Movimento dos Focolares

Brasil: agir em rede para vencer a marginalidade

Fev 1, 2017

O testemunho de José Luís Costa, jovem dos Focolares, empenhado num projeto social de uma cidade do Nordeste do Brasil. No âmbito do recente “Simpósio pela paz” realizado em Latina (Roma).

br1O Brasil é terra de contradições: emblema de alegria, acolhida, folclore, música, natureza incontaminada, praias, florestas luxuriantes, metrópoles, de um lado. Mas do outro, como muitos outros países do mundo, terra de contrastes, violência, criminalidade, desequilíbrios sociais. Nas cidades, o tráfico de droga representa uma verdadeira chaga social e causa de choques armados. Além disto, uma alta taxa de feminicídios, prostituição, falta de assistência sanitária, trabalho infantil, o baixo grau de instrução, o alastrar de situações de trabalho semelhantes à escravidão, geram níveis altíssimos de desigualdade social, da qual favelas e periferias pobres são o sinal mais evidente. Aqui, saúde e educação não são garantidas e para os jovens não existem perspectivas de educação ou trabalho, nem possibilidades de desenvolvimento social. Poucos se salvam das garras da delinquência, em geral graças à intervenção das poucas políticas públicas existentes, mas sobretudo pelo trabalho realizado pelas associações de assistência social, por algumas paróquias e Igrejas cristãs, as únicas que dão realmente importância ao destino dos pobres. Inclusive na minha cidade (800 mil habitantes), jovens dos 13 aos 17 anos foram mortos porque envolvidos no giro da droga. A vontade de amar o próximo, de me doar especialmente aos mais descartados pela sociedade, me impeliu a me empenhar com o espírito do Focolare durante 5 anos num projeto social da arquidiocese de Teresina, o “Centro de Convivência Novas Crianças”. Nosso Grupo 20170127_162354O projeto, orientado às crianças e aos adolescentes em situações de risco, procura oferecer oportunidades diferentes. No tempo livre da escola, cerca de oitenta crianças e adolescentes (dos 5 aos 17 anos) frequentam os cursos de música, dança, teatro, são acompanhados no estudo e alimentados, não tendo muitas vezes o que comer em casa. Trata-se, frequentemente, de crianças e adolescentes órfãos, muito pobres, provenientes de famílias envolvidas em histórias de droga e violência. A vida deles muda, em contato com alguém que os acolhe e cuida deles. Eu também procurei me empenhar ouvindo muitos que compartilharam comigo os seus sofrimentos, pelo relacionamento que eu procurava construir com cada um pessoalmente. Por exemplo, um adolescente me confiou os seus problemas com a droga e me pediu ajuda para sair do túnel em que se encontrava. Outro me contou que roubava para conseguir o dinheiro. Em muitos casos fizemos com que interviessem o time dos profissionais que trabalha lá, especialmente psicólogos e assistentes sociais. Hoje, muitos daqueles adolescentes cresceram, estudam e procuram trabalhar honestamente. Outros, continuam a chegar buscando uma oportunidade para viver melhor e serem amados, cuidados. Um deles, abandonado pelo pai, me chama de “papai” e eu assumi este papel. Outro tinha sofrido várias formas de violência e abandono; encontramos o modo de canalizar as suas energias com o judô e ele deu uma guinada na sua vida. Queria até mesmo se tornar um motivo de orgulho para nós que o tínhamos ajudado. Um dia, porém, não veio mais ao centro de acolhida. Soubemos que enveredou novamente por maus caminhos e que um dia, enquanto estava sentado diante de sua casa, foi morto. Tinha apenas 15 anos. Foi uma enorme dor para todos, inclusive para mim pelo relacionamento que tínhamos construído juntos. Muitos outros jovens tiveram o mesmo fim. O projeto prevê também momentos de formação para educadores e adolescentes, segundo a espiritualidade da unidade de Chiara Lubich, e encontros mensais da Palavra de Vida Desta experiência pude colher que é preciso dar continuidade à recuperação destes jovens, trabalhando em sinergia com o Estado, as políticas públicas de saúde e educação, com a sociedade civil, com a Igreja. Que para vencer este desafio é preciso agir em rede e dialogar em todos os níveis: pessoal, nos grupos, nas comunidades, até chegar às instâncias superiores da sociedade. Mas começando pelo empenho pessoal, saindo de nós mesmos para ir ao encontro dos diversos tipos de periferias. Nós já começamos.

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