Movimento dos Focolares
A “experiência” da Mariápolis Lia se torna curso universitário

A “experiência” da Mariápolis Lia se torna curso universitário

A escola da Mariápolis permanente argentina, que há cinquenta anos vem formando milhares de jovens do mundo inteiro, apresenta-se agora como “programa de extensão universitária e de formação profissional”. Até pouco mais de um mês poderia ser definido como uma espécie de mestrado em “vida no estilo da cultura da unidade”, mas agora a “experiência”, como sempre foi definido o curso anual para jovens da Mariápolis Lia, na Argentina, possui uma certificação universitária. O novo programa de estudos é resultado da elaboração conjunta entre as equipes pedagógicas da Fundação Centro Latino-americano para a Evangelização Social (CLAdeES) e a Escola Juvenil Mariápolis Lia, em acordo com a Universidade Nacional do Nordeste da Província de Buenos Aires (Unnoba). O “programa de extensão universitária e de formação profissional” – este é o título acadêmico que os estudantes obterão em O’Higgins – combina a dimensão de formação integral segundo quatro eixos temáticos: antropológico-filosófico, histórico-cultural, comunitário e transcendente. Tem a duração de 11 meses e quem o completa terá acesso à extensão universitária e estará credenciado à formação profissional com três possíveis orientações: educação, responsabilidade ecológica e gestão multicultural; liderança da comunidade e desenvolvimento dos processos participativos; arte, comunicação e produção multimídia. A proposta formativa desenvolve-se por meio de seminários especializados, estágios de trabalho e pesquisas aplicadas em campo, a partir dos valores do pensamento social cristão. Prevê-se ainda uma próxima integração com a seção latino-americana do Instituto Universitário Sophia. Situada nos arredores de O’Higgins, na província de Buenos Aires, a Mariápolis Lia oferece aos jovens uma experiência formativa que integra trabalho, estudo, atividades culturais e recreativas, esporte e interesses particulares. Essas atividades são compreendidas como diferentes aspectos de uma única formação integral. Com efeito, o conceito de estudante coincide com o de cidadão e, portanto, presume-se que todos sejam construtores da cidade. Uma equipe de especialistas e de professores nas diferentes disciplinas os acompanha na aprendizagem, do ponto de vista espiritual, antropológico, social e doutrinal. Os mais de 6 mil jovens que passaram um período na Mariápolis são, eles mesmos, a prova do seu valor formativo para a sua vida, feito frutificar em vários ambientes (empresários, economistas, educadores, profissionais, operários, pais, pessoas consagradas…). A “experiência” permanece um ponto luminoso por todo o percurso da vida, contribuindo na superação de circunstâncias humanas e profissionais difíceis.

Stefania Tanesini

Maria Voce sobre “Chiara-hoje”

Maria Voce sobre “Chiara-hoje”

Será lançado hoje, por enquanto, em italiano, “Luce che avvolge il mondo” [Luz que envolve o mundo], o novo livro de Maria Voce publicado pela Editora Cidade Nova italiana. Uma profunda e corajosa reinterpretação dos pontos fundamentais da espiritualidade da unidade à luz das solicitações dos homens e mulheres do nosso tempo e do futuro próximo. Luz que envolve o mundo é provavelmente o seu último livro como presidente e é preciso dizer que encontramos aqui, mais do que em qualquer outro texto produzido em 12 anos à frente do Movimento dos Focolares, todo o pensamento de Maria Voce: os pontos fundamentais de sua ação, o seu legado, mas também a sua experiência em tempos delicados após a morte de uma fundadora carismática como Chiara Lubich. Sim, porque neste volume que certamente merece uma leitura “lenta”, meditada e que requer o devido tempo para uma profunda reflexão, encontramos toda a adesão espiritual, cultural e vital de Maria Voce ao carisma da unidade. Contém uma série de discursos sobre os doze pontos principais da espiritualidade do Movimento dos Focolares, proferidos em várias ocasiões – Deus Amor, a Vontade de Deus, a Palavra, o irmão, o amor recíproco, a Eucaristia, a Unidade, Jesus Abandonado, Maria, a Igreja, o Espírito Santo, Jesus no meio – apresentados, anualmente, durante os seus dois mandatos. “Maria, no entanto, não quis repetir, mas reler. – Explica o amigo André Riccardi, autor do prefácio. – Ela releu a mensagem e o carisma de Chiara em uma Igreja e em um mundo que mudou. Porque os movimentos espirituais crescem na profunda tensão entre a fidelidade às origens e ao carisma, por um lado, mas, por outro, na exploração da vida e da história de amanhã […] um exemplo singular e excelente dessa fidelidade criativa necessária aos seguidores – especialmente se são líderes – dos fundadores e das fundadoras”. Com qual espírito? Se pergunta Jesús Morán, copresidente, na introdução. Com o espírito da atualização: “Maria Voce não repete nesses seus temas aqueles feitos por Chiara no passado, mas os atualiza (…), ela nos doa a sua nova compreensão dos pontos da espiritualidade da unidade, haurindo diretamente da fonte da inspiração de Chiara Lubich. Enfatiza outros significados e faz ressoar tonalidades até então não expressas, também motivada pelas perguntass que os membros do Movimento dos Focolares cada vez mais se colocam em contato com as vicissitudes da história atual da Igreja e da humanidade. Página após página, são várias as perguntas mais ou menos explícitas que Maria Voce intercepta no povo dos Focolares de hoje, como por exemplo, esta: “O que Deus pede às pessoas do Movimento? Pede que cada uma conquiste o próprio ambiente, envolvendo na unidade os mais próximos, mas se abrindo a todos os outros. Isso seria suficiente, como dizia Chiara ainda naquela circunstância. E evidenciava muito fortemente que Deus quer de nós sobretudo isso: que nos façamos um com o irmão que está perto de nós, com quem caminha conosco na vida, com quem conhecemos dia após dia, também – na medida do possível – através da mídia. Somos chamados a viver a unidade em todos os momentos da nossa vida, dia após dia, como aconteceu no início”. Também oferece a sua leitura diante das luzes e sombras na caminhada dos Focolares em um momento como este em que a pandemia colocou muitas coisas em questão tanto em nível pessoal quanto comunitário, também em vista da próxima Assembleia de 2021, quando o Movimento se encontrará para eleger a nova presidente e as funções de direção: “Nesse período, parece-nos que Deus nos impulsiona para a frente, a fim de estender a semeadura em campos novos e mais amplos, sem temer a diminuição das forças ou a perda de posições alcançadas, mas assistindo com alegria à abertura de novos horizontes e ao florescimento de inúmeras pequenas células vivas da Igreja distribuídas no mundo, por toda parte onde dois ou mais estão prontos a se amar com esse amor recíproco, indo ao encontro dos homens, para que, como desejou o Papa Francisco, os homens encontrem Deus”. Uma leitura a ser cuidadosamente considerada hoje para nos enriquecermos com uma compreensão do presente e olhar para o futuro próximo com o otimismo típico de Maria Voce, que certamente não é ingênuo, porque fundamentado na palavra evangélica da unidade e da vida que dela floresceu no mundo inteiro.

Stefania Tanesini

O primeiro filme para televisão sobre Chiara Lubich

O primeiro filme para televisão sobre Chiara Lubich

No outono italiano, será lançado na RAI UNO, a primeira rede nacional de televisão italiana, o filme sobre Chiara e o início do Movimento dos Focolares. “Uma garota comum pode mudar o mundo somente com a força de seu sonho e sua crença?” – é sob essa perspectiva que o diretor italiano Giacomo Campiotti contará a história de Chiara Lubich, uma professora trentina muito jovem, com pouco mais de vinte anos, que vivia no desconforto e no desespero que os bombardeamentos da Segunda Guerra Mundial causavam. Sentiu que foi chamada a construir um mundo melhor, um mundo mais unido. Desde então, colocou como meta pessoal construir pontes entre os homens independentemente da raça, nação ou crença religiosa a que pertenciam. Será um filme biográfico para televisão, a primeira adaptação para TV sobre Chiara Lubich e será focada nos primeiros anos, que vão de 1943 até 1950. É uma coprodução de Rai Fiction e Casanova Multimedia, produzida por Luca Barbareschi. Quem interpretará Chiara será a famosa atriz italiana Cristiana Capotondi; o elenco também contará com Sofia Panizzi e Valentina Ghelfi. As gravações começarão daqui a poucos dias no Trentino e iniciará naqueles “tempos de guerra” em que “tudo desmoronava” e somente Deus permanecia, como contou Chiara mesma em uma das primeiras vezes em que falou sobre o nascimento do Movimento dos Focolares. “Hoje, a força de uma figura como a de Chiara”, afirma o comunicado de imprensa, “nos faz olhar o outro como uma possibilidade, um dom, um portador de uma semente de verdade a ser valorizado e amado, mesmo que esteja distante. A fraternidade universal como pressuposto de diálogo e paz. A mensagem de Chiara não pertence só ao mundo católico e sua figura contribuiu para valorizar a mulher e seu papel também e sobretudo fora da instituição eclesiástica”. Portanto, mostrará os primeiros anos, aqueles de fundação, nos quais Chiara compreende a estrada que Deus pede que ela siga e começa a percorrê-la, seguida sempre por um grupo cada vez mais numeroso de pessoas que, partindo da Itália, percorrerão os caminhos do mundo inteiro. Mas também será uma viagem para dentro do contexto histórico, social e eclesiástico em que Chiara estava – ou seja, aquele da Segunda Guerra Mundial, dos primeiros anos do pós-guerra e dos burburinhos pré-concílio que agitariam o catolicismo. O diretor e os autores também têm o desejo de mostrar “a moça revolucionária que compartilha tudo com quem precisa”, conforme se lê na notizia ANSA do último dia 27 de julho. “Como lê o evangelho sem a presença de um sacerdote, torna-se tão perigosa para a sociedade da época que é obrigada a prestar contas da sua obra ao Santo Ofício e passa pela prova mais difícil de sua vida quando lhe é pedido que deixe de conduzir o Movimento dos Focolares. Mas não é possível parar os efeitos da pedra jogada no rio e os círculos formados ficavam cada vez maiores, então, quando anos mais tarde Paulo VI a restabelece, o Movimento dos Focolares já estava difundido em todo o mundo.”

Stefania Tanesini

Rumo a um novo tempo: o da família universal

Rumo a um novo tempo: o da família universal

O que essa pandemia fez emergir na vida social e eclesial? O que suscitou no Movimento dos Focolares? Como podemos viver o tempo novo e desconhecido que nos espera? Diálogo aberto com Maria Voce. De uma entrevista a Radio Inblu (Itália). D.: A partir de 18 de maio, as Missas poderão ser novamente celebradas, com todas as precauções, é claro. Um breve comentário sobre isso… Maria Voce: Sempre acompanhamos a Missa do Papa, tivemos milhares de oportunidades para rezar juntos em streaming. Mas não podemos esconder que o cristianismo é uma religião encarnada, e também é importante a presença física em certas ocasiões, participar mais diretamente e de uma maneira mais viva dos mistérios do próprio cristianismo. Portanto, participar da Eucaristia de maneira real é algo que certamente nos fazia falta e é um dom que agora recebemos novamente. Portanto, estamos prontos para prestar toda a atenção, toda a cautela necessária para não perder esta oportunidade. D: Sim. Aconteceram muitas coisas nesse período, tivemos que questionar comportamentos, aquisições… Na sua opinião, o que pandemia está suscitando na vida social e também na vida eclesial? Maria Voce: Está trazendo à tona coisas bonitas que também podem ser ruins. A primeira coisa que desejo enfatizar é a igualdade entre todos, ou seja, essa pandemia nos mostrou que as pessoas diante desse pequeno patógeno, vírus que nos atingiu, são todas iguais porque afeta tanto os poderosos como os pobres, tanto os ricos como quem não tem nada, a criança e o adulto, quem está na prisão e quem está do lado de fora. Então, nesse sentido, somos todos verdadeiramente iguais. Ao mesmo tempo, essa pandemia também revelou muitas desigualdades que não são geradas pelo fato de sermos humanos, homens, mas são geradas por causa das culturas, dos preconceitos, estilos de vida, de modo que existem aqueles que podem pagar pelo tratamento e quem não tem condições de pagar. Há aqueles que têm a casa onde podem se isolar e aqueles que são forçados a estar com mais pessoas em um espaço muito pequeno; aqueles que perdem o trabalho mas que podem sacar da conta bancária as suas economias, e aqueles que, perdendo o trabalho, não têm nenhum outro recurso e  correm o risco de sofrer a fome, bem como as suas famílias. Infelizmente, as desigualdades se tornaram ainda mais evidentes. E isso deve nos fazer pensar, porque logicamente estas desigualdades não são desejadas por Deus, não são desejadas pela natureza humana, mas sim pela má vontade dos homens que não foram capazes de administrar bem os dons que Deus nos deu. Portanto, precisamos remediar todas essas desigualdades para não nos encontrarmos, quando a pandemia tiver passado, piores de como éramos antes; em vez disso, sermos facilitados pela constatação dessa igualdade ao elaborar programas que respeitem essa igual dignidade de todos. D: E na comunidade eclesial? Maria Voce: Em relação à comunidade eclesial, tenho a impressão de que ela revelou o essencial, porque muitas coisas caíram: vimos que a Igreja, feita de paredes,  não é essencial, mas a Igreja como comunhão é essencial; que não é essencial ir todos os dias visitar Jesus sacramentado, mas é essencial amar o irmão, é essencial responder com amor às pessoas próximas a nós, é essencial buscar no Evangelho as palavras que Jesus nos deixou e nas quais devemos nos inspirar. Portanto, fez cair muitas coisas também em nível eclesial. Mas isso nos faz bem, porque nos leva ao renascimento mencionado pelo Papa Francisco continuamente, à ressurreição, a começar de novo a reformar verdadeiramente a Igreja de maneira vital e não de modo institucional ou formal. D: De tudo isso, o que é mais essencial? Maria Voce: Creio que o mais essencial é pensar que somos a única família humana. Portanto, a única família humana deve impulsionar todos nós a cuidar um do outro, a cuidar da criação que é a única casa que contém essa única família humana; a cuidar  com responsabilidade, com atenção, justamente porque o cristianismo nos faz olhar para essa realidade também com responsabilidade. Somos todos membros de uma família, mas somos todos responsáveis por essa família; portanto, cada pessoa dessa família é importante, tem direitos, mas também tem deveres. É uma responsabilidade coletiva. E acho que isso deve nos levar a fazer propostas, a programar, a ver o que pode ser feito para incluir realmente todos. A fazer propostas no âmbito econômico, no âmbito político, capazes de realmente visar ao bem comum, não ao bem de um ou de outro, não aos interesses de uma parte ou de outra, mas ao bem de todos. Portanto, fazer propostas que visem a comunhão de bens em um nível mais universal. A Igreja – e também nós, como Movimento dos Focolares – é universal, não tem fronteiras. A Igreja, em certo sentido, compete em termos iguais com o vírus; o vírus não tem medo das fronteiras, mas também a Igreja não tem medo das fronteiras. A Igreja é universal porque é a família de Deus na terra inteira. É para essa família de Deus que se deve olhar para entender como torná-la assim, isto é, como criar estruturas que favoreçam o desenvolvimento integral de todos, que respeitem a história de cada povo, a cultura de cada povo, o modo de vida de cada um, sem querer coagi-las com a ideia de desenvolvê-lo segundo os nossos modelos, segundo os nossos planos. Ao mesmo tempo, colocando à disposição uns dos outros todos os talentos com os quais Deus dotou cada povo, cada cultura, cada  pessoa. Colocar à disposição uns dos outros, para que juntos possamos fazer com que o mundo se torne aquela casa comum cada vez mais bela, cada vez mais digna de ser habitada pelos filhos de Deus. D: Maria Voce, como este período desafia o Movimento dos Focolares? Que reflexões vocês estão fazendo? Maria Voce: Desafia-nos como desafiou a todos, no sentido de que nós também nos encontramos de um dia para o outro na impossibilidade de poder programar como gostaríamos a nossa vida pessoal e a vida do Movimento. Então tivemos que mudar toda a programação. É um ano importante para nós, porque é o centenário do nascimento de Chiara Lubich. Estamos planejando a Assembleia Geral do Movimento para o mês de setembro; havia várias encontros preliminares já agendados para preparar a Assembleia. E tudo isso mudou de um momento para o outro, de um dia para o outro. E nos deparamos com a incapacidade absoluta de prever, planejar e pensar o que poderia ser feito. Isso logicamente nos abalou. Ao mesmo tempo, aprendemos com Chiara Lubich a viver o momento presente, a querer fazer apenas o que Deus nos pede, portanto, a querer nada mais que a Sua vontade e buscar juntos – ouvindo um ao outro, tentando entender as exigências de cada um – o que Deus queria nos dizer através dessa situação. E para fazer isso, primeiro mudamos toda programação, mas sempre considerando o interesse daqueles que teriam participado dessa programação e o interesse daqueles que, devido às mudanças, sofreriam perdas econômicas, transtornos, realidades deste tipo. Agimos assim, com alegria, sem nos deixarmos abater minimamente com isso. E estamos vendo que isso estava nos planos de Deus, porque nos levou a uma maior essencialidade na vida, a querer também rever os nossos estilos de vida; a uma sobriedade maior ao decidir comprar algo agora ou não, a adiar uma despesa agendada, adiar ou cancelá-la totalmente para colocar à disposição o que tínhamos pensado para uma necessidade mais imediata. Toda esta situação nos levou a considerar as condições das nossas famílias. Muitas pessoas entre nós perderam o trabalho, bem como muitas outras e não sabem como agir. Essa realidade suscitou uma comunhão de bens mais completa, aberta e transparente entre todos. Por isso, compartilhamos mais as necessidades e também o que a Providência nos enviou. E, de fato, devemos dizer que, mais uma vez, a Providência se revelou verdadeira, que é algo real, que o Pai envia o que é necessário a seus filhos, se eles querem viver para ele e no amor mútuo. Desta maneira, num certo sentido, destacou aquilo que nos move e esse amor que Deus colocou em nossos corações, não como focolarinos, mas como pessoas, como seres humanos. Como focolarinos, torna-se ainda mais vivaz porque esse amor chega a realizar a unidade, ou seja, é amor capaz de dar a vida um pelo outro, de arriscar qualquer coisa. Isso realmente foi algo que moveu o Movimento no mundo inteiro. O Movimento, assim como a Igreja, também é universal, então sofremos com o que o nosso povo na China sofreu, como os nossos na América, no Oriente Médio, por toda parte, na Itália, e vivemos tudo juntos. As pessoas do Movimento que possuem mais deram a quem tem menos. Recebemos ajuda da China, da Coreia, do Japão, do Oriente Médio e da Síria. Talvez palavras de incentivo, saudações, mas todos expressavam que essa grande família que vive o Ideal que a nossa fundadora, Chiara Lubich, nos deixou queria ser uma coisa só e estar à disposição de outros com essa unidade para ajudar o mundo a se tornar uma só coisa. De uma entrevista concedida a Alessandra Giacomucci para Ecclesia (Radio InBlu), 8 de maio de 2020

A solidariedade nos tempos do coronavirus

A solidariedade nos tempos do coronavirus

No mundo inteiro, muitos gestos concretos de apoio, comunhão e partilha de histórias de esperança para difundir o “antivirus” da fraternidade. “Não sou mais ‘eu que tenho medo do contágio’ ou ‘eu que não me importo com o contágio’: sou EU que preservo o OUTRO. Eu me preocupo com você. Eu mantenho a distância por você. Eu lavo as mãos por você. Eu renuncio àquela viagem por você. Eu não vou ao concerto por você. Eu não vou ao shopping por você. Esta é uma oportunidade para transformar uma emergência numa corrida de solidariedade”. Com estas palavras uma jovem dos Focolares, numa longa postagem no Facebook, encoraja a uma mudança radical de mentalidade e de ações nestes dias em que o seu país, a Itália, subiu para o segundo lugar na classificação das nações atingidas pelo Coronavirus. Uma difusão que se está propagando no mundo inteiro, produzindo uma crise em que os efeitos indiretos nos vários países são múltiplos: do sistema sanitário à escola, à economia. “Mesmo compreendendo as preocupações que hoje angustiam muitos atores econômicos” – escreve o economista Luigino Bruni, coordenador internacional da Economia de Comunhao (EdC ) – “acreditamos que o papel das “empresas civis” não pode se limitar apenas da contabilidade dos danos e em contribuir para a difusão dos alarmes. Este é o momento de demonstrar que o Estado somos nós. E que a responsabilidade social da empresa não é só um instrumento de marketing mas é uma prática real que se ativa principalmente no momento da crise: demonstrando atenção ao bem comum (a saúde, o trabalho), praticando uma comunicação correta, formulando propostas concretas e sustentáveis com uma visão de conjunto, ativando ações concretas em favor das pessoas mais frágeis, valorizando um sistema feito de empresas, famílias, escolas, universidades, organizações e entidades que se tornem protagonistas de uma nova e indispensável solidariedade proativa”. Bruni cita uma história de responsabilidade social destes dias. A história de Mahmoud Ghuniem Loutfi, que trabalha como rider em Turim (Itália). Em reconhecimento à cidade que o acolheu comprou máscaras para a Cruz Vermelha local. Não pensou no próprio dano econômico: perguntou-se o que poderia fazer pela sua comunidade, e portanto também por si mesmo. Como Mahmoud, nestes dias, muitas pessoas estão vivendo experiências de cooperação, partilha e solidariedade. Glória, uma jovem dos Focolares na China conta-nos, de Hong Kong, como a tecnologia ajuda a manter os contatos entre as pessoas: “procuramos organizar encontros em videoconferência para estar sempre unidos neste período difícil. Já que temos que estar mais em casa, o tempo que passamos com os familiares é util para entendermos mais os seus problemas e sofrimentos”. Caritas Lee vive em Ulsan, na Coreia. Conta sobre uma coleta de fundos na sua universidade. “O objetivo era racolher 500,000 won (380 € = R$ 2.000,00). Como todos davam pequenas doações, pensei imediatamente em participar, lembrando das 1595 pessoas infectadas e identificadas até aquele momento. Mas aconteceu uma coisa maravilhosa: foram arrecadados 46 milhões de won (35.360 € = R$ 189.071,00 ) que foram doados ao hospital diocesano e ao distrito sanitário de Daegu, a região mais atingida”. Depois deste gesto outras universidades também quiseram angariar fundos para ajudar o sistema sanitário. E não é só isso! “Muitos voluntários, médicos e enfermeiros – explica Caritas Lee – ajudam gratuitamente no hospital. Alguns proprietários de casas, ao invés, não quiseram receber o aluguel mensal, e ainda algumas pessoas distribuem alimentos na frente de suas casas para aqueles que não podem sair”. Yopi vive precisamente em Daegu. A sua casa é perto de um hospital, onde continuamente ouvem-se as sirenes das ambulâncias. “No início quando ouvia as sirenes rezava pelos pacientes. Depois, comecei a ficar ansiosa. Com a chegada da Quaresma decidi rezar o Terço todos os dias. Pouco a pouco, a ansiedade começou a dar espaço a uma grande paz no meu coração”. Micaela Mi Hye Jeong escreve da Gumi, sempre na Coreia. “Aqui estamos preparando 150 máscaras para distribuir nos lugares onde há mais urgência. Pensamos: ao invés de procurar máscaras descartáveis que poluem o ambiente podemos confecciona-las nos mesmos com algodão lavável. Nesta época de frio intenso e paralisado por causa do medo, senti que o meu coração se aquecia com esta possibilidade de viver concretamente o Evangelho”. No Brasil, Armando, empresário da EdC, tem uma empresa que trabalha no setor sanitário. “Neste período as máscaras e os desinfetantes tiveram os preços até 500% mais altos em relação ao normal”, conta. “Perguntei-me: como empresário EdC como posso testemunhar aquilo em que acredito e pelo qual vivo? Portanto, decidi combater os preços praticados pelo mercado vendendo os meus produtos com preços até 50% (ou mais) inferiores aos meus concorrentes, e foi bonito sentir o apoio dos meus dependentes para sustentar esse política”. Na Itália, alguns jovens dos Castelos Romanos ofereceram-se para fazer as compras no supermercado com a entrega gratuita a domicílio. “Se você tem mais de 70 anos ou alguma doença e por precaução prefere ficar em casa, podemos fazer as sua compras”. Esta é a mensagem WhatsApp: “Não pense nas compras: vamos superar essa situação logo”. E sempre da Itália, p. Paolo, pároco de Gorgonzola, uma pequena cidade perto de Milão, famosa no mundo inteiro pela qualidade dos queijos, juntamente com o prefeito foram ao encontro de outros prefeitos das “áreas vernelhas”, entregando quatro pedaços de queijos, “sinal da proximidade da nossa gente às suas populações”, explica p. Paolo. “Para mim é um sinal de querer doar um antivirus, o antivirus da fraternidade. (…) A atenção que devemos ter para não contagiar deve ser vivida não em forma de suspeita, mas na forma de um ato de amor que nos doamos reciprocamente. Também as privações que nos são pedidas, creio que seja importante vivê-las realmente como ato de amor em relação aos irmãos”. Esta é a ocasião certa para transformar a emergência em uma competição de solidariedade.

Lorenzo Russo