Movimento dos Focolares
Host Spot, última etapa no Egito

Host Spot, última etapa no Egito

HostSpot_Egypt_02“Que futuro eu terei como jovem na minha terra?”. O grito de Nasreen, um jovem palestino, que penetra profundamente no coração de outros jovens presentes, com o silêncio e a profunda escuta de quem quer aliviar as feridas ainda abertas por anos de guerra e instabilidade social. Emina tinha sete anos quando se desencadeou a guerra em Sarajevo. Sua vida mudou em poucos instantes, mas seu desejo de crescer e reagir era mais forte. E Alberto, da Espanha: “Minha vida mudou desde que eu fui para a Jordânia para fazer uma experiência no campo de refugiados. Eu não sou mais o mesmo”. São jovens determinados a enfrentar todos os desafios para construir um tecido social de paz a partir de suas próprias vidas. 10Eram trinta e dois os participantes no projetoHost Spot“, literalmente, “ponto de acesso”, realizado de 28 de outubro a 2 de novembro de 2017 em Alexandria, no Egito, promovido por várias ONGs e Associações, incluindo New Humanity, Não à guerra, Cáritas da  Jordania, Fundação Igino Giordani (Espanha), B-Net, Centro Cultural Jesuítas (Alexandria), Focolare Trust Irlanda, VACA (Palestina) e Starkmacher (Alemanha). Iniciando com a experiência do encontro no campo de refugiados da Jordânia, em agosto de 2016, os jovens prosseguiram este caminho fixando outros dois compromissos, um na Alemanha, onde puderam aprofundar algumas técnicas de comunicação, e como última etapa no Egito. 1Jovens provenientes da Hungria, da Bósnia, da Palestina, do Egito, da Espanha, da Irlanda, da Itália e da Jordânia passaram dez dias juntos, concluindo este projeto original, promovido pela Comunidade Europeia, para criar laços, construir pontes entre o mundo das associações juvenis sobre temáticas que têm como objetivo a busca pelo valor da paz. Através de oficinas, estudos aprofundados sobre a questão do Oriente Médio, o diálogo entre as várias culturas e a importância da mídia na comunicação de questões migratórias, em um mundo onde um entre dois refugiados é uma criança, os protagonistas desta edição de Host Spot embarcaram decididamente em uma jornada para difundir uma cultura de paz, em primeiro lugar com um percurso de formação sobre as problemáticas atuais e seminários de informação sobre os mecanismos que regem o mundo da mídia. Uma experiência que viu os jovens protagonistas avaliarem as atividades já realizadas e projetarem o prosseguimento desta colaboração valiosa entre as associações, desenvolvendo projetos e implementando novas sinergias.


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Os mil rostos da pobreza

Os mil rostos da pobreza

Pope with the homelessA notícia, anunciada no dia 13 de junho passado pelo Papa Francisco, de querer dedicar aos pobres um Dia Internacional logo se demonstrou em linha com um pontificado particularmente atento às exigências das pessoas mais vulneráveis e descartadas da sociedade. Surpreendente a adesão de associações, movimentos, instituições e a multiplicação de iniciativas, de pessoas individualmente ou em grupos, em resposta a tal apelo. Também o Movimento dos Focolares na Itália assumiu para si o convite a “criar momentos de encontro e de amizade, de solidariedade e de ajuda concreta”, para amar “não com palavras, mas com os fatos”. «Se dos pobres se pode aprender – dizem os responsáveis dos Focolares na Itália, Rosalba Poli e Andrea Goller –, não menos, quem tem mais é chamado a dar. Não a esmola, não um gesto vez ou outra para deixar em paz a consciência. O convite é para sair das nossas certezas e comodidades, como diz o Papa, para ir ao encontro dos mil rostos da pobreza». Também na Itália é um fenômeno de proporções preocupantes. Quase 5 milhões de pessoas, segundo um recente Relatório (dados ISTAT relativos ao ano de 2016), estão em condição de “pobreza absoluta”. Já 8 milhões e meio sofrem de “pobreza relativa”. É uma pobreza dos mil rostos: marginalização, desemprego, violência, falta de meios de subsistência. E sobretudo isolamento, porque ser pobres significa antes de tudo ser excluídos. 20171121-01«Este dia nos remete ao primeiro aspecto da espiritualidade dos Focolares, a comunhão dos bens», explicam Poli e Goller. Uma prática que levou, durante os anos, ao nascimento de numerosas obras e ações sociais, inspiradas pelo desejo de repetir um costume das primeiras comunidades cristãs, nas quais não havia nenhum indigente. Entre estes, a Associação Arco-íris, ativa em Milão há mais de 30 anos, o Centro La Pira para jovens estrangeiros em Florença, o Projeto sempre pessoa para a reinserção dos prisioneiros e a assistência às suas famílias. Ou, ainda, o Projeto Abramo-nos da associação cultural do Trentino More, os projetos para menores não acompanhados, como Criar sistema além da acolhida, ou para as famílias, como Vivamos um lar juntos. Outras se ocupam de redistribuição de alimentos, como a Associação Solidariedade em Régio Emília, B&F em Áscoli, em Gênova a Associação Cidade Fraterna e o Comitê Humanidade Nova. Entre as ações com os sem teto, RomAmoR está ativa há anos na estação de Roma Ostiense, enquanto outras se ocupam de acolhida aos migrantes em Lampedusa e Ventimiglia. Em Pomigliano d’Arco, a associação Elos de solidariedade, num contexto fortemente marcado pelo desemprego, redescobriu o sentido do mutualismo e da partilha. Após o terremoto na Itália Central, se constituíram alguns GAS (Grupos de Aquisição Solidária) do projeto RImPRESA para o apoio in loco às atividades econômicas danificadas pelo abalo sísmico. Entre as últimas nascidas, o PAS (Polo de Acolhida Solidariedade) de Áscoli Piceno. Muitos empresários na Itália, reunidos na Aipec, se inspiram nos princípios da Economia de Comunhão, para que a cultura da partilha se torne práxis empresarial. Ao lado de projetos consolidados, outras iniciativas floresceram do Norte ao Sul do país, frequentemente “em rede” com instituições ou associações que operam no social. A intenção é a de se tornar formas estáveis de sustento à pobreza. De Milão a Scicli, de Messina a Údine, Bancos Alimentares, Centros de escuta, refeitórios, iniciativas de combate aos desperdícios. Inclusive uma casa para pais separados, às portas de Cagliari (na Sardenha). Entretanto, a poucos dias da sua ativação, já tem cerca de mil inscritos o App Fag8, evolução tecnológica do costume de pôr em comum os próprios bens, objetos, mas também talentos e ideias, no rastro da gratuidade. Baixando o app, é possível compartilhar, também por conta de outros (talvez de pobres que se conheça), um “objeto”, um “projeto” ou o próprio tempo. Um instrumento próximo às redes locais, mas também de amplitude nacional, que consente verificar em breve tempo a disponibilidade daquilo que busco, ou a necessidade para outros daquilo que ofereço. (ver também www.focolaritalia.it).

Genfest 1975: por um mundo unido

Genfest 1975: por um mundo unido

PatriziaMazzola

Patrizia Mazzola

Eram os anos 1970, marcados, na história de muitos países, por protestos sociais, guerras e desorientação. Na minha cidade, Palermo (na Sicília, ilha no sul da Itália), eu frequentava o último ano do Instituto de Magistério e acompanhava a vida política. Era um tempo muito escuro: uma onda de crimes mafiosos atravessava a Sicília, jovens engajados na esquerda e na direita política, durantes as greves estudantis se confrontavam muitas vezes com violência. A retirada dos americanos do Vietnam e a queda de Saigon deixavam apenas feridas abertas, provocadas por uma guerra absurda. Eu também, como muitos jovens, estava em busca de referências. Neste espírito aceitei de boa vontade o convite de uma professora para participar do Genfest, manifestação inserida no Ano Santo convocado pelo Papa Paulo VI. Genfest1975Eu frequentava os escoteiros, mas não me parecia verdade poder experimentar algo diferente. O convite foi feito a muitos outros estudantes do meu colégio e, no final, eu e minhas irmãs decidimos participar. No último instante, eu lembro, fui tentada a renunciar porque naquele ano devia fazer a prova de conclusão da escola secundária. Mas, afinal, fui encorajada pelos outros e assim viajamos de Palermo, em muitos ônibus. Levava comigo o meu inseparável violão, livros de música e um gravador, que naquele tempo atrapalhava bastante. Durante a viagem fiquei tocada pelo comportamento de algumas meninas, as gen, que já viviam a espiritualidade da unidade. Impressionavam-me as pequenas atenções que dirigiam a todos, o clima de harmonia e serenidade, não obstante a nossa exuberante vivacidade; os momentos de reflexão depois de escutar as canções do Gen Rosso e do Gen Verde, que eu aprendi logo e gostava muito de tocar. Genfest1975_bEra o dia 1º de março de 1975. O impacto no Palácio dos Esportes romano, com 20 mil jovens provenientes dos cinco continentes, foi potente. Imediatamente experimentei a força do Evangelho vivido. Por exemplo, era a primeira vez que compartilhava aquilo que fazia com quem estava sentado ao meu lado, fazendo a experiência de viver como irmãos. O meu sonho, ver um mundo de paz, um mundo unido, estava ali. Já realizado. Eu estava maravilhada, impressionada pelos testemunhos, quase não acreditava nos meus olhos que tudo aquilo fosse possível. Eu escutava as histórias contadas no palco. A de dois jovens da África do Sul, quando o apartheid ainda não havia sido vencido, ou de um grupo de Belfast (Irlanda do Norte), cidade que ainda era teatro de guerra e divisão religiosa e política. Eram sinais de que, se nos comprometemos de verdade, podemos realizar a paz lá onde vivemos. Genfest1975_aNo dia seguinte estávamos todos na Basílica de São Pedro, onde Chiara Lubich nos apresentou ao Santo Padre. No ofertório, 12 jovens, representando todos, subiram, com Chiara, até ao altar. Lembro-me de um aplauso interminável. No Angelus, na Praça de São Pedro, o Papa saudou-nos com palavras que nos encorajavam a ir adiante: «Nesta manhã tivemos, ao redor do altar, vinte mil fieis, os jovens GEN – Geração Nova – provenientes do mundo inteiro. Uma comovente beleza. Agradeçamos a Deus e retomemos coragem. Nasce um mundo novo, o mundo cristão da fé e da caridade». Verdadeiramente havia começado um mundo novo. Para mim o início de uma nova vida. Patrizia Mazzola

Jornada Mundial dos Direitos das Crianças

Jornada Mundial dos Direitos das Crianças

Childrens-DayO dia 20 de novembro é o dia em que a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou, em 1959, a Declaração dos Direitos da Criança, e em 1989 aprovou a Convenção Internacional sobre os Direitos da Infância e Adolescência. Uma Convenção que foi elaborada, procurando-se harmonizar diferentes experiências culturais e jurídicas. Pela primeira vez, nela se enunciam, de forma coerente, os direitos fundamentais que devem ser reconhecidos e assegurados a todas as crianças do mundo inteiro. São quatro os direitos fundamentais da criança exarados naquele documento: a não discriminação, o superior interesse, a sobrevivência e o desenvolvimento, e por fim a escuta [da criança] em todos os processos de decisão. A Convenção prevê ainda um mecanismo de controle sobre as tomadas de decisão dos Estados, os quais devem apresentar um relatório periódico sobre a atuação dentro do próprio território. Segundo a Unicef, todos os anos milhões de crianças continuam a ser vítimas de violência: abusos, abandono, exploração, guerras, discriminações. Já se fez muito, mas muito mais é preciso fazer, para uma efetiva aplicação destes princípios.

Hemmerle: infância, aurora de uma profecia

Hemmerle: infância, aurora de uma profecia

20171118-01Ao lado do caixa do supermercado, havia um carrinho de bebê; dentro, um recém-nascido. Em meio ao vai e vem de pessoas apressadas em concluir logo os seus afazeres, e que nem mesmo olham para os lados. Mas, diante desse bebê, tantas pessoas paravam, com um sorriso de encanto e dizendo-lhe uma palavrinha amorosa. As crianças têm o poder singular de desconcertar o mutismo da nossa sociedade e de estabelecer relacionamentos com o seu jeito próprio de ser. As crianças pertencem aos seus pais, à família, mas, ao mesmo tempo, nos pertencem. Elas são por assim dizer um “bem comum“. De certa forma, e isto vale para as crianças em geral, o que o profeta proclamou sobre ela: “Uma criança nasceu para nós, nos foi dado um filho” (Isaías 9, 5) .As crianças são presentes, presentes feitos para nós,  para todos.  E o que nos vem doado através delas? Resposta: o futuro. Isso é óbvio: se não houvesse crianças, a humanidade não teria futuro. Mas nossa resposta tem um significado mais profundo. Experimentamos instintivamente que um bebê, é como uma promessa,  é como o alvorecer de um futuro melhor que esperamos. A uma criança não perguntamos: qual é o seu futuro? Ou que tipo de futuro nos apresentará? De fato como será o futuro, o que acontecerá ou não acontecerá depende daqueles que são crianças hoje. O futuro é já nas crianças que nascem. (pp. 39-40) Tornar-se um homem significa se tornar uma criança. Desde Adão e Eva, sem exceção. O caminho que nos leva a nos tornarmos homens, passa através de uma criança. E justamente este é o caminho de Deus: o Filho de Deus se fez homem, tornando-se criança. Nós pertencemos a Ele se acolhemos seus amigos, filhos, e se o aceitamos Ele mesmo como criança. Somente aqueles que se tornam como uma criança entrarão no Reino. Tornar-se simples, puros, compartilhar a dor, compartilhar a alegria. Deixar-se fazer um dom recíproco. A criança: virtude que salva da resignação e do cálculo, do egoísmo e falta de sentido. A criança nos pede para viver, para ter um espaço vital. O Menino na manjedoura é aquele que nos convida a sermos homens como Ele. E para receber dele uma vida divina. (página 34) Do texto: Klaus Hemmerle, “Dio si è fatto bambino” (“Deus se fez criança”) – Ed. Città Nuova, Roma, 1994.