reuniram, de 14 a 20 de fevereiro, no Centro Mariápolis de Castel Gandolfo, para o 28° Congresso internacional.

100 bispos ao redor do Papa
O ponto culminante do encontro foi a participação dos bispos na Audiência geral de quarta-feira, 18 de fevereiro, que oferecia aos fiéis presentes um quadro insólito: o Papa circundado pelos bispos, ao seu redor sobre alguns degraus, quase um ícone da colegialidade efetiva e afetiva. João Paulo II, na mensagem dedicada aos bispos – na qual dirigiu uma saudação especial a Chiara Lubich, presente com eles – exprimiu o seu vivo apreço pela temática do Congresso, afirmando: “Somente uma comunidade cristã resplandecente de santidade pode cumprir eficazmente a missão confiada a ela por Cristo, isto é, a de difundir o Evangelho até os últimos confins da Terra”. E sublinhou a exigência de que os batizados saibam “viver com coerência o Evangelho no quotidiano… E’ justamente no ordinário que se deve viver o extraordinário”.

Fraternidade vivida
O que fez reunir tantos bispos de cinco continentes, foi o desejo de viver um momento de intensa fraternidade onde partilhar, numa comunhão de respiro universal, dores, alegrias, preocupações, desafios. “Cheguei aqui com um grande sofrimento, mas a presença, a atenção, o amor de vocês me confortaram”, comentou, na conclusão do encontro, um bispo proveniente de um país em guerra civil. E um seu co-irmão do Norte da África: “Este é um tempo de graça, pelo fato que nos encontramos, nos conhecemos e vivemos como um único corpo”.

Partir novamente do Evangelho
Um encontro de fraternidade, certamente, mas igualmente de espiritualidade, como recitava o próprio tema do Congresso: “Por uma santidade de povo: viver e propor novamente a ‘medida alta’ da vida cristã”. Algo mais que teórico, possível e extremamente atual, como fizeram entender os testemunhos de vida de bispos, famílias, jovens, sacerdotes, pessoas empenhadas na vida paroquial e no social. Partindo novamente do Evangelho e da arte de amar característica que dele emerge, formam-se famílias que, com a própria vida “contracorrente”, se tornam postos avançados da Nova Evangelização, e comunidades cristãs que desenvolvem um fascínio tal que atraem quem olha a Igreja de longe. Esta foi uma das perspectivas promissoras que abriu o encontro.

O irmão, caminho privilegiado para a união com Deus
Chiara Lubich participou do Congresso com um seu testemunho sobre “A união com Deus”, detendo-se em particular sobre o “caminho do irmão”. “Para nós, a estrada típica, indiscutível, irrenunciável, experimentada com sucesso – afirmou – é uma: nós chegamos à união com Deus amando o irmão”. E recordou o trinômio sintético com o qual Igino Giordani, co-fundador do Movimento, amava delinear esta via: “Eu, o irmão, Deus”. “Andando por esta estrada – explicou a fundadora dos Focolares – Deus se manifesta dentro de nós; percebemos a Sua presença. Não estamos mais sozinhos, nós, conosco mesmos. Estamos em dois: Ele e nós”. E isto em todas as situações da vida. “Nós todos devemos nos tornar como místicos, para poder viver o cristianismo no mundo de hoje”, comentou um bispo da Hungria, citando a conhecida expressão do teólogo Karl Rahner, segundo o qual “o cristão do futuro ou é um místico ou não é”.

Os discursos dos cardeais Kasper e Re
Foi um constante ponto de referência para as reflexões dos bispos, seja nas reuniões plenárias que nos encontros de grupo, a Exortação pós-sinodal Pastores gregis, especialmente na sua segunda parte dedicada à vida espiritual do bispo. Comentando a exortação, o cardeal Walter Kasper, que participou, presidindo uma das concelebrações, falou do bispo como “homem das bem-aventuranças”.
Particularmente esperada foi também a visita do cardeal Giovanni Battista Re, Prefeito da Congregação dos bispos. Durante a concelebração que ele presidiu, expressou a sua alegria por este congresso que oferece uma ocasião propícia “não somente para aprofundar o relacionamento com Cristo, mas a fraternidade entre os bispos”. Um aspecto – sublinhou – muito importante nestes tempos difíceis.

Espiritualidade de comunhão: a incidência no social
Catalisador desta experiência foi a espiritualidade de comunhão que se cultiva no Movimento dos Focolares e que produz frutos não apenas no âmbito eclesial, mas também no diálogo entre culturas e religiões. “Aqui não se trata unicamente de uma experiência espiritual, mas de um impulso que tem incidência universal, também na economia, na política, no social”, constatou um bispo suíço, comentando os vídeos documentários, através dos quais os bispos puderam percorrer, em síntese, decênio após decênio, os 60 anos, desde quando em 1943 nasceu o Movimento dos Focolares. Uma história plena de esperança, porque – como os bispos observaram – testemunha que Deus, justamente neste tempo no qual ventos gélidos apagam em muitos a fé, está operando de maneira forte e prepara uma nova primavera da vida evangélica.

Apóstolos do diálogo
Para concluir o Congresso, que colocou em relevo a forte convergência entre as atuais diretivas da Igreja e os efeitos suscitados pelo carisma da unidade, houve um diálogo dos bispos com Chiara Lubich, no qual se aprofundou o significado da expressão inédita com a qual João Paulo II tinha definido os Focolares na sua mensagem pelo 60° do Movimento: “apóstolos do diálogo”, na Igreja Católica, entre as Igrejas cristãs, com pessoas de outras religiões e com quem não crê. Os bispos disseram que assim querem ser ao retornar nas próprias nações. 

 

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