Moro numa estrada lateral em Martellago, província de Veneza.
È muito perigoso atravessar esta estrada, pela pouca visibilidade da passagem de pedestres e pela alta velocidade dos carros. As placas que indicam o limite de velocidade e a passagem de pedestres quase não são observadas. O que acontece são freadas bruscas ou ultrapassagens muito perigosas daqueles que param para deixar os pedestres passarem, quase sempre adolescentes e idosos.

Algum tempo atrás, tinha feito presente esta situação a um assessor sem nenhum resultado; outros tinham feito abaixo-assinados e entregue aos vigilantes, sem obter resposta.

Mais de uma vez vimos os nossos jovens “quase debaixo” dos carros. Assim, depois de ter presenciado pela enésima vez quase uma tragédia, senti a responsabilidade de dar a minha contribuição para resolver um problema que era de todos, e falei com alguns pais da minha rua e das vias limítrofes.

Junto com um deles, que também estavam muito preocupado pelos riscos quotidianos, pensamos em escrever uma carta ao prefeito. A fim de dar maior peso e importância a esse fato decidimos que a carta deveria ser assinada também por outros cidadãos.  Ao escrever o texto da carta procuramos evidenciar a gravidade da situação, mas sem acusar ninguém, projetando as soluções possíveis e recordando as iniciativas positivas, como a instituição de um  “pedibus” e a utilização da bicicleta na cidade, que a própria prefeitura tinha promovido para limitar o uso de automóveis e reduzir a poluição.

Durante a coleta das assinaturas houve quem contestou a iniciativa dizendo que já tinham feito isso inúmeras vezes e que não ia dar em nada. Todavia, de modo geral, seja a redação da carta que a coleta das assinaturas foram ocasiões para construir relacionamentos muito belos entre pais e visinhos. Sentimo-nos todos mais responsáveis e ativos procurando juntos uma solução para um problema, trabalhando “para” e não “contra”.

Eu compartilhei o quanto estava vivendo com os amigos que, junto comigo, procuram viver pela fraternidade em suas cidades, encontrando assim força e coragem para ir em frente.

Fomos até a prefeitura para falar com o prefeito e entregar a carta com as assinaturas.

Um dos seus colaboradores mais próximos nos avisou: o prefeito não vai gostar do abaixo-assinado, como sempre acontece; e foi assim mesmo. No início da audiência o primeiro cidadão do município expressou toda a sua contrariedade por aquele abaixo-assinado.
Naquele momento, tomei coragem e lhe disse: “Senhor prefeito, leia bem o texto do nosso pedido”.

Ele leu, entendeu as nossas intenções e se acalmou. Começamos, então, um diálogo do qual emergiram algumas soluções possíveis, mas muito caras e não realizáveis.
Naquele momento tive uma idéia: em outra estrada tinha sido colocado um redutor de velocidade iluminado que brilhava quando os carros ultrapassavam os 50km/h e as passagens de pedestres tinham sido evidenciadas em vermelho.

Fiz esta proposta. O prefeito logo acolheu a idéia dizendo-nos que tinha um redutor de velocidade que estava parado e que não seria um problema evidenciar as passagens em vermelho. No sábado seguinte nos encontramos novamente com o prefeito que, muito satisfeito, nos mostrou o projeto e, depois de um mês, começaram os trabalhos naquela estrada.
Esta experiência me fez ver a beleza e a força de vivermos juntos pela fraternidade, colocando-nos a serviço, por amor da própria cidade, do próprio povoado.
por Luisa Busato – Veneza, Itália

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