Movimento dos Focolares
Natal na Síria

Natal na Síria

20151221-01«A vida de cada dia varia, porque o perigo é variável. Em alguns dias não acontece nada e você pode esquecer que existe a guerra. Em outros dias pode acontecer que quando você está indo para o trabalho, seja atingido por balas perdidas, ou que haja combates em andamento ou até mesmo bombas caindo sobre as pessoas e sobre bairros civis». Quem fala é Pascal, libanês, do Focolare de Aleppo, que vive na Síria há alguns anos. Apesar da guerra. «Como estamos nos preparando para o Natal? Tanto em Aleppo, quanto em Kafarbo, ou em Damasco, as nossas comunidades pensaram sobretudo nas crianças, porque as famílias, apesar de ser uma festa importante e muito expressiva na Síria, não conseguem mais viver a alegria do Natal. Assim os jovens fizeram muitas atividades para angariar fundos que, unidos às ajudas recebidas do exterior, permitiram que se ampliasse o projeto deles de dar novamente o sentido do Natal às crianças e às suas famílias. Em Aleppo, por exemplo, se fará uma festa para umas 70 famílias, em Kafarbo serão feitas visitas às casas em pequenos grupos, levando presentes e alimentos. Em Damasco, onde existem mais possibilidades, organizaram um concerto de Natal e, neste meio-tempo, farão visitas às famílias levando alimentos e presentes junto com cantos e brincadeiras…». E nestes últimos meses, com a escalada de violência, vocês, focolarinos, nunca repensaram na escolha de permanecer na Síria? «Não, nunca. É muito importante a presença do Focolare! Apenas a presença, mesmo sem fazer nada. É um sinal de que todo o Movimento no mundo está com eles, com o povo sírio. Não sei como explicar… Nós não somos obrigados a ficar, poderíamos até ir embora. Mas nestes anos compartilhamos tantas peripécias que eles sentem que fazemos parte deles e nós os sentimos parte de nós. As razões não são racionais, mas afetivas, do coração, porque para encontrar a força para ficar em lugares como Aleppo, não existe nada de racional. Inclusive as famílias sírias que permanecem, fazem isso pela ligação que têm com a terra delas, com a sua gente, pois tudo poderia dizer: vá! Lá, dia após dia, as coisas se reduzem cada vez mais, falta o futuro, sobretudo o de seus filhos. Vi alguns ficarem por uma escolha de amor, para dar testemunho. Por exemplo, para levar em frente uma escola para as crianças surdo-mudas, por todo o bem que esta escola faz. Viver pelos outros dá a você o sentido da existência, dá sentido ao seu ser».

Recebi misericórdia

Recebi misericórdia

4196-Copert.inddUm dos primeiros a criticar a política do Terceiro Reich, Bonhoeffer se encontra nos Estados Unidos quando explode a Segunda Guerra mundial. Retorna à pátria para sofrer com a sua gente, embora consciente do risco que enfrenta possuindo um espírito livre e um forte senso de justiça. Teólogo e pastor luterano, morre num campo de concentração, em Flossenbürg, no dia 9 de abril de 1945, condenado pela sua oposição ao regime nazista. Nós o recordamos com este breve pensamento sobre a misericórdia, publicado em La fragilità del male, raccolta di scritti inediti”. (A fragilidade do mal, coletânea de escritos inéditos). «Todos os dias a comunidade cristã canta: “Recebi misericórdia”. Tive esta dádiva inclusive quando fechei o meu coração para Deus; quando empreendi o caminho do pecado; quando amei as minhas culpas mais do que a Ele; quando encontrei miséria e sofrimento em troca do que cometi; quando me perdi e não encontrei o caminho do retorno. Então foi a palavra do Senhor que veio ao meu encontro. Então entendi: ele me ama. Jesus me encontrou: esteve ao meu lado, somente Ele. Deu-me conforto, perdoou todos os meus erros e não me culpou pelo mal. Quando eu era seu inimigo e não respeitava os seus mandamentos, me tratou como um amigo. Quando o machuquei, me retribuiu só com o bem. Não me condenou pelos delitos cometidos, mas me buscou incessantemente e sem rancor. Sofreu por mim e morreu por mim. Suportou tudo por mim. Ele me venceu. O Pai reencontrou o seu filho. Pensemos em tudo isso quando entoamos aquele canto. Esforço-me em compreender porque o Senhor me ama assim, porque eu lhe sou tão querido. Não posso entender como ele conseguiu e quis vencer o meu coração com o seu amor, só posso dizer: “Recebi misericórdia”». Dietrich Bonhoeffer,La fragilità del male, raccolta di scritti inediti”.( A fragilidade do mal, coletânea de escritos inéditos) (Piemme, 2015)

Nova Iorque: conferência sobre a sociedade da informação

Nova Iorque: conferência sobre a sociedade da informação

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Durante os trabalhos da Assembleia

Um balanço, 10 anos após o Summit Mundial sobre a Sociedade da Informação (Tunísia, 2005): construir uma sociedade da informação centralizada na pessoa, inclusiva e orientada ao desenvolvimento, contribuir para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, encontrar formas de financiamento adequadas a um desenvolvimento équo das infraestruturas de comunicação, individualizar mecanismos comuns e eficazes de gestão da internet. Como avançamos neste último decênio? Foi esta a questão que a Assembleia Geral das Nações Unidas procurou responder no Meeting dedicado ao “WSIS+10”, sobre a sociedade da informação, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, dias 15 e 16 de dezembro passado. O trabalho de avaliação foi complexo, com a contribuição de muitos analistas, e produziu um documento final adotado, por unanimidade, pelas delegações dos vários países. Conversamos com o engenheiro Cesare Borin, da delegação de New Humanity, ONG ligada ao Movimento dos Focolares, que participou do Fórum. «A partir do WSIS de Genebra (2003) e Tunísia (2005) o trabalho da ONU adotou uma abordagem aberta à colaboração de vários atores, inclusive a sociedade civil, da qual New Humanity é parte, o setor privado, os governos e as organizações internacionais. Já na Tunísia havíamos participado com um grupo de NetOne, em colaboração com os projetos experimentais de ESA e Alcatel; New Humanity foi responsável pela tradução, em italiano e português, do documento final. Nos anos sucessivos participamos de vários IGF (os fóruns sobre o governo da Internet, que iniciaram justamente do WSIS), sempre representando New Humanity, estabelecendo contatos com muitas pessoas».
WSIS+10_C

Com Fadi Cheadè, presidente da ICANN (no centro), organização no profit que gerencia a atribuição dos nomes de domínio na Internet

E hoje? Qual a contribuição da New Humanity sobre os temas específicos tratados? «Na nossa delegação éramos seis pessoas: eu, italiano, a brasileira Maria Luiza Bigati, a mexicana Maria del Rocio Ortega, ambas engenheiras de computação, Betsy Dugas, dos Estados Unidos, também engenheira de computação, Joe Klock e Anne Marie Cottone, da representação permanente da New Humanity junto à sede da ONU em Nova Iorque». Nos meses precedentes, New Humanity enviou a sua contribuição ao documento final, este é fruto de uma mediação que reuniu grandes questões atuais, como o terrorismo, a tutela dos direitos humanos, a proteção das liberdades individuais. Colocar em confronto as grandes diferenças de sensibilidade que cada país evidencia, e encontrar um cerne comum compartilhado, representa um grande resultado. O WSIS tornou-se um espaço de diálogo, ainda que árduo, mas que permite distinguir novas formas de “governança”». A ONG internacional New Humanity trabalhou por mais de dez anos em projetos de desenvolvimento das capacidades das comunidades mais pobres da África Subsaariana, da Ásia e da América Latina… «O acesso à informação tornou-se um dos direitos fundamentais do homem do nosso milênio. Poder estar incluídos é importante como responder a necessidades essenciais, como a instrução e a saúde. Nos nossos projetos procuramos ter sempre, como objetivo primário, o envolvimento total das comunidades locais às quais eles são destinados, como uma confirmação de que os princípios expressos não são uma mera esperança».

Nigéria: educação para a paz

Nigéria: educação para a paz

20151215-01O desafio educativo é um dos mais importantes, inclusive da sociedade nigeriana, onde, às vezes, se verificam, entre adolescentes, comportamentos agressivos e as tradições religiosas infundem medo e um sentido de impotência diante do mal. “Um dia – nos conta Christiane – uma mãe não trouxe mais a filha à escola só porque tínhamos pedido para que se cortassem os cabelos das crianças que começavam o primeiro ano do maternal. Uma pessoa, segundo as crenças, dotada do conhecimento dos espíritos, tinha dito a ela que, se cortasse os cabelos da filha, ela morreria. Por isso a menina não veio mais”. Alemã de origem, Christiane colaborou durante muitos anos no setor juvenil dos Focolares. Hoje se dedica ainda às crianças também através do projeto de sustento à distância da associação Famílias Novas, em Igbarian, uma aldeia a 40 km da cidade de Onitsha, no sudeste da Nigéria, onde surge a “escola Fraternidade”. O projeto começou em 1995 quando um grupo dos Focolares, desde a década de 1980, iniciou um processo de promoção humana que através de relacionamentos profundos com as pessoas do lugar e respeitando as tradições locais, também ofereceu oportunidades concretas de desenvolvimento. “Através do amor concreto por algumas crianças nasceu uma atividade extraclasse, e desde então, aos poucos, um jardim de infância e depois uma escola fundamental. Iniciando do maternal se procura dar às crianças uma formação global, as preparando para enfrentar os muitos desafios desta grande nação”. A escola, que surgiu em 2006, hoje acolhe 223 alunos, 75 no jardim de infância e 148 no ensino fundamental. Com o passar do tempo se desenvolveu a participação dos pais no projeto formativo e social que apresenta um método educativo baseado em valores humanos, um estilo pedagógico que crê e respeita a dignidade da criança enquanto pessoa. Reserva-se uma atenção preferencial aos menores, como a que exprime o Evangelho, oferecendo instrumentos novos para um crescimento humano integral das crianças. Por exemplo, se utiliza o “dado do amor”, com o qual alunos e professores procuram viver, ambos, o empenho diário pela paz e pela solidariedade. Nigeria 2É uma novidade porque em muitas escolas nigerianas se considera útil para a correção formativa a prática das punições corporais. A ideia vigente é: “Poupa o açoite, arruína o teu filho” e não é fácil mudá-la. Todavia também “as pesquisas psicológicas atuais demonstram que os efeitos negativos destas medidas corretivas ultrapassam os positivos”, afirma Mrs. Akwobi ella Nwafor Orizu College of Education Nsugbe, entrevistada por “New City Nigeria”, nova edição nigeriana de Cidade Nova nascida recentemente. “Frequentemente as crianças se tornam tensas e agressivas com as punições físicas. Não conseguem criar empatia com o professor e transferem esta rejeição à matéria que ele ensina”. Continua Mrs. Akwobi: “Ao invés, é importante que cheguem a amadurecer a escolha consciente do bem e não só para evitar a punição. O professor deveria se comportar como se tivesse sempre algo a aprender porque o ensinamento é um processo de ida e volta. A escuta, a paciência, a compreensão, favorecem nas crianças o comportamento positivo e trazem benefícios na aprendizagem. Além disso, adotar medidas não violentas ao tratar com as crianças na escola, ajuda inclusive a reduzir o percentual de violência na sociedade. Vemos todos estes princípios educativos atuados na escola Fraternidade na Nigéria”. “Aqui, muitas pessoas partem – conclui Christiane – para buscar uma vida melhor na Europa. O nosso trabalho tem por objetivo ajudar as pessoas a construírem para si no próprio país uma existência vivível. Agradeço por toda ajuda pequena! Serve mais do quanto se possa imaginar para levar adiante as obras sociais e ajudar, com a difusão de uma cultura nova, baseada no Ágape, isto é, no amor cristão, o desenvolvimento deste país”.

Muçulmanos e cristãos: em campo pela fraternidade

Muçulmanos e cristãos: em campo pela fraternidade

20151213DonneMusulmane«Avancem! Vão para frente com coragem no caminho de diálogo e fraternidade, porque somos todos filhos de Deus!». Afirmou com força o Papa Francisco no final do Angelus do dia 13 de dezembro,  dirigindo-se às centenas de pessoas do Movimento dos Focolares e de algumas comunidades islâmicas italianas. Estavam juntos para testemunhar o caminho que percorrem há anos, “cristãos e muçulmanos juntos, construtores de paz”, como escrito na grande faixa, na Praça de São Pedro. Com eles estavam os imãs de Roma, Trieste, Teramo, Catania, mulheres e adolescentes da Mesquita de Centocelle, em Roma, assim como famílias com crianças, professores, jornalistas. Havia cristãos empenhados há muito tempo, ou recentemente, no caminho do diálogo. E havia também uma delegação do movimento budista japonês Rissho Kosei Kai e representantes de Religiões pela Paz e de outras religiões. Após a festa na Praça de São Pedro, tal era a atmosfera que se respirava, as 400 pessoas dirigiram-se à sede da Universidade Augustinianum, a poucas centenas de metros da colunata de São Pedro. O almoço foi um momento para a esperada convivência, havia uma sala de oração para os muçulmanos e houve a Missa para os cristãos. O evento, pela sua originalidade, teve uma vasta repercussão na imprensa.

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Da esquerda: Imã Naher Akkad, Antonio Olivero, Michele Zanzucchi, padre Egidio Canil

Vincenzo Buonuomo, jurista, especialista em liberdade religiosa, ordinário de direito internacional na Universidade Pontifícia Lateranense, iniciou a tarde com uma panorâmica geopolítica: «A guerra é a única resposta que a Europa foi capaz de dar à ação terrorista», afirmou, «quando existem outros instrumentos – as negociações, o acordo entre os países da área, o diálogo – certamente mais árduos, mas sem dúvida também mais eficazes a médio e a longo prazo». Igualmente incisivas as declarações do Imã de Catania, Abdelhafid Kheit (membro da diretoria do UCOII, União das Comunidade Islâmicas da Itália), que poucas horas antes havia atravessado a Porta Santa da Misericórdia junto com os amigos cristãos. «Nem todos acreditam que a diversidade é uma riqueza, mas foi o Senhor Deus que nos fez diferentes, de outra forma seríamos uma comunidade única». Investir na educação à paz é o convite de associações católicas italianas, o que exprime o apoio a este claro desafio de diálogo. Nesta direção sopra o “espírito de Assis”, manifestado com a presença do padre Egidio Canil, franciscano do Sagrado Convento, que exortou a «também hoje atravessar os exércitos – como São Francisco no tempo das cruzadas, para ir contra o sultão – e levar a paz». E depois uma imersão na experiência real, com as palavras de imãs e cristãos, de várias cidades italianas, que deram seu testemunho de vida. O imã de Centocelle, Mohamed Ben Mohamed, conta com o compromisso dos jovens – muitos ali presentes – para “vencer a guerra contra o mal”; Cenap Aydin, diretor do Instituto Tevere, exclama com alegria: «hoje também o Papa uniu-se a nós!». Seguem os depoimentos do Centro La Pira, de Florença, que desde 1978 é lugar de acolhida fraterna para quem provém de outros países e de encontro entre culturas diferentes, da comunidade de Trieste, contada pelo imã Naher Akkad, da iniciativa “Diversos mas UM”, que nasceu 20 anos atrás e está presente em toda a região do Abruzzo, testemunhada pelo imã Mustapha Batzami, e da comunidade de Catânia onde o diálogo entre muçulmanos e cristãos, concretizado há muito tempo (aulas de reforço na mesquita, encontros entre as famílias…), levou a dois momentos públicos de grande relevo, como narrado também por Giusy Brogna, referência dos Focolares, na Itália,  para o diálogo com o islã.
20151214GiovaneSiriano

Amjad Zedan, estudante sírio do Instituto Universitário Sophia

A presença de Amjad Zedan, jovem estudante sírio do Instituto Universitário Sophia, e de Pascal Bedros, libanês residente em Aleppo, juntamente com o gelo da guerra trouxe à plateia aquele fio de esperança de quem crê que «apesar de ser quase tarde demais, a situação ainda pode mudar», e a advertência ao Ocidente que não entendeu quanto a aposta seja perigosa. O pacto de proximidade e colaboração, firmado pelo Movimento dos Focolares e as comunidades islâmicas na Itália, concluiu o dia, convidando ao empenho cotidiano com uma responsabilidade assumida «para que ninguém fique resignado diante de situações de convivência que parecem difíceis», mas trabalhe pela «rejeição inequívoca da violência» e por uma religião que seja «fonte de coesão social e de paz».

Economia de comunhão: a versão de quem recebe

Economia de comunhão: a versão de quem recebe

20151214-01É impressionante descobrir que no mundo não existem apenas exploração, concorrência desleal e jogos de interesses. Existem, por exemplo, empresários como aqueles que aderem ao projeto por uma Economia de Comunhão (EdC) – são cerca de mil no mundo – que mirando ao objetivo de obter um lucro que garanta vitalidade e continuidade à própria empresa, querem viver a ‘cultura da partilha’, segundo as finalidades do projeto: a ajuda aos pobres e a formação das novas gerações segundo essa cultura. Para que isso se realize, colocam à disposição do projeto, livremente, uma parte dos seus lucros. Socorro e Gomes, brasileiros, vivem em Taguatinga, cidade do Distrito Federal. Já têm seis filhos quando ele, por causa da dependência do álcool perde o emprego. Para manter a família ela trabalha como empregada doméstica, mas o que ganha é pouquíssimo e os filhos, que ficam em casa sozinhos, desorientam-se, a tal ponto que o maior, ao chegar na adolescência, envolve-se com as drogas. É nesse momento que chega a primeira ajuda por parte dos Focolares: a inclusão do jovem na Fazenda da Esperança, uma comunidade de recuperação animada pela espiritualidade do Focolare. A família também enfrenta o problema ‘casa’. Não conseguem pagar as prestações do empréstimo que receberam e correm o risco de ter que entregar a moradia, apesar de ser decadente e totalmente insuficiente para uma família tão numerosa. Este problema também é apresentado à Comissão EdC da região. Após uma atenta análise, oferecem à família um empréstimo para cobrir a dívida atrasada. O valor poderá ser devolvido no tempo segundo as possibilidades da família. Enquanto isso, Gomes começa a trabalhar, mas por causa do seu problema com o álcool não consegue continuar. São tempos difíceis para eles. Ao grave problema econômico acrescentam-se suspensões, brigas e falta de diálogo. No meio de todas estas dificuldades, ele também sobre um infarto. Quando menos esperam, a Socorro recebe a oferta de um trabalho fixo como doméstica na casa de um cardeal, que regulariza toda a sua situação trabalhista e paga um salário justo. Um dia, o cardeal vai visitar a família e tem uma conversa importante com Gomes, que decide deixar o álcool e mudar de vida. A seguir recebem também a visita de dois integrantes da Comissão EdC, para uma verificação da situação da casa. Depois de certo tempo, propõe-se a inserção da família no programa Habitação, que dentro do projeto EdC prevê o restabelecimento e a restruturação de alojamentos de famílias extremamente pobres. «Quando recebi esta notícia – confessa Socorro – senti uma grande emoção. Tinha a sensação que fosse Deus mesmo a dar-nos esta possibilidade». O trabalho de restruturação é realizado em grande parte por pessoas da comunidade dos Focolares, algumas das quais trabalham das 5:30 da manhã às 19h. Agora a casa conta com uma sala, um banheiro, o quarto do casal, um quarto para as meninas e outro para os rapazes. Viver numa casa com tais requisitos ajuda reencontrar a própria dignidade. Gomes, agora totalmente recuperado, parece uma outra pessoa. As duas filhas maiores, graças a uma bolsa de estudo, frequentam a universidade. «Vendo as filhas tão empenhadas em estudar – conta Gomes – também senti o impulso de me inscrever num curso para adultos para ter o diploma do nível médio». Apesar de não estudar há 38 anos, ele quer vencer este desafio. Durante as aulas aprende a superar a vergonha de sentir-se velho, e com força de vontade consegue. Quando participa nos concursos para o Banco de Brasília e para o Ministério do Turismo, consegue classificar-se entre os primeiros 200 lugares e agora é funcionário do banco.