A América Latina é feita de unidade e de diferenças e aquilo que a torna forte é o seu percurso rumo à integração. É um desígnio, sem dúvida, ainda não alcançado com uma comum-unidade de sentimentos, emoções, laços de fraternidade, todos baseados numa história partilhada.
Esta é a visão profética que Chiara Lubich intuiu para esta região do mundo e é rumo a esta visão que laboriosamente caminhamos.
As democracias na América Latina, mesmo tendo-se consolidado pouco a pouco graças aos processos de democratização pós-ditatorial e de integração regional, não continuaram, em relação à qualidade, uma linha de melhoramento progressivo. A América Latina deve enfrentar um futuro incerto e complexo. O crescimento econômico dos últimos anos não conseguiu erradicar completamente a pobreza, nem amalgamou a desigualdade social e a insegurança.
E é aqui que se faz evidente a estreita ligação entre a política e a ideia de fraternidade. A ideia de fraternidade, sobretudo no testemunho e nas palavras de Chiara Lubich, tem estreita ligação com dois elementos centrais da política. O primeiro é a ideia de política como projeto coletivo da América Latina, que ultrapasse as nossas individualidades, que implica um gesto de comunhão, um ato de fraternidade, porque consiste no reconhecimento do outro, no respeito das diferenças. E o diálogo é o principal instrumento para a sua construção.
O segundo elemento é a perspectiva a médio prazo. A ideia de trabalhar em prol de ações das quais talvez nunca veremos o fruto, é o maior gesto de grandeza da política.
Chiara Lubich fez nascer, não só na América Latina, mas no mundo inteiro, numerosas iniciativas em quatro âmbitos: o Estado, as organizações sociais, o setor privado e o do conhecimento.
O acesso aos direitos fundamentais, à educação e ao trabalho são e devem voltar a ser as colunas de sustentação da construção de uma identidade nacional.
As instituições devem ser recuperadas não como edifícios, mas como âmbitos nos quais os direitos das pessoas são garantidos e onde os seus direitos são exercidos, para que se possam realmente exercitar e não permaneçam uma questão de declamações retóricas.
A contribuição de Chiara Lubich pôs em evidência também a dimensão ética da política que está ligada com a transparência e ligada diretamente com a ideia da fraternidade: a ética leva-nos à indignação diante da corrupção e diante da pobreza e da desigualdade.
Estamos certos de que a América Latina, do ponto de vista da política, deve recuperar um modelo e um projeto de desenvolvimento econômico produtivo baseado na inclusão social, que garanta o acesso aos direitos humanos na sua integralidade e gere e sustente condições de vida digna.
Precisamos recuperar uma leadership confiável, previsível, exemplar. Salientamos principalmente a ideia da exemplaridade que não se disciplina nem com o dinheiro nem comprando as vontades, mas que o faz com a própria conduta. Uma exemplaridade que não pode ser apenas individual deve também construir leadership coletivas, participativas.
Não existe um projeto de desenvolvimento que não defina como prioritária a solução da condição dos setores mais vulneráveis, dos setores mais pobres.
Também é preciso recuperar a ideia da fraternidade como valor ligado às prioridades da agenda pública. É imperioso recuperar uma política de convicções. Isto implica aceitar as diferenças.
Na Argentina e em toda a América Latina precisamos recuperar a confiança sobretudo numa cultura de valores, de valores éticos encarnados na praxis e no pensamento político. E aqui reencontramos os princípios e o testemunho de vida pelo qual estamos hoje celebrando Chiara Lubich. Para a América Latina, Chiara conjuga carisma, saber, leadership, ações e destino. Neste destino, neste compromisso, estamos também nós.
De Margarita Stolbizer (1) e Cristina Calvo (2)
(1) Advogada argentina, deputada nacional, presidente do Partido Geração pelo Encontro Nacional – GEN e candidata do centro-esquerda à Presidência 2015 da República Argentina.
(2) Economista argentina, dirigente do Partido Geração pelo Encontro Nacional – GEN.
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