Movimento dos Focolares

Papa Francisco: a Igreja é o Evangelho

Abr 26, 2025

Uma reflexão do teólogo Piero Coda

Um Papa que sonhou e nos fez sonhar… o quê? Que – ele mesmo disse certa vez – “a Igreja é o Evangelho”. Não no sentido de que o Evangelho seja propriedade exclusiva da Igreja. Mas no sentido de que Jesus de Nazaré, aquele que foi crucificado fora do acampamento como um maldito e que Deus Abba, em vez disso, ressuscitou dos mortos como o Filho primogênito entre muitos irmãos e irmãs, continua aqui e agora, por meio daqueles que se reconhecem em seu nome, a levar a boa nova que o Reino de Deus chegou e está chegando… para todos, a começar pelos “últimos” que são abraçados pelo Evangelho, por aquilo que são aos olhos de Deus: os “primeiros”. De verdade, e não apenas como uma figura de linguagem. Esse é o Evangelho que a Igreja anuncia e contribui para que se torne história, à medida que ela é transformada pelo Evangelho. Como aconteceu, desde o princípio, com Pedro e João que, subindo ao templo, encontraram um homem coxo de nascença junto à porta chamada “Formosa”. Os dois olharam bem para ele, que por sua vez fixou o olhar neles. Pedro, então, lhe disse: “Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!”.

O Evangelho de Jesus e a missão da Igreja. Doar-se totalmente para que se levantem e andem. É assim que o Pai nos imagina, nos quer e nos acompanha. Jorge Maria Bergoglio – com toda a força e fragilidade da sua humanidade, que fez com que o sentíssemos como um irmão – dedicou a sua vida e o seu serviço como Bispo de Roma a isso. Foi assim desde aquela primeira aparição na sacada da Basílica de São Pedro, quando se inclinou e pediu que o Povo de Deus invocasse para ele uma bênção, até a última, no dia de Páscoa, quando, com voz fraca, transmitiu a bênção de Cristo ressuscitado, indo depois à praça para cruzar o seu olhar com o olhar do povo. O seu sonho era o de uma Igreja “pobre e dos pobres”. No espírito do Vaticano II, que chamou a Igreja ao seu único modelo, Jesus: que “esvaziou a si mesmo, tomando a forma de servo”.

O nome Francisco, que ele escolheu, revela a alma daquilo que queria fazer e, antes de tudo, ser: uma testemunha do Evangelho “sine glossa”, isto é, sem comentários e sem acomodações. Porque o Evangelho não é um enfeite, nem um paliativo, nem um analgésico: é um anúncio de verdade e de vida, de alegria, de justiça, de paz e fraternidade. Eis o programa de reforma da Igreja na Evangelii gaudium, e eis os manifestos de um novo humanismo planetário na Laudato sì e na Fratelli tutti. Eis o Jubileu da misericórdia e o Jubileu da esperança. Eis o documento sobre a fraternidade universal assinado em Abu Dhabi com o grande Imã de Al Ahzar, e eis as inúmeras oportunidades de encontro vividas com membros de diversos credos e convicções. Eis o trabalho incansável em defesa dos descartados, dos migrantes, das vítimas de abuso. Eis a rejeição categórica da guerra.

Para Francisco tinha bem claro que não basta proclamar novamente o Evangelho, com toda a sua carga subversiva, no complexo e até contraditório Areópago do nosso tempo. É preciso algo mais: porque não estamos apenas em uma época de mudança, mas estamos no meio da transição de uma mudança de época. Precisamos olhar com olhos novos. Aquele com que Jesus nos olhou e nos olha, a partir do Pai. O olhar que, com tons ternos e sinceros, é descrito no seu testamento espiritual e teológico, a encíclica Dilexit nos. É o olhar – simples e radical – de amar o próximo como a si mesmo e de nos amarmos uns aos outros em uma reciprocidade livre, gratuita, hospitaleira, aberta a todos, a todos, a todos. O processo sinodal para o qual a Igreja Católica foi convocada – e, por sua vez, todas as demais Igrejas – indica o caminho a seguir neste nosso terceiro milênio: para além de uma figura clerical, hierárquica, masculina da Igreja… Um caminho novo que é tão antigo quanto o Evangelho. Um caminho difícil, fatigante e cheio de obstáculos. Mas uma grande profecia, confiada à nossa responsabilidade criativa e tenaz.

Obrigado, Francisco! O seu corpo agora repousará ao lado Daquela que o acompanhou passo a passo, como mãe, na sua santa viagem. Você, com Ela, acompanhe agora todos nós, do seio de Deus, no caminho que nos espera.

Piero Coda

Foto: © CSC Audiovisivi

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