Video (italiano) - Discurso programático de Chiara Lubich

Roma, 31 de março de 1990

Trecho do discurso programático de Chiara Lubich no Palácio dos Esportes, EUR a 20.000 jovens

«(…) Imaginemos ver passar diante dos nossos olhos algumas cenas emblemáticas do mundo de hoje. Observamos no Leste Europeu, em países que presenciaram as recentes mudanças, pessoas que pulam de alegria por terem reencontrado a liberdade e outras assustadas e desiludidas, deprimidas pelo desmoronar dos seus ideais. Lemos nos rostos a ameaça de desforra, de vingança, inclusive de ódio. E pensemos: o que diria Jesus se aparecesse no meio delas? Estamos certos de que falaria hoje, como no seu tempo, mais uma vez de amor. “Amai-vos – diria – como Eu vos amei” (cf Jo 15, 12). Somente juntos, na concórdia e no perdão, é que podemos construir um futuro sólido. Transfiramo-nos, imaginando uma seqüência de slides, para outros lugares, para um país da América Latina, por exemplo: de um lado arranha-céus, muitas vezes como modernas catedrais erguidas ao deus-consumo, e do outro barracas, mocambos, favelas e miséria, miséria física e moral, e doenças de toda a espécie. Que diria Jesus diante deste panorama desolador? “Eu lhes tinha dito para se amarem. Não o fizeram e eis as conseqüências”. E se outros quadros nos apresentassem, como numa montagem, vistas de cidades, conhecidas como as mais ricas do mundo, e de outras com a mais avançada tecnologia e cenários de ambientes desérticos com homens, mulheres e crianças morrendo de fome. Que diria Jesus se aparecesse bem ali no meio? “Amaivos”.

Ou se víssemos imagens de lutas raciais com flagelos e violações de direitos humanos… Ou intermináveis conflitos armados, como os que se verificam no Oriente Médio, causando a destruição de edifícios, feridos e mortos, e o contínuo lançamento mortífero de bombas e de outros engenhos mortais?…

Perguntemo-nos ainda: o que diria Jesus diante de tantos dramas? “Eu lhes disse que deviam se querer bem. Amai-vos como Eu vos amei “. Sim, diria assim diante destas e das mais graves situações do mundo atual.

Porém, com estas palavras Ele não se limita a lamentar o que não foi feito. Ele as repete hoje de verdade, pois Ele morreu, mas ressuscitou e – como prometeu – está conosco todos os dias até o fim dos tempos. E o que diz é de uma importância enorme, porque este “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” é a chave principal para a solução de todos os problemas, é a resposta fundamental para todos os males do homem. Os “Jovens por um Mundo Unido” só podem desempenhar melhor o seu papel de cooperar para dar ao mundo uma “alma” voltando a doar ao mundo o Amor. Claro, ele não é aquilo que à primeira vista pode parecer; não é uma brincadeira. É exigentíssimo e forte; porém, tem o poder de transformar o mundo. Jesus definiu o mandamento do amor com as palavras “Meu” e “novo”, pois é tipicamente seu, visto que lhe deu um conteúdo singular e novíssimo. “Amai-vos – disse – como Eu vos amei”. E Ele deu a vida por nós.

Por conseguinte, neste Amor o que está em jogo é a vida. E um amor pronto a dar a vida é o que Ele exige também de nós em relação aos irmãos. Para Ele, não é suficiente a amizade ou a bondade para com os outros; não lhe basta a filantropia nem a mera solidariedade. O amor que Ele exige não se esgota na não-violência. É algo ativo, ativíssimo. Requer que se deixe de viver para si mesmos e se viva para os outros. E isso implica sacrifício, fadiga. Pede a todos que, de pessoas covardes e egoístas, concentradas nos seus próprios interesses, nas suas próprias coisas, se transformem em pequenos heróis na vida cotidiana, pois estão dia a dia a serviço dos irmãos, prontos a dar até mesmo a vida por eles.

Caríssimos jovens, é isso que requer a vocação de vocês, se não quiserem ver os seus ideais dissiparem em meras utopias. Devem amar assim, amarem-se uns aos outros assim, começando vocês a dar testemunho deste Amor antes de propô-lo aos outros. Testemunhas, modelos: que o mundo veja como vocês se amam e possa repetir o que disse um dia, referindo-se aos primeiros cristãos: “Vê como se amam e estão prontos a morrer uns pelos outros”. Desse modo existirá a base segura; será plantada a raiz da árvore que queremos ver florir. Este amor recíproco entre vocês trará, de fato, conseqüências de um valor – digamos – inestimável, porque onde há o Amor, ali está Deus, e como disse Jesus: “Onde dois ou três estão reunidos em Meu nome (isto é, no Seu Amor), ali estou Eu no meio deles” (Mt 18, 20).

Terão, portanto, Cristo entre vocês, o próprio Cristo, o Onipotente, e tudo poderão esperar dele. Ele mesmo vai trabalhar com vocês nos seus países, porque voltará de certo modo ao mundo, em todos os lugares em que vocês se encontram, em virtude do amor recíproco e da unidade de vocês. Ele vai iluminá-los acerca de tudo o que deve ser feito, vai guiá-los, encorajá-los; será a sua força, o seu ardor, a sua alegria. Por Ele o mundo, que os rodeia, vai se converter à concórdia e cada divisão vai cicatrizar. Foi Ele que o disse: “Que sejam um e o mundo vai acreditar” (cf Jo 17, 21). Vocês assumiram um empenho grandioso e não pode ser outro senão Ele o líder da sua luta. Amor, portanto, entre vocês e Amor que semeiam em muitos cantos da Terra entre as pessoas, entre os grupos, entre as nações, com todos os meios, para que se torne uma realidade a invasão de Amor, de que falamos de vez em quando, e tome consistência – também mediante a própria contribuição – a civilização do Amor que todos aguardamos. A isso vocês são chamados. E verão coisas grandes. Pensem: se foi sobretudo Deus que venceu neste trecho de história que acabamos de viver, o que poderá acontecer se, à ação direta de Deus, se juntar a de jovens, de muitos jovens, guiados passo a passo por Cristo, presente entre eles pelo Amor? Vão, portanto, para frente sem hesitar. A juventude nada mede, é generosa: desfrutem-na! Vão para frente vocês, jovens cristãos, que acreditam em Cristo. Vão para frente vocês, jovens de outras religiões, guiados pelos nobilíssimos princípios em que essas se baseiam. Vão para frente vocês, jovens de outras culturas, que talvez não conheçam Deus, mas sentem no coração a exigência de canalizar todos os esforços no Ideal de um mundo unido. Todos, de mãos dadas, estejam certos: a vitória será de vocês».

Chiara Lubich

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