Ago 13, 2015 | Focolare Worldwide

Praça da Revolução e monumento José Martí
Há uma grande expectativa na Ilha para a visita do primeiro Papa nascido na América Latina, prevista para os dias 19 a 23 de setembro. Certamente uma ansiedade que se exprime de muitas maneiras, segundo a consciência e o conhecimento de quem é o Papa e o que ele representa. Perguntando às pessoas, nas ruas, as respostas são as mais variadas: “Acredito que seja uma pessoa importante, e espero que sinta-se em casa conosco”; “Esperamos que a sua visita traga benefícios para o povo”; “Parece um sonho! Sentimo-nos privilegiados!”; “É uma benção para este pequeno povo, de grande coração, receber três papas em apenas 13 anos”. Com efeito, apenas Cuba e Brasil podem se vangloriar desse primado. E muitos cubanos não escondem o orgulho pela terceira visita de um pontífice, sejam eles crentes ou não. Os trabalhos de decoração já estão em andamento nas ruas e nas fachadas dos edifícios de Havana, que estão no itinerário previsto. Foram remodeladas especialmente as da famosa “Praça da Revolução José Martí”, onde o Papa Francisco celebrará a Missa. Da mesma forma na cidade de Holguín, nunca antes visitada por um Papa, no Santuário Nacional da Virgem da Caridade do Cobre, e também em Santiago de Cuba, segunda cidade do país, na parte oriental da Ilha, onde foram concluídas as restaurações da bela e histórica catedral (1522). Igreja Católica e Estado. Com o triunfo de “La Rivolución” (1959), a partir de 1961 os relacionamentos entre essas duas realidades foram sempre difíceis e traumáticos. “O pensamento marxista derivado do materialismo dialético, que motivou os jovens rebeldes do governo revolucionário, no final dos anos 60, levou ao secularismo”[1]. Durante o Primeiro Congresso de Educação e Cultura (1971) foram colocadas as bases para a secularização da sociedade cubana, impondo como doutrina oficial do estado o marxismo ortodoxo, “eixo diretor do ensino infantil, médio e universitário”. Na Constituição de 1976 foram regulamentadas as atividades religiosas e as pessoas que professavam uma fé foram excluídas do Partido Comunista Cubano (PCC). Durante a década de 1980 o controle do regime foi um pouco aliviado, inclusive pela “participação de sacerdotes católicos em diversos movimentos de libertação na América Latina, nas guerrilhas de El Salvador, Honduras e Guatemala”, além de que pela visita, entre outros, de personalidades religiosas do porte de Madre Teresa de Calcutá, do Grã-rabino Israel Meir Lau e dos membros da Conferência Episcopal Latino-americana (CELAM). No IV Congresso do PCC (1991) abriu-se a participação no único partido político também aos crentes. De relevo as importantes e históricas visitas de João Paulo II (1998) e de Bento XVI (2012), que assinalaram outros passos importantes rumo à reconciliação e ao abrandamento, que dão esperança à já próxima visita do Papa Francisco. 
O Santuário nacional de “La Vírgen della Caridad, del Cobre”
Degelo entre Havana e Washington. Por mais que o Papa Francisco procure minimizar o seu papel no melhoramento das relações entre os dois países, seja Barack Obama que Raúl Castro o reconhecem, com gratidão. No dia 20 de julho foram reabertas as embaixadas em ambos os países e está prevista a ida do Secretário de Estado americano, John Carry, no dia 14 de agosto próximo, para a inauguração oficial da embaixada americana. Sabe-se que é necessária ainda a aprovação por parte do Congresso americano e, não por acaso, após a visita a Cuba o Pontífice irá aos Estados Unidos, para o 8º Encontro Mundial das Famílias, que acontecerá em Filadélfia, após ter passado por Washington e Nova Iorque. Será o primeiro Papa a falar no Congresso dos Estados Unidos. Numa entrevista dada aos muitos jornalistas que estavam no avião que o levava de volta a Roma, depois da intensa viagem a três países latino-americanos, a quem perguntou sobre os benefícios ou desvantagens que poderiam produzir esse “degelo” entre Cuba e Estados Unidos, o Papa respondeu: “Todos dois ganharão e perderão alguma coisa. Porque uma negociação é assim. O que todos dois ganharão é a paz. Isto é certo. O encontro, a amizade e a colaboração, esse é o ganho!”.
Os bispos católicos cubanos. Recordando as visitas dos predecessores do Papa Francisco “que chegará como missionário da misericórdia”, e traçando uma continuidade espiritual entre as três visitas, a Conferência dos bispos católicos, em uma mensagem, dirige-se “aos filhos da Igreja Católica, aos irmãos de outras confissões religiosas, e a todo o nosso povo”. Menciona-se a recente Carta Pastoral do Papa, em preparação ao Ano da Misericórdia que se abrirá no próximo dia 8 de dezembro. E os bispos exortam todos a prepararem-se à vinda do Papa fazendo “gestos de misericórdia na ação cotidiana, como visitar os doentes, compartilhar o que temos, perdoar e pedir perdão, consolar quem está triste, amar os outros mais e melhor. Esperamos – continuam – que estes dias, e sempre, as nossas casas sejam lugar de paz e de acolhida para todos os que estão buscando misericórdia!”. E convidam a “tomar iniciativas que predisponham os corações dos cubanos a escutar e acolher a mensagem de esperança e misericórdia que o Papa Francisco nos trará”. Um sinal positivo, que certamente não poderá passar despercebido, é a publicação integral desse documento, no dia 17 de julho, no “Granma”, principal jornal cubano e periódico oficial do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba. Um gesto semelhante não ocorria há mais de 50 anos. A contribuição do Movimento dos Focolares.
Os membros dos Focolares, nas várias comunidades espalhadas pela Ilha, procuram dar – junto com a Igreja – a sua específica contribuição, orientada especialmente à formação das pessoas aos valores da fraternidade, contra a “cultura do descarte”, privilegiando os mais necessitados, promovendo a unidade na diversidade e propondo o diálogo como método indispensável para uma convivência pacífica, num país multicultural. A mensagem dos bispos católicos aos cubanos conclui-se com a oração à “Virgem da Caridade, Mãe de Cuba, Aquela que invocamos também como Rainha e Mãe de Misericórdia”, a fim de que “tenha cuidados maternos sobre esta visita tão esperada; Ela que acompanhou o nosso povo nas horas boas e más, obtenha do céu uma grande benção para Cuba e os seus filhos, em qualquer lugar se encontrem, seja quais forem seus pensamentos e crenças”. Do enviado, Gustavo Clariá ____________________________ [1] Dennys Castellano Mogena y Sergio L. Fontanella Monterrey, Sin pecado concebidas, La Caridad del Cobre en las artes visuales cubanas. Editorial UH, 2014, La Habana, pag. 66. (tradução do autor)
Ago 12, 2015 | Focolare Worldwide, Senza categoria

Federico com seu pai
«Eu sonho muito e com frequência. Um sonho que se repete é um dia de sol, quando os meus sentimentos e pensamentos derramam-se numa fonte de palavras para todos os meus amigos. Como deve ser lindo poder falar!». Federico não fala, ainda que saiba que a comunicação não passa apenas pela linguagem. Os primeiros sintomas foram evidentes no primeiro ano de vida. Quanto mais crescia mais diminuía a capacidade de interação com a realidade. Aos três anos foi diagnosticado. É totalmente incapaz de comunicar-se. Possui uma das mais fortes formas de distúrbio generalizado do desenvolvimento, um transtorno gravíssimo que se insere no amplo e variado universo do autismo. Aos oitos anos acontece um fato que muda a trajetória da sua incomunicabilidade. Aprende a escrever com o computador e, finalmente, digita as suas primeiras palavras, emoções e sentimentos. Rompe-se o muro de silêncio com aqueles que ele chama os «neuro-típicos». Em agosto de 2002 sua família está de férias em Palinuro (balneário no sul da Itália). Federico sempre conseguia exprimir alguma ideia, frases breves, mas intensas: «Mamãe, o que eu tenho?». «Por que justamente eu?». E escreve no seu computador a palavra autismo. Ele está perfeitamente consciente. No dia 20 de fevereiro de 2010 escreve ao seu amigo Gabriel: «Preciso que vocês me ajudem a sair da minha prisão. Veja, eu sou muito só, porque não conseguir comunicar-se com a voz é um grande limite. Não entendo como vocês, não autistas, conseguem tão facilmente encontrar dentro da cabeça todas as palavras que servem para o que querem comunicar. Para vocês é normal, mas para mim parece um milagre. Com muito esforço eu consigo escrever uma letra de cada vez, e só se o papai está perto de mim».
Agora que sabe escrever cresce a sua autoestima, até publicar um livro, “Aquilo que eu nunca disse” (Edizioni San Paolo), onde pela primeira vez é possível conhecer a visão de um jovem que explica, com observações raras e preciosas, a sua própria síndrome. Assim ele sai do seu isolamento, experimenta finalmente a alegria de compartilhar suas emoções. Conclui os estudos com sucesso até o final do ensino médio. Ainda hoje Federico não diz quase nada. «Garanto a vocês – escreve – que sou quase incapaz de falar verbalmente, eu me exprimo com palavras soltas, só raramente com pequenas frases. Sei escrever, à mão, só letras de forma muito grandes e incertas». É graças ao computador que, pela primeira vez, joga com um amigo, se apresenta aos seus colegas no primeiro ano do ensino médio e, anos depois, participa “ativamente” das reuniões do grupo da crisma. «Aos poucos – ele conta – o meu notebook tornou-se um companheiro inseparável. Com o meu pc e com o suporte de uma pessoa preparada para ajudar-me, posso realmente dizer o que penso em cada situação». Hoje Federico estuda percussão, tem muitos amigos, ajuda pessoas que convivem com o autismo na família dando conselhos para a vida cotidiana, e tem muitos projetos para o futuro. «Agora a minha vida encontrou o seu curso», escreve, «graças aos curadores que ensinaram-me o método, aos meus pais que com entusiasmo lançaram-se nesta aventura. Hoje estou feliz com a minha vida e, em grande parte, o mérito é deles». E não pensa só em si: «Quantos autistas, mentalmente perdidos, poderiam ser outros Federico se recebessem um diagnóstico precoce, se tivessem um bom suporte na idade do desenvolvimento e se fossem muito amados?». E este é o seu sonho, quando adulto: «Irei pelo mundo afora para ver mulheres grávidas e entender se os filhos delas saberão falar, e curar o autismo. Eu brincarei com os seus filhos, para ajudá-los a crescer e a aprender a falar. Quando uma criança precisar de mim eu estarei lá para ajudá-la». Fonte: Città Nuova online
Ago 11, 2015 | Focolare Worldwide
Também alguns monges budistas que frequentam o focolare a conheciam bem. Benedetta era uma mulher de quem todos se aproximavam e a conheciam sem temor, era de uma grande delicadeza! Sabia acolher as pessoas, podia-se procurá-la a qualquer momento. Um problema pequeno ou grande, uma necessidade urgente, algo de bonito a ser partilhado: ela não se escandalizava com nada, conhecia bem o íntimo de homens e mulheres e sabia amá-los. Certa vez um bispo, referindo-se a ela, disse que era “uma religiosa de ouro e de prata”, pela quantidade de dinheiro que ela sabia encontrar para os pobres. Ao viajar para o extremo norte da Tailândia era uma obrigação visitá-la e “bater um papo”, como Irmã Benedetta mesma dizia. Alegrava-se com todas as notícias da sua “grande família”, como sempre chamava o Movimento dos Focolares, e transmitia a vida dessa família a muitas outras pessoas. E acontecia depois que, nas Mariápolis, encontrávamos pessoas a quem ela havia falado do espírito da unidade, ou, alguém que passava no focolare para conhecer-nos, depois de conversar com “Sister Bene”. Enfim, Benedetta era uma verdadeira “mãe espiritual” que doou muita vida sobrenatural a inúmeras pessoas, muitas delas presentes no seu funeral. Inclusive bispos, sacerdotes e uma multidão do “povo de Deus” que preencheu, de maneira inacreditável, a igrejinha de Wien Pa Pao, e o convento adjacente, onde ela morava.
Benedetta Carnovali, “Sister Bene”, nasceu em 1925, foi uma fortaleza para o Movimento: muitos dos membros que hoje compõe a comunidade na Tailândia conheceram o carisma pela sua maneira de conviver com as pessoas, inclusive budistas. “Uma verdadeira religiosa e uma verdadeira focolarina”, como foi definida por alguém: uma religiosa “fora do comum”, sempre em movimento para levar alguma coisa a alguém necessitado e, ao mesmo tempo, “sedentária”, firme no ato de dedicar amor pessoal a quem encontrava. Uma amiga, que telefonava para cumprimentar pelo dia do onosmático, mesmo se, a cada ano a sua voz tornava-se mais fraca, ao contrário da sua força interior. Ao aproximar-se dela nunca se tinha a impressão de incomodá-la: parecia que esperasse somente aquela pessoa, como se não tivesse mais nada para fazer. E ela tinha sempre muito a fazer, basta pensar, por exemplo, nos inúmeros casos de “adoção à distância” que ela levava adiante pessoalmente, até os últimos dias da sua vida. “Sister Bene” conheceu a espiritualidade da unidade por meio de um religioso, em 1963, e desde aquele ano deu a sua vida para que muitas pessoas conhecessem e começassem a viver neste caminho de unidade – em Mianmar, onde vivia naquele tempo, e em seguida na Tailândia, quando todos os religiosos foram expulsos pelo regime. Quando se transferiu para a Tailândia, continuou a aprofundou a amizade com os focolares. Quando tinha a rara possibilidade de passar alguns dias conosco, ela se nutria avidamente das palavras de Chiara. Como todos os que realmente seguem Deus, Irmã Benedetta encontrou também a sua noite, “a tempestade” no seguimento de Jesus, e a viveu como verdadeira discípula Dele, com uma caridade heroica. Profundamente unida a Vale Ronchetti, uma das primeiras focolarinas, prosseguiu na sua caminhada, em meio a muitas incompreensões. “Como é possível que uma Irmã faça parte de um movimento leigo?”, ouviu muitas vezes esta interrogação, e outras pequenas ou grandes “perseguições” humanamente absurdas. E, mesmo assim, certamente e misteriosamente, Deus se serviu dessas “perseguições” para tornar Irmã Benedetta sempre mais Irmã, consagrada, sempre mais “filha espiritual de Chiara” (ela dizia isso repetidas vezes) e uma apóstola da unidade, apóstola sem par no sudeste asiático, considerando os frutos que nasceram da sua vida. Ela nos deixa um legado de caridade, de doçura, de ternura e de grande força, de amor e de serviço aos homens: às pessoas da tribo Akha, por exemplo. Deixa-nos aquele sorriso típico de quem experimenta que é possível transformar a dor em amor e faz disso o motivo da própria vida. Irmã Benedetta “voou” para o céu, com a idade de 90 anos, depois de ter ouvido uma canção que ela tanto amava: “Obrigado”. Faleceu consumada, mas, serena, como sempre viveu, na paz e com a certeza de que “aqueles braços” que a acolheram desde criança – quando perdera o pai e a mãe – e a conduziram também na sua vida de consagrada, agora a estavam esperando para o último abraço e o último trajeto da viagem: o mais importante. Uma mulher maravilhosa, que dá o testemunho de que também hoje podemos nos tornar santos. Luigi Butori
Ago 10, 2015 | Focolare Worldwide
Jovens de cinco religiões e de várias denominações cristãs, especialmente selecionados como líderes no campo ambiental, reuniram-se na Mariápolis Luminosa, no estado de Nova Iorque, para refletir sobre a tutela do planeta entendido como “casa comum”. Guiados pelos ideais de Religiões pela Paz (RFP) e do Movimento dos Focolares, o encontro iniciou com uma análise sobre a atual realidade ambiental e a forte ligação entre a estabilidade global e as mudanças climáticas. Um fenômeno, este último, que exige um nova tomada de consciência inclusive na ótica da paz mundial, como subentendido no título dado ao evento. E que poderá encontrar soluções graças à sinergia entre pessoas pertencentes aos variados contextos religiosos. É o que desejavam os organizadores do debate, ocorrido no final de julho. Mesmo na variedade de credos, chegou-se à consciência compartilhada de que cada esforço pelo ambiente, quanto mais for feito “juntos” tanto mais terá a sua eficácia. Entre as intervenções, a do reverendo Richard Cizik (New Evangelical Partnership) e do rabino Lawrence Trost, especialista em bioética, que afirmou que “até 2050 poderemos ter 50 milhões de refugiados climáticos, com graves consequências sobre a convivência pacífica entre os povos”. Palavras reafirmadas por Asma Mahdi, oceanógrafo e membro da Green Muslims, ao evidenciar que são precisamente os países de maioria islâmica os mais vulneráveis. “Em Bangladesh, por exemplo, se o nível do mar continuar a crescer, até 2050 17% do território estará alagado, obrigando 18 milhões de pessoas a procurarem outro lugar”. Cifras alarmantes, assim como a de algumas ilhas da Polinésia em risco de submersão.
Entre os relatores estava ainda D. Joseph Grech, da Representação da Santa Sé junto à ONU, que citando algumas passagens da encíclica do Papa Francisco “Laudato si”, salientou como economia e ecologia caminham lado a lado, justamente porque qualquer ação nossa tem sempre um impacto sobre a natureza. A mesma opinião foi declarada por três pesquisadores ambientais, de três diferentes universidades americanas, Robert Yantosca (Harvard), Valentine Nzengung (Georgia) e Tasrunji Singh (Ohio), segundo os quais as respectivas convicções religiosas tornaram-se um fator motivador e de orientação no compromisso científico a favor do ambiente.
“Sair” foi a palavra-chave que conduziu a segunda parte do encontro, e que permitiu delinear uma série de comportamentos a serem atuados. John Mundell, dos Focolares, proprietário de uma sociedade de consultoria ambiental, mostrou uma panorâmica de iniciativas, dentre as quais o “Dado da Terra”, que traz em seus seis lados sugestões válidas para o cotidiano, para renovar e conservar um ambiente sadio. Houve ainda a visita a projetos de recuperação, na vizinha Reserva Federal Esuarine. Aaron Stauffer, diretor executivo da RFP, afirmou na conclusão: “Foi um testemunho do poder da cooperação multireligiosa e da paz”. E Raiana Lira, brasileira que está concluindo o doutorado em ecologia: “Experimentamos ter ao menos duas coisas em comum: um intenso interesse pela sustentabilidade do planeta e uma crença religiosa que nos oferece as motivações corretas para cuidar dele. Cada um de nós veio com suas convicções e ideias pessoais, agora encontramo-nos unidos no objetivo comum: a tutela da terra e dos seus habitantes”.
Ago 8, 2015 | Focolare Worldwide
Genebra, Rua Montbrillant, número 3. Assim como toda sexta-feira, vou ao Jardim de Montbrillant, um lugar de acolhida e de encontro para pessoas necessitadas desta cidade cosmopolita, onde é possível também tomar refeições. Hoje, como todos os dias, acolhemos cerca de 150 pessoas de várias nacionalidades. A sala já estava repleta e tudo parecia transcorrer da melhor maneira. Entre os frequentadores deste grupo tão variado eu sempre noto alguma pessoa que vem pela primeira vez. A minha função é a de encontrar um lugar para cada um, negociar com um e outro para que aceite alguém ao seu lado, evitar que surjam tensões e que exista a serenidade durante as refeições, o que nem sempre é fácil considerando o estado físico e psicológico da maior parte dos nossos hóspedes. Mas, o meu interesse é especialmente conseguir suscitar um contato fraterno, confortar quem parece triste, deprimido, escutar quem se sente angustiado, doar outra vez a esperança… Em outros termos, criar uma atmosfera de família para que todos se sintam amados assim como são, indo além da diferença de idade, nacionalidade e religião. Enquanto estamos à mesa, a porta da sala se abre e entram três dos nossos amigos árabes acompanhados por duas pessoas que não conhecíamos. Notei, imediatamente, a expressão dura e ameaçadora estampada no rosto deles. Assim que entraram, gritaram que iriam degolar todos os presentes e incendiar o local. O motivo: sentem-se gravemente ofendidos pelas caricaturas do Profeta, publicadas pela imprensa nos dias precedentes, notícia principal dos jornais. Imediatamente a atmosfera tornou-se tensa e começaram os propósitos de violência. Imaginei que logo os pratos seriam atirados e começariam os golpes. É necessário intervir urgentemente para que a situação não se torne ainda mais grave. Mas o que dizer, o que fazer? Sinto-me impotente, mas, reconheço neste grande sofrimento e na nossa sociedade que defende a absoluta liberdade, em detrimento dos valores profundos, o grito do Homem-Deus na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”. É ele que agora se apresenta, por meio da reação dos dois seguidores do Islã. Coloco a situação nas mãos deste Deus e levanto-me para ir até eles. Digo-lhes que compartilho do sofrimento deles e proponho que conversássemos, após a refeição, se eles quisessem também almoçar. Diante da minha atitude desarmada, eles se convenceram a sentar-se e, de imediato, a agressividade dissolveu-se e voltou a reinar a tranquilidade, como se cada um tivesse compreendido as motivações que determinaram aquela explosão de raiva. O almoço termina na calma. Permaneço ao lado daqueles dois, para que sintam a acolhida que posso oferecer-lhes. Depois do almoço eles pedem desculpas pelas palavras ditas antes e manifestam o próprio arrependimento por terem expressado propósitos de vingança. Depois, conversamos ainda sobre a nossa respectiva fé, no mais completo respeito e na compreensão recíproca. Antes de ir embora eles me abraçaram agradecidos pela minha atitude de escuta. Os semblantes deles, já mais serenos, expressam sentimentos diferentes daqueles de antes. (Paquita Nosal – Genebra, Suíça). Fonte: Città Nuova – n.13/14 – 2015
Ago 3, 2015 | Focolare Worldwide, Senza categoria
Baobá é um dos muitos centros de acolhida aos refugiados, nos arredores da Estação Tiburtina, em Roma. Acolhe cerca de 400 pessoas da Eritreia, Somália e Sudão, jovens homens e mulheres, cristãos e muçulmanos. «Lá existe um feliz, caloroso, livre, caótico e anárquico voluntariado “autoconvocado” – conta S. –, cada um chega, vê o que é preciso fazer, ajuda, chama os amigos… funciona muito bem! Com o consenso dos responsáveis pelo Banco Alimentar de Roma, junto com um jovem que coordena todo o voluntariado do Centro Baobá, fomos a Fiano Romano – uma cidade muito próxima – e carregamos mais de uma tonelada de ótimos alimentos (macarrão, açúcar, carne enlatada, 600 iogurtes, caixas de óleo, 120 abacaxis, 30 caixas de pêssegos, 100 pedaços de queijo parmesão, e muito mais). Às 10 horas da manhã o calor já era de quase 40º ! Chegamos ao centro por volta de 13 horas e na fila do almoço já havia pelo menos 500 rapazes e moças, organizados e pacientes, na maioria da Eritreia, todos provenientes daquelas famigeradas barcaças que vemos no telejornal. Naquela hora os graus eram pelo menos 42! Em 10 minutos, os rapazes, sem que ninguém precisasse pedir, fizeram uma fila e descarregaram o caminhão, muito ordenadamente, levando todo o material para o depósito. Ninguém pegou nem um iogurte ou um refrigerante! Tudo foi colocado rigorosamente em seu lugar. Depois, todos voltaram para a fila do almoço. Eu também recebi um prato que compartilhei com eles, cheio de alegria. O centro de acolhida não pensa somente na assistência, mas principalmente no envolvimento e na integração dos próprios refugiados. Isso garante o respeito da dignidade de cada uma e cada um daqueles que são acolhidos. Muitos, logo que podem, vão se reunir a parentes e amigos em outros países da Europa. A fila de cidadãos romanos que levam ajudas de todos os tipos é constante, e até comovente. Chegam tantas ajudas que frequentemente levamos caixas a outros centros de assistência. Enquanto eu estava lá, apertando muitas mãos para travar conhecimentos, chegou a primeira menina nascida de uma jovem refugiada acolhida no Centro. Chegou do hospital com vinte dias de vida. Médicos, enfermeiros, voluntários, todos em volta querendo ao menos vê-la e sorrir para ela. Um sinal de como a vida prossegue, sempre. Voltei para casa cansado, suado como nunca antes… mas no coração a na alma uma alegria muito especial, uma serenidade impagável, a verdadeira recompensa por um pequeno gesto em favor daquelas maravilhosas criaturas que nesse momento são chamadas “refugiados”. No final do mês já combinamos fazer uma outra carga. Além disso, por intermédio de um amigo cuja família gerencia cinco supermercados, organizamos uma coleta periódica dos produtos que irão sair da validade em breve, e que levados ao Centro poderão ser consumidos em poucos dias. Agradeço aos refugiados da Eritreia e aos voluntários do Campo Baobá por me terem dado a oportunidade de viver um momento verdadeiramente belo, precioso, que com certeza se repetirá nos próximos dias e no futuro. Sinto-me um privilegiado e o sou realmente!». (S.D. – Itália)