Movimento dos Focolares

Qual é a utilidade da guerra?

Nov 8, 2024

Citamos um trecho do famoso livro escrito por Igino Giordani em 1953 e publicado novamente em 2003: A inutilidade da guerra. "Se você quer paz, prepare a paz": a lição política que ele nos oferece nesse volume pode ser resumida no aforismo citado.

A paz é o resultado de um projeto: um projeto de fraternidade entre os povos, de solidariedade com os mais fracos, de respeito mútuo. É assim que se constrói um mundo mais justo, é assim que se exclui a guerra por ser uma prática bárbara, que pertence à fase obscura da história da humanidade. Muitos anos se passaram desde a primeira publicação desse escrito, que ainda hoje é muito atual, em um momento em que o mundo está sendo dilacerado por conflitos brutais. A história, diz Giordani, pode nos ensinar muito.

A guerra é um homicídio em grande escala, revestido de uma espécie de culto sagrado, como era o sacrifício dos primogênitos ao deus Baal; e isso por causa do terror que incute, da retórica com que se veste e dos interesses que implica. Quando a humanidade tiver progredido espiritualmente, a guerra será catalogada ao lado dos rituais sangrentos, das superstições da feitiçaria e dos fenômenos de barbárie.

É para a humanidade o que a doença é para a saúde e o que o pecado representa para a alma: é destruição e massacre, que afeta a alma e o corpo, os indivíduos e a comunidade.

Segundo Einstein, o homem teria necessidade de odiar e de destruir: e a guerra o satisfaria. Mas não é assim: a maioria dos homens, povos inteiros, não demonstram essa necessidade ou a reprimem. A razão e a religião ainda a condenam.

“Todas as coisas desejam a paz”, de acordo com são Tomás. Na verdade, todas anseiam pela vida. Somente os loucos e os incuráveis podem desejar a morte. E a morte é a guerra. Não é desejada pelo povo; é desejada por minorias, para as quais a violência física serve para garantir vantagens econômicas ou, também, para satisfazer paixões degradantes. Especialmente hoje, com o custo, as mortes e as ruínas, a guerra se manifesta como uma “matança inútil”. Massacre e, além disso, inútil. Uma vitória sobre a vida e que está se tornando um suicídio da humanidade.

[…] A engenhosidade humana, destinada a finalidades bem diferentes, inventou e introduziu hoje instrumentos de guerra de tal poder que horrorizam a alma de qualquer pessoa honesta, especialmente porque não atingem apenas os exércitos, mas muitas vezes atingem a população civil: crianças, mulheres, idosos, doentes, bem como os edifícios sagrados e os mais ilustres monumentos de arte! Quem não se horroriza com a ideia de que novos cemitérios serão adicionados aos tão numerosos do recente conflito e que novas ruínas fumegantes de periferias e cidades se acrescentarão a outros tristes escombros? Quem não treme ao pensar que a destruição de novas riquezas, consequência inevitável da guerra, pode agravar ainda mais a crise econômica, que aflige quase todos os povos, especialmente as classes mais humildes? » [1]. […]

A inutilidade foi reiterada por Pio XII, em 1951: “Todos manifestaram com a mesma clareza enérgica seu horror à guerra e sua convicção de que esta não é, e hoje menos do que nunca, um meio adequado para resolver conflitos e restaurar a justiça. Somente acordos livres e leais podem ter sucesso nisso. Que se pudesse ser uma questão de guerras populares – no sentido de que elas respondem aos desejos e à vontade do povo – o único caso possível seria de uma injustiça tão flagrante e tão destrutiva dos bens essenciais de um povo a ponto de revoltar a consciência de uma nação inteira. [2].

Assim como a peste serve para infeccionar e a fome para fazer morrer de fome, a guerra serve para matar; além disso, destrói os meios de subsistência. É uma indústria funerária: uma fábrica de ruínas.

Só um louco pode esperar obter benefício de um massacre: saúde de um colapso, energia de uma pneumonia. O mal produz o mal, como a tamareira produz a tâmara. E a realidade mostra, inclusive nesse campo, a inconsistência prática do aforismo maquiavélico segundo o qual “o fim justifica os meios”.

O fim pode ser a justiça, a liberdade, a honra, o pão, mas os meios produzem tal destruição do pão, da honra, da liberdade e da justiça, além de vidas humanas, incluindo as das mulheres, das crianças, dos idosos, dos inocentes de toda a espécie, que anulam tragicamente o próprio fim proposto.

Enfim, a guerra não serve para nada, exceto para destruir vidas e riquezas.

Igino Giordani, L’inutilità della Guerra, Città Nuova, Roma, 2003, (terza edizione), p. 3
da https://iginogiordani.info/

Fotos: © Pixabay y CSC Audiovisivi

[1] Pio XII, “Mirabile illud”, 1950.
[2] Discurso ao Corpo Diplomático, 1-1-1951.

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

Novidades editoriais: um jardim magnífico

Novidades editoriais: um jardim magnífico

Os religiosos na história do Movimento dos Focolares: uma contribuição para a difusão do carisma da unidade contada nas páginas do livro publicado pela editora Città Nuova.

Com fortes compromissos assumidos, Raising Hope chegou ao fim

Com fortes compromissos assumidos, Raising Hope chegou ao fim

Cerca de 1.000 participantes de 80 países reuniram-se nesta conferência sem precedentes em Castel Gandolfo, Roma, para celebrar os dez anos da encíclica Laudato Si’ e debater questões controversas relacionadas à crise climática.