“Mais do que nunca nos comprometemos em percorrer juntos o caminho que esses nossos grandes guias abriram para nós”, escreveu a presidente dos Focolares, Emmaus Maria Voce aos familiares e aos seguidores “do muito amado Imã W. D. Mohammed, que ofereceu a sua vida pela paz e a fraternidade universal”.
Uma profunda amizade espiritual ligava, há mais de dez anos, Chiara Lubich e o Imã, reconhecido, pela sua autoridade moral, o maior líder dos muçulmanos afro-americanos, falecido em sua casa, em Markhan, no estado de Illinois, dia 9 de setembro passado, aos 74 anos.
“As milhares de pessoas vindas de todo os Estados Unidos para os seus funerais, prestam homenagem – como se lê na imprensa americana – ao maior líder muçulmano dos Estados Unidos”.
E comenta: “Grupos de muçulmanos, um tempo feridos por divisões internas, encontraram-se unidos diante de um homem que deu sua vida para transmitir a unidade”. Um seguidor do imã, presente nos funerais afirmou: “O dia 11 de setembro de 2001 foi um dia triste para os muçulmanos. Mas para nós este é um dia que nos enche de orgulho”.
Em 1975, prestes a falecer, seu pai, Elijah Mohammed, confiou-lhe a condução da comunidade afro-americana “Nation of Islam”, fundada por ele para resgatar os valores morais e sociais dos afro-americanos. W. D. trabalhou para conduzir os seus seguidores a um Islã mais fiel às raízes, colocando em relevo a tolerância racial e a universalidade do Islã. Foi um construtor de pontes entre os muçulmanos afro-americanos e os muçulmanos imigrados do Oriente Médio e da Ásia aos Estados Unidos, com os cristãos, entre brancos e negros. Pelo seu extraordinário trabalho no campo inter-religioso, foi nomeado, em 1994, um dos Presidentes Internacionais do “World Council for Religions and Peace” (Conselho Mundial das Religiões pela Paz).
A viagem comum dos seguidores do Imã Mohammed e de Chiara Lubich teve início no histórico dia 18 de maio de 1997, na Mesquita Malcolm Shabazz (também conhecido como Malcolm X), em Harlem, Nova Iorque. Era a primeira vez que uma mulher cristã, branca, tomava a palavra naquela mesquita. Três mil muçulmanos e uma boa representação de membros do Movimento dos Focolares estavam presentes. Enquanto Chiara contava a sua experiência cristã, citando o Evangelho e algumas frases do Alcorão, que ilustravam o que temos em comum, por diversas vezes foi interrompida por freqüentes aplausos e gritos de “Deus é Grande”. Pouco depois, em um encontro particular, W.D. Mohammed e Chiara estabeleceram um pacto, no nome do Deus único: trabalhar sem tréguas pela paz e a unidade.
A fidelidade a este pacto trouxe inúmeros frutos de unidade entre as comunidades dos Focolares e os seus seguidores, o diálogo que se desenvolveu tornou-se sinal de esperança, luz para muitas pessoas. A sua importância revelou-se, de modo especial, após os atentados do dia 11 de setembro.
Seguiram-se várias viagens do Imã Mohammed e seus seguidores a Roma, para participarem de encontros inter-religiosos organizados pelo Movimento dos Focolares. Em 1999, como representante de todo o mundo muçulmano, ele foi convidado a falar no grande encontro inter-religioso, em preparação do Jubileu do ano 2000, na Praça de São Pedro, na presença do Papa João Paulo II. Naquela ocasião o Papa encorajou e abençoou o diálogo iniciado com o Focolare.
Em 2000 convidou novamente Chiara para falar a 7 mil muçulmanos e cristãos, reunidos em Washington, no encontro cujo título era “Faith Communities Together” (Comunidades religiosas Juntas), porque, dizia, “a América precisa escutar a sua mensagem, ver esta unidade que nos liga”.
A partir daquele momento nasceram e continuam a se desenvolver, em muitas cidades dos Estados Unidos (de Washington a Los Angeles, Miami, Chicago, Nova Iorque, ecc) Encontros no Espírito da Fraternidade Universal, encontros de diálogo, nos quais são aprofundados os pontos da espiritualidade da unidade, seja do ponto de vista cristão seja muçulmano, com intercâmbio de experiências concretas de vida.
Há poucos dias aconteceram os últimos contatos dos responsáveis dos Focolares em Chicago com o Imã Mohammed. Ele, de fato, havia programado a sua presença, com um grupo de seus colaboradores, no próximo congresso internacional de diálogo islâmico-cristão, que acontecerá em Castelgandolfo, de 9 a 12 de outubro próximo. Mas o médico lha havia proibido viagens longas, devido a distúrbios cardíacos.
Homem profundamente de Deus, o Imã Mohammed, durante o encontro nacional de seu movimento, em 2005, falando a 4 mil de seus seguidores, havia afirmado com força: “Devemos amar a todos como devem ser amados; devemos amar os cristãos de modo que se tornem melhores cristãos; devemos amar os muçulmanos de modo que se tornem melhores muçulmanos”.
Quando perguntou-se a Chiara acerca do seu relacionamento com o Imã Mohammed ela respondeu: “Sinto-me à vontade com ele, porque me parece que o Senhor o colocou ao nosso lado, como nos colocou ao seu lado, por um plano especial do Seu amor, que entenderemos à medida que formos adiante na nossa comunhão, trabalhando juntos”.
E o Imã Mohammed declarou em uma entrevista: “Creio que é possível nos libertarmos do veneno dos preconceitos se somos curados espiritualmente. É isso que podemos mostrar, como pessoas de religiões diferentes se reconhecem parte de uma única humanidade. Acredito que estamos fazendo um grande trabalho, que tornamos possível, a pessoas que se odiavam, libertar-se do ódio, encontrar uma vida nova, uma nova felicidade, porque o peso dos preconceitos foi retirado de seus corações”.
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