Mar 15, 2019 | Sem categoria
Os adolescentes do Movimento Juvenil pela Unidade do Movimento dos Focolares e Prophetic Economy aderem a «FridaysForFuture», a iniciativa mundial para a salvaguarda do meio ambiente promovida por Greta Thunberg
Hoje de manhã, no jardim da sede internacional do Movimento dos Focolares em Rocca di Papa (Itália), a Presidente dos Focolares Maria Voce e o copresidente Jesús Morán plantaram uma árvore (facebook direto do evento) em apoio à iniciativa internacional #FridaysForFuture promovida por Greta Thunberg, a sueca de dezesseis anos que em pouco tempo se tornou um símbolo do ambientalismo. O mundo começou a se aperceber dela quando, no início do ano letivo, no outono passado, Greta decidiu fazer uma greve de aulas toda sexta-feira de manhã para fazer uma ocupação pacífica diante do Parlamento de Estocolmo. O seu objetivo era o de protestar por uma falta de um posicionamento por parte dos líderes políticos diante de tudo o que está acontecendo ao meio ambiente. Depois, no final de janeiro, em Davos na Suíça, acabou na mira da mídia mundial quando falou diante dos grandes da terra no World Economic Forum: “Vocês estão destruindo o meu futuro, não quero que tenham esperança, quero ver vocês em pânico”. Também os adolescentes do Movimento Juvenil pela Unidade do Movimento dos Focolares, juntamente com Prophetic Economy, decidiram aderir à iniciativa internacional prevista para hoje, sexta-feira, 15 de março, para pedir com força que sejam respeitadas as convenções internacionais para salvaguardar o planeta, que se pare de falar e se aja com decisão. “As tomadas de posição de muitos políticos demonstram que a abordagem top-down não é suficiente – explica Luca Fiorani, coordenador de EcoOne, a rede internacional dos Focolares dos operadores no âmbito da ecologia e da sustentabilidade. As grandes conferências internacionais da ONU sobre o clima demonstram que é difícil tomar decisões compartilhadas para combater o aquecimento global. E assim entram em jogo as abordagens bottom-up, isto é, aquelas em que a população pressiona os poderosos para fazer com que tomem decisões eficazes para evitar a mudança climática. E então a iniciativa destes adolescentes é importantíssima, porque são aqueles que, num amanhã, mais pagarão pelos efeitos da mudança climática. É, portanto, importante que os adolescentes se movam em nível global e que movam as consciências de todos. Se não agirmos agora, no arco de 20 ou 30 anos poderia ser tarde demais. Também o Papa Francisco recorda isto com frequência. Basta ir ler a sua carta sobre a Quaresma, toda centrada na conversão ecológica: rezar, jejuar, dar esmola, mas – como pano de fundo – com o zelo pela criação”. E o empenho dos adolescentes dos Focolares para atingir o objetivo “Fome Zero”, vai precisamente na direção da iniciativa de Greta Thunberg.
Lorenzo Russo
Mar 14, 2019 | Sem categoria
A onze anos da morte da fundadora dos Focolares, são muitos os eventos que a recordam no mundo. Em Roma, o Card. Ryłko celebrou uma S. Missa na presença de Maria Voce e Jesús Morán. Além de um consistente grupo do “povo” de Chiara, muitas as autoridades civis, religiosas e os amigos dos Focolares que tomaram parte. Iniciadora de novas estradas de vida cristã, mulher totalmente confiada a Deus e de profunda identidade “mariana”. Justamente por isso Deus depositou nela um dom para a Igreja e para o mundo: o carisma da unidade. Estes, em síntese, os pontos fundamentais da vida de Chiara e dos Focolares repercorridos pelo Card. Stanisław Ryłko, ex Secretário e depois Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, durante a S. Missa celebrada no dia 14 de março em Roma, no mais antigo santuário mariano, a basílica de Santa Maria Maior, por ocasião do décimo primeiro aniversário da morte de Chiara Lubich.
Presentes, além da Presidente dos Focolares Maria Voce, do Copresidente Jesús Morán e de um consistente grupo do “povo de Chiara”, também representantes civis, religiosos, do mundo diplomático e de diversos movimentos cristãos: uma assembleia variegada, que parecia restituir a Chiara aquele abraço dirigido por ela à humanidade. “Quantas vezes vocês ouviram Chiara pronunciar estas palavras – lembrou o Card. Ryłko: «É o amor que conta. É o amor que faz o mundo caminhar, já que se alguém tem também uma missão a desempenhar ela é tão mais fecunda quanto mais é impregnada de amor». “Hoje, os desafios que vivemos, pessoalmente e como povos, não são menos do que aqueles que Chiara teve que enfrentar quando começou – declara uma jovem que há pouco tempo conheceu os Focolares. Nada mais atual do que a sua mensagem de unidade hoje; do que a sua visão de um mundo que, na sua diversidade e contradição, pode avançar unido inclusive em meio a polarizações que parecem lacerar as nossas relações”. Colhia-se, nas palavras do Card. Ryłko, a amizade fraterna de longos anos com a fundadora dos
Focolares – “Percorremos um longo trecho de estrada juntos” – e o profundo conhecimento do dom que Deus lhe fez. “Na vida de um Movimento, é muito importante a memória das origens – salientou –, como na fonte a água é sempre mais límpida, assim nas origens um carisma se apresenta em toda a sua fascinante beleza e novidade. E o Movimento descobre melhor a sua identidade. A identidade mais profunda de vocês está encerrada no próprio nome do seu Movimento: Obra de Maria. Uma particular presença de Maria os acompanha desde o nascimento de vocês. Esta dimensão mariana caracteriza todo o empenho missionário de vocês no mundo. O Papa Francisco fala frequentemente de um “estilo mariano de evangelização” como o mais adequado para os nossos tempos”. Depois, definiu o povo dos Focolares como uma “geração nova” de homens e mulheres, de jovens, de famílias novas, todos enamorados pelo amor de Deus e pelo ideal da unidade.
No final da celebração, agradecendo a todos os presentes, Maria Voce comunicou a abertura, no próximo dia 7 de dezembro, do ano dedicado ao centenário do nascimento de Chiara Lubich. De fato, o ano de 2020 será constelado de numerosas iniciativas e eventos de variadas naturezas voltados a “celebrar para encontrar” Chiara, como dita o slogan do próprio centenário. “Gostaríamos de celebrar esta corrente de vida nova e universal que o Carisma da unidade introduziu nas nossas histórias pessoais e na de numerosos povos e culturas” –anunciou a presidente dos Focolares. “Queremos fazer isto dando a possibilidade a muitos no mundo de encontrar Chiara hoje: de conhecê-la como pessoa e redescobrir a atualidade do seu Carisma e a sua visão de um mundo visto como família de povos irmãos. Uma visão contracorrente nesta época de particularismos e soberanismos ressurgentes. Tenho certeza de que o encontro pessoal e coletivo com Chiara continuará a inspirar pessoas, ideias e projetos animados pelo espírito da unidade”. As celebrações terão início em Trento, a sua cidade natal, no próximo dia 7 de dezembro, com a inauguração de uma grande exposição multimídia dedicada a Chiara, que também será reproposta em várias capitais do mundo. Durante todo o ano se alternarão em Trento grupos de peregrinos que poderão conhecer melhor a sua pessoa e a sua herança espiritual. Também em Roma e arredores, no decorrer do ano, haverá vários eventos que permitirão descobrir, a partir de dentro, a vida e a obra de Chiara no quotidiano, da casa onde morou à capela onde agora repousa, no Centro do Movimento.
Stefania Tanesini
Mar 13, 2019 | Sem categoria
Devemos admitir: onze anos depois de sua morte e às vésperas do centenário no qual lembraremos, em 2020, o seu nascimento, Chiara Lubich ainda tem tudo a ser descoberto. A melhor maneira de nos aproximarmos do mais íntimo da sua alma e compreendermos a superabundância de luz, de alegria e de frutos que caracteriza a sua vida é olharmos para ela como gostaria de ser lembrada, ou seja, como “a esposa de Jesus abandonado”, isto é, de Jesus que, na cruz, se sente abandonado também por Deus. Ela mesma disse em uma daquelas conferências telefônicas, onde todos os meses reunia as numerosas comunidades dos Focolares em uma única família mundial: “Eu gostaria de ser recordada unicamente como a esposa de Jesus Abandonado” [1] . E comentava: “Esta possível (que Deus me ajude!) definição da minha vida me pareceu maravilhosa, embora altíssima e ainda meu “dever ser”. No entanto senti que é a minha vocação”. A história e a Igreja dirão se ela estava certa e se alcançou este objetivo, mas muitos indícios nos dizem que estas suas “núpcias com Jesus abandonado” são o fio de ouro que perpassa toda a trama de sua vida e explica o seu porquê.

Aguarela Annemarie Baumgarten
Ainda jovenzinha, confidenciava à sua mãe a oração que repetia com frequência a Jesus no segredo de seu coração: “Faz com que experimente um pouco dos teus sofrimentos, sobretudo um pouco do teu terrível abandono, para estar mais perto de Ti e ser mais semelhante a Ti que, na infinidade do Teu Amor, me escolheste e me conquistaste para Ti” [2]. Quando, no verão de 1949, Igino Giordani lhe pede para fazer a ela um voto de obediência, Chiara transforma este seu desejo em um pedido a Jesus Eucaristia, isto é, para que Jesus estabeleça entre eles aquela relação que Ele quer e diz a Giordani: “Você conhece a minha vida: eu sou nada. Quero viver, de fato, como Jesus Abandonado que se anulou completamente” [3] . Aquele pacto, selado depois com Jesus Eucaristia, marca o começo de um período repleto de uma tal abundância de luz ao qual Chiara dará o nome de Paraíso de 1949. E, quando no final deste período, Giordani convence Chiara a deixar aquele Céu para voltar à cidade onde a humanidade a esperava, desabrocha do seu coração a sua mais ardente declaração de amor: “Tenho um só Esposo na terra: Jesus abandonado…” [4] . Em 1980, quando o pensamento da morte a preocupava, Chiara pediu a Jesus que lhe desse um impulso decisivo para concluir bem a sua vida e Ele lhe lembrou de que modo ela tinha começado: não vendo e não amando senão a Ele abandonado. Tinha a impressão de que Ele lhe dizia: “Olhe que eu esperei vinte séculos para me revelar a você desta maneira; se você não me ama, quem me amará?”[5] . E quando em 2000 escreveu um livro que resumia toda a sua história, colocou nele como epígrafe: “A Jesus abandonado, como uma carta de amor ” e explicou: “Não conseguirei, é lógico, expressar tudo o que sinto, ou deveria sentir, por Aquele por cujo amor tantas vezes me fez afirmar que a minha vida possui um segundo nome, que é: ‘obrigada’” [6] . Durante décadas, Chiara reconheceu o rosto deste seu Esposo nos seus sofrimentos pessoais e nas porções de humanidade mais atingidas pelo mal e procurou consolá-lo. Enfim, nos três últimos anos da sua vida, esteve completamente unida a Ele, em uma noite escura tão profunda que chamou de “noite de Deus”: “Deus foi para bem longe, também Ele vai em direção «ao horizonte do mar». Até lá nós o tínhamos seguido, mas para além do mar, depois do horizonte, Ele afunda e não se vê mais. É a impressão que se tem. Por isso, enquanto pensávamos que as noites do espírito terminassem ao abraçarmos Jesus abandonado, damo-nos conta de que aqui entramos em Jesus abandonado” [7] .
Michel Vandeleene
[1] Alma-esposa. Pensamento de 11.11.1999, in C. Lubich, Costruendo il “castello esteriore”, Città Nuova, Roma 2002, p. 88. [2] C. Lubich, Carta de dezembro de 1944, in Cartas dos primeiros tempos, Abrigada, Portugal 2010, pág. 69. [3] C. Lubich, Paraíso de 1949, in AA.VV., O Pacto de 1949 na experiência de Chiara Lubich, Città Nuova, Roma 2012, p. 17. [4] C. Lubich, Ideal e Luz, Editoras Cidade Nova e Brasiliense, São Paulo 2003, p. 138; [5] C. Lubich, Conversação com os focolarinos da Suíça, Baar, 13.11.1980, p. 3. [6] C. Lubich, O Grito, Cidade Nova, São Paulo 2000, pág 15. [7] C. Lubich, Jesus Abandonado (organizado por H. Blaumeiser), Cidade Nova, São Paulo 2016, pág. 186.
Fev 26, 2019 | Sem categoria
A imagem de um país impregnado de disputas políticas e ideológicas, amplamente difundidas pela mídia brasileira em geral, tende a esconder a realidade daqueles que agem pelo bem comum, enfrentando as divergências de opinião através do diálogo e com ações concretas de solidariedade. Embora sendo marcado por uma forte polarização político-ideológica, o Brasil cultiva, na maior parte silenciosamente, os germes de uma sociedade renovada aberta ao diálogo, solidária, lançada na direção da construção de relações de fraternidade. No espaço político e no sociocultural mais amplo. Após ter falado das iniciativas postas em campo pelos mais variados órgãos, eclesiais e não, para promover uma reflexão política fundamentada no diálogo – entendida como resposta à solicitação crescente de uma nova cultura democrática e participativa – queremos agora pôr em luz o empenho de muitos no campo da solidariedade e do voluntariado. Frequentemente, de fato, a ação política é guiada por um senso de solidariedade com aqueles que sofrem. Desde 2016, quando o governo do Estado do Rio de Janeiro começou a retardar o pagamento dos salários dos funcionários públicos, além da luta nos tribunais e dos numerosos atos políticos de protesto contra este recurso, emergiu uma rede de solidariedade a favor dos trabalhadores e das suas famílias que sofreram mais por causa desta situação. Os gestos se multiplicaram em todo o Estado, seja por parte de indivíduos seja de coletividades. Para ajudar as famílias em dificuldades uma série de organizações se mobilizaram para angariar recursos e preparar cestas básicas, para adquirir medicamentos e satisfazer outras necessidades primárias. A Arquidiocese e as outras dioceses católicas do Rio de Janeiro, assim como outras igrejas e uniões cristãs, operaram em colaboração com o assim chamado Movimento Unificado dos Funcionários Públicos do Estado (Muspe).
Uma situação semelhante viu cerca de 40 entidades brasileiras, entre religiosas e civis, trabalhar juntas para acolher refugiados provenientes sobretudo da Venezuela. Alguns destes entes realizam ações de emergência (oferta de alimentos e medicamentos, tratamentos médicos e psicológicos), enquanto outros ajudam a obter a residência no Brasil através do acesso à documentação necessária, cursos de língua portuguesa, alojamento e trabalho. Estas entidades foram particularmente ativas na região de fronteira entre os dois países, mas também em outras regiões para onde foram enviadas famílias de refugiados na tentativa de oferecer a elas melhores oportunidades de trabalho e de alojamento. Iniciativas deste tipo refletem o desejo de muitos brasileiros de “alcançar” continuamente aqueles que têm mais necessidade de ajuda. É talvez este impulso que justifica os dados da pesquisa “Other Forms of Work”, conduzida em 2017 e recentemente publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo esta pesquisa, 7,4 milhões de pessoas fizeram voluntariado naquele ano, o equivalente de 4,4% da população de 14 anos ou mais. Por voluntariado os pesquisadores entendem o trabalho não obrigatório, realizado pelo menos uma hora por semana, sem receber uma retribuição ou benefícios em troca, por pessoas que não vivem na mesma família do voluntário e não são a sua família. Sempre segundo a pesquisa, o perfil dos voluntários no Brasil descreve principalmente mulheres que junto com as atividades de voluntariado se ocupam de trabalho profissional e doméstico. Outro exemplo que vem do Movimento dos Focolares é Milonga, um programa que põe em contato as organizações não governamentais de caráter social de sete países com jovens que querem integrar a própria formação humana com o voluntariado, doando o seu tempo e o seu trabalho. Em outubro de 2018, 75 voluntários do projeto trabalharam em 19 organizações no Brasil, Argentina, Bolívia, México, Paraguai, Venezuela, Uruguai, Quênia e Jordânia. “Aprendi que a essência da vida não é ter, mas ser. Às vezes estamos cheios de muitas coisas, mas o que conta de verdade são as que permanecem na eternidade do momento presente”, disse Rarison Gomes, 30 anos, originário de Manaus. A experiência do voluntariado coincide com um certo protagonismo juvenil em crescimento entre os adolescentes brasileiros que desejam passar da reflexão política à ação. Um exemplo significativo é a experiência do Coletivo Juventude Campo Cidade, nascido mais de dez anos atrás a partir de uma conversa entre amigos na cidadezinha de Poço Redondo, no interior do Estado de Sergipe, no nordeste do Brasil. Alguns destes jovens já eram ativos em movimentos sociais no Alto Sertão Sergipano, como é chamada aquela região. Motivados pelo processo eleitoral de 2008, estes adolescentes decidiram dar vida a um programa de formação política para os jovens da região. Embora sem recursos e com escasso apoio, o grupo organizou um curso em 11 etapas com a duração de um ano e meio. Na origem do projeto uma clara tomada de consciência: era necessário se formar, conhecer a realidade, para assumir o protagonismo social na região. “Havia a sensação de querer transformar a sociedade e isto amadureceu em cada fase do curso”, diz Damião Rodrigues Souza, um dos idealizadores da iniciativa. No final do primeiro curso, os jovens concluíram que a experiência iniciada ali deveria continuar se baseando em três pilares: formação, organização e luta. O último destes pilares se concretizou numa série de iniciativas que produziram resultados eficazes: a instalação de um campus de uma universidade pública federal na região; a construção de um teatro popular com uma capacidade de 200 pessoas na cidade de Poço Redondo (construído pelos próprios jovens); a concessão por parte do governo federal de um pedaço de terra, até então inativo, a ser destinado para o cultivo de produtos biológicos pelos jovens. Mesmo se isolados e dispersos ao longo dos mais de oito milhões de quilômetros quadrados do Brasil, estes e muitos outros exemplos de diálogo e participação política, assim como de ação concreta para a construção de uma sociedade justa e fraterna, testemunham um quadro muito mais sadio do que aquele da simples polarização política em que grande parte da sociedade brasileira foi conduzida. Para os protagonistas destas ações, a esperança está na convicção de que os exemplos e os frutos concretos estejam em condições de capturar “seguidores” e de potencializar este protagonismo, fundamental para unir as pessoas em prol do bem comum e indo além das diferenças político-ideológicas.
Luís Henrique Marques
Fev 26, 2019 | Sem categoria
Um Brasil impregnado de disputas políticas e ideológicas é a imagem que arrisca prevalecer hoje no mundo, graças inclusive à leitura mediática. Luís Henrique Marques, redator chefe de Cidade Nova nos acompanha numa viagem pela sociedade brasileira, na descoberta da realidade, frequentemente desconhecida, dos muitos que agem pelo bem comum. A julgar daquilo que os meios de comunicação comerciais divulgam quotidianamente, o Brasil parece imerso na polarização político-ideológica, como de resto acontece em outras regiões do globo. Mas aquilo que a mídia mainstream não mostra é que a realidade brasileira não é feita apenas de disputas políticas e ideológicas. A performance silenciosa de muitos “pioneiros” desta democracia ainda jovem e inexperiente revela que há um potencial capaz de tornar as relações políticas um espaço de diálogo e um lugar para a construção da cidadania. A revista Cidade Nova é um dos veículos comprometidos em revelar esta outra face da realidade brasileira, ainda um tanto quanto tímida, limitada a fatos isolados, mas que, no conjunto, mostra um Brasil que vai além da polarização político-ideológica. Espaços para o diálogo Para começar devemos reconhecer que apesar da crise criada pelas posições polarizadas no debate político-ideológico, muitos analistas tendem a olhar com otimismo e esperança para o atual cenário brasileiro. O motivo principal é que muitos cidadãos brasileiros se interessaram em compreender e discutir sobre questões políticas e relativas à administração pública, convencidos da necessidade de assumir o próprio papel de cidadãos, conscientes e participativos diante da “coisa pública”. Multiplicaram-se e se intensificaram os assim chamados grupos de diálogo, promovidos por paróquias ou grupos pastorais da Igreja católica, grupos de outras Igrejas cristãs e outras religiões (incluídas iniciativas ecumênicas e inter-religiosas), organizações não governamentais, agremiações e outras entidades da sociedade civil. O objetivo é promover a reflexão política através do diálogo e da troca de experiências, que se intensificou sobretudo na segunda metade de 2018 em seguida ao período eleitoral. São pequenas “ilhas”, mas refletem o potencial de participação democrática dos cidadãos brasileiros. É o caso dos grupos do Movimento dos Focolares espalhados em diversas regiões do Brasil. Motivados por um tema específico, jovens e adultos de diferentes convicções religiosas e políticas e de diferentes condições sociais iniciaram um processo de confronto sobre o cenário político atual, os seus obstáculos e as suas possibilidades. Muitos destes encontros foram além da discussão sobre o processo eleitoral e se abriram a ações concretas para a promoção de políticas públicas que favoreçam a comunidade local.
A “Escola de Cidadania”, promovida sempre pelos Focolares, é um curso online cujos temas respondem à solicitação difusa de uma nova cultura democrática e participativa. O primeiro bloco de aulas foi justamente sobre o tema do diálogo. (www.focolares.org.br/escoladecidadania). Outra iniciativa foi fruto da ação conjunta de diversas organizações da sociedade civil brasileira, entre as quais o Movimento Político pela Unidade (MPpU): o “Pacto pela democracia”. A iniciativa nasce com o objetivo de afirmar o pluralismo, a tolerância e a convivência com a diversidade no espaço público, e opera em três direções: reafirmar o diálogo para um confronto virtuoso das ideias; defender eleições limpas que possam representar eficazmente a cidadania e restituir as bases de confiança e legitimidade ao contexto político; realizar uma ampla reforma política ao final do processo eleitoral. Enfim, a tradicional Campanha da Fraternidade, promovida anualmente pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) durante a Quaresma, se configura também como espaço de diálogo e promoção de ações concretas nas comunidades paroquiais sobre questões religiosas, culturais, sociais, econômicas e políticas da sociedade brasileira. Para este ano, a Campanha propõe que os fiéis reflitam sobre o tema “Políticas públicas e fraternidade”. (continua)
Luís Henrique Marques